sábado, 15 de dezembro de 2012

Cinco dicas para conquistar a confiança dos clientes

Priscila Zuini  
14/12/2012
A época de vendas de Natal é boa para engordar o faturamento, garantir o resultado do ano e conseguir novos clientes. Para os especialistas, este é o momento em que as pessoas estão mais dispostas a gastar, com bônus e 13º salário no bolso, e ficam mais propensas a conhecerem marcas novas.

Para os empreendedores, o desafio é conseguir, mesmo em meio à loucura das vendas de final de ano, agradar o cliente e garantir que ele volte e ainda leve outros consumidores até o local ao longo do ano.

André Ortiz, professor da FGV e consultor empresarial, diz que a dica é agradar o cliente. “Como é o primeiro contato é preciso encantar o cliente com prestação de serviço diferenciada”, diz Ortiz.

Para Carlos Cruz, diretor do IBVendas, conquistar a confiança é fundamental para ganhar o consumidor. “O grande segredo para conquistar a confiança é focar e estar preocupado em ajudar o cliente a tomar as decisões de compra”, explica Cruz.

1. Ofereça comodidade

Apesar do clichê, muitas vezes a primeira impressão é mesmo a que fica. Se o cliente não for bem atendido na pequena empresa ele não deve voltar. Por isso, encantá-lo desde a entrada é essencial e pode exigir pequenas ações. “Pode ser oferecendo estacionamento, um café, um brinde ou mesmo atendimento especializado”, diz Ortiz.

Descubra que tipo de comodidade seu cliente valoriza ou que faz com que ele deixe de comprar no seu negócio e invista nisso para aumentar as vendas.

2. Treine a equipe

De nada adianta oferecer comodidade com um mau atendimento. O cliente precisa encontrar no vendedor uma espécie de consultor, que vai ajudá-lo a resolver um problema. “O que faz ter confiança é se sentir realizado e ser atendido por um vendedor que conheça bem o produto”, explica Cruz.

Para garantir um bom atendimento, é preciso treinar e motivar os funcionários. “A rotatividade é muito grande e o funcionário só fica se gostar do ambiente e do respeito do patrão. Preocupe-se em treinar a equipe. Não adianta investir em software e loja, se a equipe estiver desmotivada”, diz Ortiz.

3. Crie um banco de dados

Criar um banco de dados dos clientes ajuda a estreitar a relação com o consumidor. “No varejo, essa é uma das épocas que alguns segmentos mais vendem e os empresários podem aproveitar para fazer um cadastro para uma ação durante o ano”, diz Cruz.

Além disso, é importante ter estratégias de pós-vendas para manter o relacionamento com os consumidores e melhorar o negócio. “É importante ligar, mandar e-mail, sms ou contatos nas redes sociais para saber se ele foi bem atendido ou faltou algo que ele procurou”, ensina Ortiz.

4. Ofereça recompensas

Deixar o cliente feliz é, sem dúvida, mais vantajoso para as empresas. “Nada mais vende do que publicidade gerada de maneira espontânea”, diz Ortiz. Segundo ele, o papel do gestor é criar um cliente que indique a marca. “A empresa pode pensar em criar um elo”, opina. Uma das sugestões é oferecer algum tipo de recompensa para quando um novo cliente chega ao local através de indicação, como um brinde para quem o levou. 

5. Faça perguntas

A aproximação do vendedor com o cliente é também crucial para fazê-lo confiar na empresa. Além de conhecer bem o produto e ser educado, o profissional precisa fazer perguntas que levem o consumidor à decisão de compra. “O vendedor faz perguntas para entender o perfil do cliente, identificar as necessidades e oferecer produtos adequados. Mesmo se ele tiver que atender vários clientes ao mesmo tempo, precisa tentar manter contato visual”, afirma Cruz.

Disponível em http://exame.abril.com.br/pme/noticias/5-dicas-para-conquistar-a-confianca-dos-clientes?page=1&utm_campaign=news-diaria.html&utm_medium=e-mail&utm_source=newsletter. Acesso em 14 dez 2012.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Como cobrar por serviços que antes eram gratuitos?

