Conceição Moraes
Espero que você, caro leitor, não seja daqueles que passa uma vida para colocar um empreendimento, pensa, pesquisa, faz o plano de negócio, e na hora de implantar o empreendimento, não avalia o ponto comercial e escolhe aquele local esquecido por todos e que as pessoas nem sabem que existe aquela rua. Tudo em nome da economia de recursos financeiros... E aí nem pergunte qual vai ser final dessa história...
O ponto comercial é um dos fatores que influenciam o sucesso do seu novo empreendimento, não é uma decisão que pode ser deixada para segundo plano ou como sendo a última coisa a ser decidida.
Para que o empreendimento seja viável para ser concretizado em um ponto comercial, é importante analisar dois aspectos explicitados na Teoria do Lugar Central:
O novo empreendimento precisa ter um volume mínimo de negócios que viabilize de forma rentável;
E estar localizado em uma área comercial em que os clientes potenciais estejam dispostos a percorrer e/ou seja viável a você chegar até o cliente, de acordo coma natureza do empreendimento.
Para cada tipo de negócio, isto é, para cada natureza do empreendimento existem aspectos importantes para analisar com mais detalhes e cuidado.
Se o empreendimento for uma indústria, o que determinará sua localização é a análise de três aspectos: localização da mão-de-obra especializada, localização e acesso à matéria-prima e a localização dos clientes potenciais. Estes três aspectos se estiverem juntos é o ideal, mas muitas vezes isso não acontece, logo faz necessário fazer a análise da viabilidade financeira da implantação do empreendimento, montando os cenários desses aspectos para a tomada de decisão.
Já um empreendimento comercial que depende essencialmente de uma boa exposição do produto e que essas vendas acontecem, muitas vezes, por impulso; os aspectos a serem analisados são outros. Primeiro, o empreendimento no varejo, depende de três tipos de atração: a atração pela necessidade de aquisição do produto, atração gerada pelos empreendimentos vizinhos e pela atração que ocorre por impulso ou por coincidência durante o deslocamento das pessoas. A partir disso, é necessário observar princípios básicos na avaliação do pondo comercial:
1. Analisar a potencialidade da área: sua área de influência, fluxo de pessoas, o perfil das pessoas que circulam e/ou fazem negócios, volume de negócios que são gerados;
2. Analisar o acesso: a não existências de barreiras físicas, fluxo de carro versus a capacidade para estacionamento, acesso livre para fluxo de pedestre;
3. Analisar o crescimento potencial: qual a tendência da localidade quanto a possíveis mudanças do tráfico do trânsito e dos aspectos de urbanização, população residente e flutuante que venha garantir futuros resultados;
4. Analisar a atração cumulativa: identificar os negócios similares e/ou compatíveis próximos que tendem a atrair mais negócios.
Lílian Cunha

A Procter & Gamble, multinacional americana dona de marcas como Ariel, Hipoglós e Gillette, divulgou no fim de abril queda de 3,6% nos lucros do primeiro trimestre do ano. Foram US$ 2,61 bilhões contra US$ 2,71 bilhões do início de 2008. A retração aconteceu, segundo a própria companhia, porque o consumidor preferiu produtos mais baratos. Isso porque, em vários países, a desvalorização das moedas frente ao dólar fez encarecer o portfólio da P&G. Seria de se esperar que isso também acontecesse no Brasil. Mas aqui, houve o contrário. A companhia não só conseguiu aumentar as vendas, como também ganhou mercado em todas as categorias em que atua, segundo Tarek Farahat, presidente da P&G Brasil.
"Desde o início da crise, no ano passado, passamos a enfatizar em nossa comunicação com o consumidor o quanto nossos produtos compensam mais que os da concorrência", diz o executivo. Para as pilhas Duracell, por exemplo, a empresa reforçou a ideia de que, mesmo com preço 25% superior, elas "duram oito vezes mais".
O mesmo aconteceu com outros produtos da empresa, como as fraldas Pampers Noturna. "Elas custam mais caro. São 10 centavos a mais por fralda em comparação com o concorrente. Mas, em compensação, duram a noite toda. Com elas, a mãe não precisa levantar no meio da noite para trocar a fralda do bebê", diz Farahat. "No final, sai mais barato e é essa conta que quisemos mostrar para o consumidor."
