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sábado, 17 de março de 2012

Comércio eletrônico vive batalha invisível

Valor Econômico
 
Passada a corrida inicial para abrir lojas na internet, uma nova disputa está em curso no comércio eletrônico, embora seja praticamente invisível para o consumidor. É a disputa pelas chamadas plataformas de e-commerce - os sistemas básicos para a criação de lojas virtuais. É sobre essa base que os varejistas on-line acrescentam sistemas de segurança, certificação, pagamento digital, carrinhos virtuais e outras funções, sem as quais uma loja pode ficar esquecida no palheiro digital.

Companhias internacionais do porte da IBM, da Microsoft e da Oracle estão investindo para conquistar uma fatia desse mercado no Brasil. Muitas empresas nacionais também perceberam a oportunidade e preparam-se para ingressar na área.

É o caso do BuscaPé. Criada no Brasil e hoje controlada pelo grupo sul-africano Naspers, a empresa fechou um acordo com a brasileira Jet e-Commerce para oferecer plataformas de comércio eletrônico a micro, pequenas e médias empresas de varejo on-line.

Como parte do acordo, as empresas desenvolveram em conjunto a plataforma Jet ONE. O sistema é composto por módulos que incluem controle de produtos, ferramentas de marketing e serviços de gestão da loja virtual. A plataforma será integrada a outros serviços que o BuscaPé oferece, como o de comparação de preços, carro-chefe da companhia; o de pagamento digital; e o e-bit (classificação e análise do comércio eletrônico).

A busca pelas plataformas de e-commerce é reflexo da sofisticação crescente dessa atividade. "O comércio eletrônico tornou-se um negócio complexo. O objetivo, com as ferramentas, é simplificar a tecnologia para os empresários pequenos e médios, reduzindo a barreira de entrada, que é de ordem tecnológica", afirma André Ghion, vice-presidente de alianças de negócios do BuscaPé.

Ghion estima que existam no mercado brasileiro entre 500 mil e 1 milhão de micro, pequenas e médias empresas com potencial para ter uma operação on-line. Trata-se de um público potencial nada desprezível para fornecedores de tecnologia para comércio eletrônico.

A americana Oracle adquiriu a Art Technology Group (ATG), especializada em softwares de comércio eletrônico em 2010, e trouxe a tecnologia para o Brasil no ano passado. Sem citar números, Jorge Toledo, diretor de pré-vendas de aplicativos da Oracle, afirma que a companhia reforçou a equipe de vendas e de engenharia de software e fechou parcerias para elevar as vendas. "O Brasil é um mercado altamente favorável e estratégico para os planos da Oracle de crescer nessa área", diz Toledo.

O mercado brasileiro de comércio eletrônico movimentou R$ 19 bilhões no ano passado e cresce, em média, 35% ao ano, segundo dados de mercado. "Seguindo nesse ritmo, em três anos o movimento pode chegar a R$ 50 bilhões. Há muito espaço para crescer", diz Toledo. No alvo da Oracle estão companhias de comércio eletrônico de grande e médio portes, que começam a substituir as plataformas que possuem por tecnologias mais avançadas. Há dez anos, diz o executivo, muitas empresas adotaram tecnologias mais simples, porque não sabiam se o varejo virtual daria certo. "Agora, eles já conseguem prever aonde podem chegar e estão dispostos a investir mais."

A gigante japonesa de serviços on-line Rakuten também planeja aproveitar o comércio eletrônico aquecido para expandir a atuação no Brasil. A companhia adquiriu, no ano passado, 75% da brasileira Ikeda, de serviços de comércio eletrônico para varejistas. Alessandro Gil, diretor de marketing e novos negócios da Rakuten Brasil, afirma que, em 2011, a empresa cresceu 44% em número de clientes e em receita, chegando a 137 grupos de varejo virtual - todos de grande e médio portes. Para este ano, a expectativa é obter 50 novos clientes.

