Mirella Portiolli
Um dos principais atores do Brasil, Antonio Fagundes
protagonizou o momento mais delicado e talvez um dos mais bonitos finais de
novela do País, com Matheus Solano, em Amor à Vida. Fagundes e Solano
consagraram a redenção e o amor de um pai a um filho. É mais um gol na carreira
do ator, com 40 filmes, 30 novelas e 30 peças. Soma-se a isso o trabalho como
produtor, roteirista e apresentador. Aos 65 anos, Fagundes está no ar como o
italiano Giácomo, na trama Meu Pedacinho de Chão, da Rede Globo, onde trabalha
há mais de três décadas. Nos palcos do teatro Tuca, em São Paulo, segue com a
peça Tribos. E, recentemente, apareceu nas telonas com o terror Quando Eu Era
Vivo, produção que ressuscitou o gênero nacionalmente. O ator fala sobre as
dificuldades da indústria cinematográfica em manter-se fiel ao público enquanto
precisa agradar aos anunciantes que apoiam os filmes.
Meio & Mensagem»
No seu último papel na televisão, a homofobia foi bastante
abordada. Você considera importante debater temas atuais nas novelas? Além de
em Amor à Vida, qual outro personagem seu teve forte apelo social?
Antonio Fagundes»
A novela tem de ser basicamente uma obra de entretenimento,
mas, se conseguir colocar qualquer assunto, seja político, religioso ou social,
será sempre um acréscimo bem-vindo. Walcyr Carrasco (autor de Amor à Vida)
conseguiu fazer isso com sabedoria. Foi interessante ver o conflito daqueles
personagens ao mesmo tempo que a homofobia foi levada para a sala de jantar. O
Rei do Gado, por exemplo, discutiu a reforma agrária. Vale Tudo falou sobre
corrupção e numa época em que o Brasil ainda despertava para esse tipo de
coisa. Sempre que existe a possiblidade e o autor coloca (em debate), sem se
esquecer de que é entretenimento, funciona muito bem.
M&M»
Recentemente, você participou de uma campanha contra o uso
de aparelhos móveis no teatro. Pela necessidade contínua de ficar conectada, a
nova geração perdeu as noções de respeito e valorização de relacionamentos
reais?
Fagundes»
Em médio prazo, isso destruirá o convívio social. Depois de
20 e tantos anos (o celular chegou ao País em 1990), ainda ter de pedir para a
pessoa desligar o celular dentro de um teatro... eu já me sinto desconfortável
só de pedir. Vale ressaltar que não pedimos para desligarem o celular por nossa
causa. Pedimos por causa do entorno, dos que estão em volta. Porque alguém que
sai de casa, enfrenta trânsito, todos os problemas da cidade, paga um ingresso,
que, às vezes, não é barato, e fica falando no celular, real¬mente a pessoa
escolheu mal aquele momento. Eu sou “analfabite”, não tenho nem computador em
casa. Meu telefone é aquele mais simples, que só tenta falar. Mesmo assim, não
conseguimos porque sabemos que os telefones hoje em dia fazem tudo, menos
falar.
M&M»
Depender das marcas patrocinadoras para a produção de filmes
é um caminho sustentável para o desenvolvimento da indústria cinematográfica no
País?
Fagundes»
Acho que não. O patrocínio da produção cria uma série de
problemas que podem ser irremediáveis em médio prazo. Além de poder afastar, de
certa forma, o resultado do gosto do público, já que você perde a obrigação de
pensar exclusivamente na plateia, como no caso do teatro, por exemplo, pois o
produto já está pago.
Disponível em
http://gente.meioemensagem.com.br/home/gente/sapo_de_fora/2014/05/05/O-patrocinio-pode-ser-irremediavel.html?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_content=&utm_campaign=links.
Acesso em 08 mai 2014.