Ao que parece, a estratégia deu certo: para Duracell, que tinha 34,3% das vendas antes da crise, a participação esticou para os atuais 35,9%. As vendas da linha de escovas de dentes Oral B (adquirida pela companhia em 2005, quando da compra da Gillette) saltaram de 27% em agosto do ano passado para 29% em abril, e a marca está na liderança do mercado.
A divisão de cuidados com os dentes, aliás, será um dos focos da empresa neste ano. "Ao contrário do que se pensa, o Brasil é um dos países em que as pessoas são mais ligadas a esse assunto", diz Charlie Pierce, presidente mundial de produtos orais da Procter & Gamble.
Enquanto o americano escova os dentes 1,7 vez ao dia, o brasileiro, segundo dados fornecidos pela empresa, escova 2,8 vezes. Se levado em conta o tempo gasto com a escovação e outros cuidados bucais, o brasileiro também ganha. O americano demora menos de um minuto escovando os dentes. O brasileiro chega a três minutos. A recomendação oficial é de pelo menos dois minutos de escovação. "Isso mostra o quanto esse mercado é promissor por aqui", afirma o executivo.
Embora dados oficiais mostrem que no Brasil o consumidor leva mais de uma ano para trocar de escova (a média mundial é de uma troca a cada 28 dias), a empresa não acredita que isso possa limitar as vendas. "É uma oportunidade de crescimento. Em nenhum outro país do mundo a adesão ao uso de escova e pasta, seguido do fio dental e do enxaguante bucal é tão alta como no Brasil", acrescenta Wayne Randall, presidente de cuidados bucais para América Latina da multinacional.
Por isso, segundo Randall, a empresa - que recentemente lançou a pasta Oral B (a linha tinha, até então, somente os enxaguantes, as escovas e os fios dentais) - vai incentivar a maior frequência da troca de escovas por meio de um trabalho com dentistas. Também vai reforçar seu mix de produtos no país com o lançamento de mais modelos de escovas elétricas. "No Brasil, as escovas elétricas têm menos de 1% das vendas. A média mundial é de 20%", diz Pierce.
Mundialmente, a empresa também pretende investir em higiene bucal por um simples motivo: o consumo desses produtos é um dos mais resistentes em épocas de recessão. "Mesmo na Europa ou nos EUA, onde a crise bateu mais forte, não houve queda nas vendas dessa linha", afirma Pierce. "Por pior que esteja a situação, ninguém deixa de cuidar dos dentes", diz. Segundo ele, as pessoas sabem que as consequências podem custar mais caro.
Antônio Gois

De cada 100 brasileiros de 15 a 19 anos, 72 não estão preparados para conseguir uma boa colocação no mercado de trabalho. A constatação é de um estudo do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) sobre a qualidade do ensino na América Latina.
A mesma conta foi feita em outros cinco países da região: Peru, México, Uruguai, Chile e Argentina. O percentual do Brasil só não foi pior do que o verificado no Peru.
Para chegar a essa conclusão, os autores do estudo levaram em conta não só o percentual de jovens sem ensino fundamental completo mas também aqueles que, mesmo concluindo este nível, tiveram uma educação de péssima qualidade.
No caso do Brasil, 43% dos jovens de 15 a 19 anos sequer haviam conseguido concluir o ensino fundamental. Dos 57% que fizeram o fundamental, no entanto, o estudo estima que metade teve uma educação de baixa qualidade, já que 50% dos alunos brasileiros que fizeram a prova de leitura do Pisa (exame internacional que compara a educação em diferentes países) não passaram do nível 1 de aprendizado, o mais baixo.
"Não estamos dizendo que esses jovens não conseguirão emprego algum. Poderão até trabalhar em atividades mais básicas, mas não será essa força de trabalho que atrairá empresas de alta tecnologia", diz o economista responsável pelo estudo, Juan Carlos Navarro.
O argentino Jorge Werthein, diretor-executivo da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana e representante da Unesco no Brasil de 1997 a 2005, concorda. "O desempenho dos latino-americanos no Pisa, quando comparado com o de estudantes europeus, deixa claro que ainda não temos uma educação de qualidade."
Além de estimar o percentual de jovens sem preparação adequada para conseguir um emprego bem remunerado, o estudo do BID, por meio de uma pesquisa do instituto Gallup feita em vários países, compara também o grau de satisfação da população local com a qualidade do ensino. O que surpreende no caso dos países latino-americanos é que, mesmo tendo níveis baixos de qualidade, a população avalia de forma positiva a educação, fenômeno classificado no estudo como "satisfação excessiva".