"Há uma tendência de crescimento do comércio eletrônico no país, com o surgimento de grandes varejistas nas áreas de moda, móveis, eletroeletrônicos e outros mercados segmentados", afirma Gil, da Rakuten. Além das novas varejistas on-line, também cresceu a demanda de empresas interessadas em substituir a tecnologia que detêm atualmente, diz Gil.
Entre as gigantes internacionais, a Microsoft demonstrou interesse em atrair clientes de todos os portes, incluindo microempresas. A companhia oferece plataformas de comércio eletrônico por meio do Azure, serviço que possibilita o desenvolvimento e o uso de softwares e outras aplicações por meio da nuvem, um modelo pelo qual as informações são armazenadas em centros de dados que podem ficar a quilômetros de distância. O acesso é via internet.

O serviço começou a ser testado no país em 2008 e foi lançado comercialmente em 2010. Luciano Condé, gerente de plataforma do Azure da Microsoft, afirma que a demanda está aquecida neste ano, mas prefere não divulgar estatísticas sobre o Brasil. "Muitas companhias têm preferido migrar sua plataforma de comércio eletrônico de centros de dados tradicionais para serviços na nuvem", afirma. Segundo o executivo, o interesse vai de empresas novatas a companhias bilionárias de varejo.

Já a IBM tem como estratégia reforçar a participação no segmento de pequenas e médias empresas de comércio eletrônico. Tradicionalmente, a companhia atende grandes varejistas, como as americanas Staples e Home Depot. "Essa é a faixa do mercado que cresce em ritmo mais acelerado e é o foco da companhias para os países do BRIC", afirma Enio Garbin, responsável na América Latina pela área de soluções para varejo digital da IBM. Como parte da estratégia, a multinacional reforçará a oferta desses softwares como serviço.

Para a Jet e-Commerce, que até então atuava no mercado de comércio eletrônico para grandes e médias empresas, o lançamento do software, em parceria com o BuscaPé, permitirá ganhar escala no curto prazo. "Essa união permitirá à Jet ganhar escala, competindo em um segmento de mercado em que ainda não atuava", afirma, afirma Luiz Mário Lunardi, diretor geral da JET e-Commerce. A Jet possui em torno de 200 clientes de grande porte. O BuscaPé informa atender a 650 mil empresas nos diferentes serviços de comércio eletrônico que oferece.

A disputa pelas pequenas e microempresas promete ser particularmente acirrada. Microsoft, Jet e BuscaPé vão competir com a Tray, que possui 4,5 mil clientes desse porte. Em janeiro, a Tray desenvolveu uma plataforma para microempresas e pretende dobrar o número de clientes no ano com a nova tecnologia, além de dobrar a receita, para R$ 20 milhões, afirma Walter Leandro Marques, executivo-chefe da Tray.

Marques diz que as 20 maiores empresas de comércio eletrônico respondem por 60% das transações no Brasil, mas a expectativa é que esse percentual caia para 50% até 2015. Os pequenos varejistas representam 8% do comércio eletrônico, com estimativa de passarem a 20% em três anos. "O segmento de pequenos varejistas vai mais que dobrar em três anos. Eles são nossa grande aposta e a área na qual temos vantagem competitiva frente às multinacionais", afirma.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Em crise existencial, público A busca novidade em loja de bairro

Valor Econômico

Os consumidores da classe média-alta se sentem relegados a segundo plano pelo varejo. Com renda média mensal familiar entre R$ 6,6 mil e R$ 12 mil, eles não estão nem na classe "AA", dos milionários, nem na vigorosa classe C, que cresceu de tamanho nos últimos anos com o aumento da distribuição de renda.