Juliana Bacci
30.05.2011  
Estacionamento de shopping é um exemplo clássico. No começo, é gratuito para atrair clientes. Passados uns meses da inauguração, suas entradas ganham cancelas e, deixar o carro em segurança para fazer compras, passa a ter um preço. A mudança nunca é bem aceita pelos frequentadores. Afinal, por que pagar por um serviço que antes era grátis?

O consumidor sempre reclama, mas alguém deixa de ir ao shopping por causa do estacionamento? Você deixaria de calibrar os pneus do seu veículo caso o frentista avisasse que a tradicional “caixinha” foi substituída por um valor fixo e inegociável? Você deixaria de buscar algo no Google se tivesse que pagar antes de acionar o botão “pesquisa”?

O dilema assombra muitas empresas, principalmente as que cresceram oferecendo serviços gratuitos na internet e para as quais o modelo de negócio de financiamento por anunciantes não é suficiente. Cobrar ou não por um serviço que antes era oferecido gratuitamente? E se o cliente não aceitar pagar? A situação pode parecer irreversível, mas não é.

Em um artigo publicado na última semana no jornal argentino La Nación, o economista Ariel Baños, especialista em estratégias de preços, aponta a frustração do consumidor diante de um produto que ganhou preço como oportunidade de negócio. “Qualquer centavo é caro demais se comparado à facilidade de não se pagar nada”, diz. Alguém discorda?

Para Baños, a solução está nos produtos e serviços “freemium”. “Na percepção do cliente o “grátis” é um direito adquirido. Então, a chave é manter o antigo serviço prestado de forma gratuita (“free”) e investir em um novo, com muitas outras vantagens e atrativos (“premium”), pelo qual se possa cobrar”, explica.

O economista aponta o Skype como exemplo de empresa que apostou no serviço “freemium” para não perder clientes. Dois usuários do software podem conversar à vontade pela internet sem qualquer custo. Mas uma taxa é cobrada daqueles que desejam ligar para um telefone fixo ou celular.

Disponível em http://www.papodeempreendedor.com.br/servicos/como-cobrar-por-servicos-que-antes-eram-gratuitos/. Acesso em 10 dez 2012.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Artesanato já movimenta R$ 50 bilhões por ano no Brasil e envolve 8,5 milhões de pessoas

Cris Olivette   
10 de dezembro de 2012
Há 19 anos, o engenheiro químico Luis Moureira deu uma virada em sua vida: tornou-se um artesão e vive desse empreendimento até hoje. “A pintura em tecido era um hobby, até que desenvolvi uma técnica em tecido molhado que ganhou fama e se espalhou pelo País. Hoje, sou um privilegiado que pode ter o trabalho como hobby.”

Moureira conta que foi premiado nas duas últimas edições da feira Mega Artesanal. “Em 2010, ganhei o Prêmio Artesão e em 2011, entre 30 categorias, ganhei o prêmio principal.”

Em todo o País, cerca de 8,5 milhões de brasileiros fazem do artesanato o seu pequeno negócio, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Juntos, esses microempreendedores movimentam mais de R$ 50 bilhões por ano. 

Um mercado que motiva feiras como o 2º Salão do Artesão, iniciado no dia 5 de dezembro e que termina neste domingo, no Pavilhão Vera Cruz, em São Bernardo do Campo. Em busca de expansão da sua atividade, o ex-engenheiro é um dos participantes do evento.

Os negócios envolvendo artesanato têm um pé na realização pessoal e permitem até iniciativas sociais como a de Marcela Muñoz. Sua primeira iniciativa foi criar a Oficina Pedacinhos de Arte, em 2002. “A partir de 2005, passei a conciliar a produção com um trabalho social chamado Solidariedade com Arte.”

Este projeto ensina jovens e adultos carentes a fazer peças artesanais que, depois de prontas, são comercializadas. Para manter o projeto, Marcela foi atrás de parcerias e hoje conta com o apoio de grandes empresas que fornecem matéria prima como vidro, rejunte, cimento, ferramentas elétricas, cola e madeira. 