No caso brasileiro, mais da metade (64%) da população disse estar satisfeita com a educação. O percentual do Brasil, porém, nem é um dos mais altos. No Paraguai, por exemplo, os satisfeitos chegam a 75%, percentual maior que o do Japão (70%). Uma explicação para essa "satisfação excessiva" está na escolaridade da população, já que, quanto mais escolarizados são os pais, menor a satisfação.
"Se uma criança atinge um patamar mais elevado que o do seus pais, a tendência é avaliarem positivamente a escola. Mas, no futuro, essa percepção favorável deve diminuir, porque as novas gerações estão chegando em um nível maior de escolaridade", afirma Navarro.
Para Werthein, nem sempre a população mais pobre tem a consciência de que a educação é um direito: "Essa consciência permite ter uma postura mais crítica sobre a qualidade".
Outro fator a influenciar a percepção de qualidade da educação é a existência de avaliações institucionais. Neste caso, o Brasil, ao lado do Chile, é elogiado no relatório por realizar exames nacionais que ajudam a população a julgar a qualidade.
Vera Saavedra Durão

O crescimento da participação masculina no mercado de produtos de beleza, desde a década de 90, vem aumentando a participação da indústria de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumaria na economia. Nos últimos cinco anos, as vendas desse segmento dobraram de R$ 6,6 bilhões para R$ 13,1 bilhões.
A novidade é o público alvo: homens entre 25 e 34 anos, de alto poder aquisitivo, estão consumindo cerca de 17 produtos regularmente, com destaque para tinturas de cabelo, xampus e cremes para o rosto, mãos e corpo. Também são mais sensíveis, do que o sexo oposto, às ofertas desses produtos. Essa mudança de comportamento está levando a uma expansão de sofisticados salões "unisex" em detrimento das barbearias.
De acordo com a pesquisa Adonis Report, realizada pela 2B Brasil Marketing em agosto do ano passado, "os homens não são mais os mesmos", eles pintam os cabelos, depilam os pêlos, cuidam das unhas e usam cremes para retardar o envelhecimento e estão dispostos a todo tipo de tratamento estético, na crença de que uma boa aparência traz prosperidade nos negócios. Hoje, um em cada 50 brasileiros usa algum tipo de cosmético para retardar o envelhecimento. Há cinco anos atrás a média era de um a cada 500.
No ambiente de narcisos emergentes, competem na frequência aos salões de beleza mulheres entre 35 e 54 anos. Curiosamente, as mulheres de renda mais baixa comprometem proporcionalmente uma parcela maior de sua renda com cosméticos do que as mulheres de poder aquisitivo mais elevado. A Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE revela que as mulheres com renda média de R$ 400 gastam até 4% de sua renda só com produtos de beleza. Quem ganha acima de R$ 6 mil, dedica menos de 3%.
Os dados constam da pesquisa sobre "O impacto sócio-econômico da beleza - 1995 a 2004", coordenada por Ruth Helena Dweck, diretora de economia da Universidade Federal Fluminense. O professor Alberto Di Sabbato e o estagiário Frederico Teófilo de Souza participaram do estudo, divulgado ontem. Ele foi encomendado pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos.
O estudo mostra que o Brasil ocupa hoje o sétimo lugar entre os países mais vaidosos do mundo. Segundo o ranking mundial de pesquisa de opinião Vanity, realizada em 30 países no início da década, o campeã da vaidade é a Venezuela, seguida da Turquia. O critério para a classificação é o percentual da população que se ocupa com o espelho. Aqui, 30% dos brasileiros pensam na beleza o tempo todo. Na Venezuela, 57%.
Em entrevista ao Valor, Ruth contou que fez uma primeira pesquisa desse tipo em 1998, por encomenda do Ministério da Indústria e Comércio. Na ocasião, soube de trabalho semelhante feito no Canadá e nos Estados Unidos, onde foi concluído que "beleza era fundamental" para as pessoas galgarem melhores postos de trabalho. "Na pesquisa americana, intitulada 'Beautiful and Labor Market' chegava-se a medir que as pessoas de melhor aparência tinham um ganho salarial 5% acima no mínimo do que as que tinham má aparência. Estas, perdiam pelo menos 10% por conta disso."