Na visão deste público - que representa 4% da população brasileira, mas que responde por quase um quarto (23%) da renda total do país -, o varejo só dá atenção para as classes que estão logo abaixo dele, a B e a C, e não os valoriza com produtos exclusivos, nem com serviços de qualidade. Estes privilégios, dizem, acabam sendo concedidos apenas aos endinheirados que eles querem ser, mas ainda não são. As conclusões fazem parte da pesquisa feita em maio pela TNS InterScience com 200 pessoas das classes A1 e A2, de 25 a 55 anos, de ambos os sexos, moradoras da capital paulista.

De acordo com a diretora da InterScience, Elizabeth Salmeirão, há uma lacuna a ser preenchida pelo varejo. "Esses consumidores acabam freqüentando desde o comércio popular, como (as ruas) José Paulino e 25 de Março, até a (rua) Oscar Freire, reduto das grifes, porque têm muito pouca opção voltada ao seu perfil, o que lhes deixa eternamente insatisfeitos", afirma Elizabeth.

Segundo o levantamento, 52% dos entrevistados preferem comprar em shopping centers, enquanto apenas 7% dão prioridade às lojas de rua. "Mas percebemos nas entrevistas qualitativas que este público considera os shoppings de maneira geral lugares muito pasteurizados, que não proporcionam uma experiência relevante de compra e que acabam atraindo diferentes tipos de freqüentadores para o mesmo espaço", diz Elizabeth. Nesse sentido, ganham pontos as lojas de rua, próximas ao trabalho ou à residência, que apresentam novidades a um preço acessível, ou seja, a um custo menor que o das grifes.

Os shoppings vencem as lojas de rua quando se trata de comprar roupas (88% das respostas) e eletrônicos (82%). Mas as lojas de rua são competitivas nas compras de alimentação (46%), de lazer (46%) e de artigos para o lar (39%).Entre os entrevistados, 64% utilizam a internet para fazer compras. O percentual sobre para 95% quando se trata de pesquisar produtos na rede mundial.

"Seja qual for o local, o atendimento prestado na loja é muito importante: essa classe quer um vendedor super qualificado, capaz de conceder uma atenção especial, sem ser invasivo ou subserviente", afirma a diretora da InterScience. No pacote também são valorizados serviços como manobrista, cafezinho, ajustes e aviso sobre promoções. A varejista de roupas Zara é citada como grande exemplo, por ser uma marca de prestígio global, com poucas peças disponíveis, troca semanal de produtos, um ambiente moderno e "clean".

Elizabeth comenta que entender o perfil desse público é fundamental para qualquer varejista porque, embora a classe A não seja volumosa como a B e a C, ou tão endinheirada quanto a AA, apresenta um baixo índice de inadimplência (19%, contra 42% dos estratos mais baixos) e tem hábitos regulares de compras."Eles têm dinheiro, mas se vêem obrigados a fazer uma certa "ginástica" para garimpar o que procuram", afirma. No alvo dessa busca, estão os produtos bons e diferentes que caibam no bolso. A pesquisa identificou que 45% raramente pagam parcelado, enquanto 39% preferem sempre pagar à vista. Pra 74%, parcelamento com juros nunca é atrativo.

Segundo o estudo, 76% dos entrevistados consomem mais agora do que cinco anos atrás, enquanto 18% consomem menos e o restante está comprando na mesma proporção do que faziam em 2003. Na divisão do orçamento desta faixa de renda há um peso especial para alimentação: 19%. Em seguida vem vestuário (13%), lazer (12%), moradia (11%), educação (11%), viagens (10%), automóveis (10%), investimentos (7%) e eletroeletrônicos (6%). "Há uma certa sensação de achatamento entre o aspiracional, a classe AA, e as classes B e C, que passaram a consumir mais e a ter hábitos semelhantes aos seus, como viajar de avião, por exemplo", comenta Elizabeth. A sensação de que não há mais estabilidade no trabalho e nas relações, de que a concorrência cresce e de que há poucas certezas sobre o hoje e o amanhã são algumas das suas angústias. "Existe ainda um certo temor de não perder o que conquistou", diz.