A artesã afirma que, no período de sete anos, pelo menos mil pessoas já foram capacitadas por ela. “Comecei com 17 meninos extremamente carentes. Hoje, alguns fazem cursos técnicos, outros estão na faculdade e trabalham em grandes empresas.” Segundo ela, a Etna – empresa que vende móveis – adquire seus produtos por conta do trabalho social. 

Mesmo achando difícil viver de arte no Brasil, ela se sente feliz: “Apesar das dificuldades, sou uma artista que vive do artesanato e que ama o que faz".

Marcela lembra que começou a produzir mosaicos com o objetivo de reduzir sua ansiedade. “Depois que comecei esse trabalho, passei a enxergar a vida de outro jeito. Sinto que criá-los é uma forma de organizá-la. É como se a vida estivesse toda estraçalhada e fosse se transformando conforme vou encaixando os pedacinhos.” Antes de virar artesã, Marcela coordenava cursos de arte em uma galeria. 

Ela gosta de ressaltar que seu trabalho é artesanal, solidário e sustentável. “É bom divulgá-lo (no salão) para reforçar a importância das parcerias.”

A primeira edição do Salão do Artesão ocorreu em 2011 e contou com 80 expositores e 35 mil visitantes. Neste ano, entre indústrias de insumos para o artesanato e ateliês o evento teve 130 expositores.

A realizadora do evento, Sônia Sodré, dona da Metroprom Feiras e Eventos, diz que a feira busca a integração do artista com a indústria.“O salão promove e divulga o artesanato, principalmente os produzidos na região do ABC e Baixada Santista, e é uma ótima oportunidade para a indústria lançar novos produtos e ensinar novas técnicas.”

Melhor negócio. Entre os expositores do Salão do Artesão está, por exemplo, a Tec-Screen, que produz e comercializa tintas da marca Gato Preto. Segundo o sócio diretor da empresa, Eurípedes de Almeida, negócios ligados ao artesanato estão apresentando forte crescimento não apenas no Brasil quanto em toda a América Latina. 

“Hoje, esse mercado está cotado como o quinto melhor negócio na América Latina. E depois da crise americana, o segmento está crescendo de forma acelerada também nos Estados Unidos.”

Almeida afirma que o setor cresce mais de 15% ao ano e que sua empresa, que já exporta para países das Américas do Sul e Central, Portugal e Espanha, está em processo de negociação para vender para a França e Inglaterra.

Para incentivar a produção artesanal no País, o sistema Sebrae criou o prêmio Pop 100 de Artesanato, que contempla, a cada dois anos, 100 unidades produtivas de artesanato que tiveram o melhor índice de gestão. 

“Montamos no Salão do Artesão um espaço que chamamos de vitrine, onde apresentamos as 100 unidades vencedoras da terceira edição do prêmio, ocorrida em 2012. Além disso, montamos uma grande loja, para vender as peças que vieram de todo o Brasil”, afirma o consultor do Sebrae-SP Cassio dos Santos e Oliveira. 

Em sua opinião, a produção artesanal brasileira está cada vez mais em evidência, principalmente entre os artesãos que se preocupam em agregar a questão da sustentabilidade aos produtos, bem como valores culturais. “Explorar a identidade cultural da localidade onde as peças são produzidas, aumenta sua competitividade.”

Oliveira ressalta, ainda, que o artesão precisa ter uma boa técnica de produção e que os produtos devem ter bom acabamento para atender as expectativas do consumidor. “Também é importante que o profissional desenvolva suas habilidades gerenciais para saber calcular o preço de venda.”

Na feira também há orientações dadas, além do Sebrae, pela Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades (Sutaco). “O Banco do Brasil e o Banco do Povo, também montaram estandes para oferecer linha de crédito com taxas bem acessíveis”, conta Sônia

Segundo a diretora técnica da Sutaco, Marlene do Santos, o objetivo do órgão é promover e comercializar o artesanato paulista e prestar serviços aos artesãos. “Ao se cadastrar na Sutaco, o artista recebe uma carteira que dá direito, por exemplo, a emitir nota fiscal por meio do órgão, sem a necessidade de abrir uma firma.” Atualmente, a entidade conta com 78 mil cadastrados.

Antes de se decidir pela feira, Sônia diz que fez pesquisa de mercado durante três anos e encontrou um bom nicho no segmento de artesanato.