Nos anos 80, a busca da beleza tornou-se uma verdadeira febre nos países desenvolvidos. Nos países emergentes a corrida pela boa aparência chegou 10 anos depois. Nessa época, começaram a se instalar no país as grandes redes de salões de beleza sofisticados, como Jacques Janine, hoje com cinco unidades próprias e 51 franquias, a Jean Louis David, com 27 lojas locais, a Model Hair Pelles e a rede nacional Werner Coiffeur, com 12 unidades próprias e 14 franquias.
Na área de cosméticos o Brasil emerge como o quinto maior mercado do mundo. Só da Avon, onde o país ocupava o 18º lugar no ranking mundial da multinacional, passou, a partir de 1996, ao segundo lugar em posição de vendas. Os produtos mais vendidos no mercado doméstico fazem parte deste setor de cosméticos, com destaque para os destinados a cabelos, como tinturas, alisantes, fixadores e modeladores. Em 2004, o setor de cosméticos faturou R$ 3,9 bilhões.
O setor de higiene pessoal e perfumaria também não ficou atrás. Nos últimos 10 anos, cresceu a uma taxa média de 5% ao ano, bem acima do PIB, de 2,4% ao ano na média, neste período, como revela a pesquisa da UFF. A vaidade estimula também a indústria farmacêutica. Hoje, o país surge como o segundo maior mercado para o Botox e o quarto para o Roacutan, remédio para combater a acne.
Essas atividades se concentram principalmente na região Sudeste, mas começam a se espalhar por outras regiões. A economista destacou que o impacto desses serviços no mercado de trabalho e no comércio de bens e serviços foi enorme. O pessoal ocupado no setor mais do que dobrou entre 1995 e 2003, passando de 679 mil pessoas , em 1995, para 1,4 milhão em 2003, segundo dados da PNAD. As mulheres representam 80% dessa mão-de-obra.
Flávia Furlan Nunes

Se, no passado, a população mundial consumia para atender as suas necessidades básicas, no futuro, ela viverá num cenário de realização de sonhos. De acordo com o professor de Economia da Universidade do Estado do Novo México, Lowell Catlett, existe um dinheiro excedente no mundo jamais visto.
"São US$ 6 trilhões excedentes nos Estados Unidos. No Japão, são US$ 4 trilhões. No Brasil, é US$ 1 trilhão. É dinheiro vivo e isso nunca aconteceu antes", afirmou o professor, durante a palestra "Novas Fronteiras que mudam o mundo", realizada no III Fórum de Longevidade do Bradesco Vida e Previdência.
Com mais dinheiro disponível, as sociedades já passam de um mundo da produção para o mundo do consumo. "O da produção é dar o básico e a do consumo é dar o que o consumidor quer. O consumidor é quem manda", explicou Catlett, durante a palestra.
Hierarquia das necessidades
Segundo ele explicou, os seres humanos são todos iguais, porque têm as mesmas necessidades fisiológicas. No entanto, até a Segunda Guerra Mundial, a população vivia para se manter: pagar aluguel e comer, o que está mudando com o enriquecimento das sociedades.
"Conforme recebemos mais dinheiro, priorizamos a realização. Em 2012, metade da população estará buscando a realização. Estará no espaço dos sonhos e não das necessidades. Quando está vivendo nas necessidades, 90% da vida são para manutenção das condições. Você está feliz por ter algo para sobreviver", disse o professor.
Nascidos depois da Segunda Guerra Mundial, os babyboomers foram os primeiros a não viverem somente da manutenção. Isso aconteceu porque a geração anterior acumulou patrimônio, afinal, viveu em um momento de escassez e aprendeu a guardar dinheiro. Serão transferidos US$ 40 trilhões em patrimônio, de uma geração para outra.
A busca pelas realizações
E o que a população fará com este dinheiro? Irá em busca de suas realizações. Conforme explicou o professor, na geração atual, a Y, isso já acontece. "Eles já cresceram no mundo das realizações". Para se ter uma idéia, nos EUA, o aparelho mais importante para os novos jovens é o Ipod, porque eles possuem a oportunidade de escolha.
Planejamento financeiro
Diante desta realidade, fica a questão: se a população está vivendo mais, mas realizando seus sonhos, há necessidade de planejamento financeiro? De acordo com Catlett, ele é essencial, mas a abordagem que é feita hoje para alcançá-lo está errada. "A maneira não é dizer que a pessoa precisa poupar mais, comprar ações ou investir. Me diga que eu posso viver meus sonhos e eu vou guardar para arcar com eles", finalizou.