“Já organizo a Feira do Circuito das Malhas. Então, tínhamos espaço na empresa para realizar outro evento no segundo semestre.” No Salão, a maioria dos participantes é de São Paulo.

Disponível em http://pme.estadao.com.br/noticias/noticias,artesanato-ja-movimenta-r-50-bilhoes-por-ano-no-brasil-e-envolve-8-5-milhoes-de-pessoas,2507,0.htm. Acesso em 10 dez 2012.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mais de 99% dos consumidores são analfabetos financeiros, avalia pesquisa

Heraldo Marqueti Soares 
26-11-2012
Uma pesquisa com internautas revelou que 99,2% dos consumidores não sabem fazer cálculos de juros nas compras a prazo. Os dados, levantados pelo portal Vida Econômica, foram coordenados pelo economista Miguel de Oliveira e realizado com 658 frequentadores do site, revelando assim, ser alto o percentual de pessoas que não sabe comparar as melhores condições de pagamentos, sofrendo “consequências nefastas do analfabetismo financeiro”, conforme relatou o site.

A pesquisa também diz que os consumidores observam o valor da prestação que cabe no bolso, sem a informação clara e precisa dos anúncios sobre a diferença entre a aquisição à vista e a prazo, de acordo com as orientações determinadas pelo Código de Defesa do Consumidor. Apenas 4% relataram observar o custo financeiro da compra, ou seja, o valor das taxas de juros cobradas.

O estudo ainda conta que a utilização do crédito de forma inadequada gera um cenário com muitas distorções nas relações de consumo, que "prejudicam o desenvolvimento e o crescimento econômico", avalia .

Vontade de aprender

Dos 658 participantes das enquetes, 88% (579) reconheceram que precisam aprender a calcular os juros e que desejam portanto, adquirir tal conhecimento.
Parte dos internautas também participou de um pequeno teste avaliando seus conhecimentos sobre juros, no qual havia duas proposições, sobre os seguintes financiamentos: uma TV em 12 parcelas e um veículo parcelado em 72 vezes. Das 25 pessoas que aceitaram o desafio, apenas 5, ou seja, 20%, acertaram o valor correto dos juros embutidos.

Disponível em http://www.infomoney.com.br/minhas-financas/noticia/2620557/Mais-dos-consumidores-sao-analfabetos-financeiros-avalia-pesquisa?utm_source=Newsletter&utm_medium=Email&utm_campaign=NLMinhasFinancas. Acesso em 29m nov 2012.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Por que previsões, inclusive as das empresas, furam tanto?

Lucas Amorim
22/11/2012
Prever o que vai acontecer nos próximos dez anos ou nos próximos 10 minutos é obviamente impossível. Mas o estatístico americano Nate Silver faz o mundo do futurismo parecer bem menos complicado. Silver tem um blog sobre previsões no jornal The New York Times e virou o grande fenômeno da eleição presidencial americana ao acertar o resultado nos 50 estados do país.

Mesmo semanas antes da votação, quando a maioria dos especialistas apontava uma possível vitória do republicano Mitt Romney, Silver afirmava que o democrata Barack Obama era franco favorito. De acordo com ele, no último dia da campanha, Obama tinha 90,9% de chance de vencer.

Silver está longe de ser um sortudo. Na eleição anterior ele já havia acertado os vencedores em 49 dos 50 estados, com exceção de Indiana. Suas previsões são fruto de análises exaustivas. Silver cruza dados de dezenas de institutos de pesquisa e dá pesos diferentes de acordo com o histórico de acertos de cada um em campanhas passadas.

Parece simples. Mas então por que tantos institutos e especialistas renomados erraram feio suas previsões? Por que as empresas não sabem quanto vão vender? Por que é tão difícil acertar previsões? 

Silver dá algumas pistas em seu novo livro, The Signal and the Noise: Why So Many Predictions Fail — But Some Don’t (numa tradução livre, algo como “O sinal e o ruído: por que tantas previsões falham — mas algumas não”). As previsões falham, segundo Silver, porque as pessoas não conseguem identificar as informações relevantes em meio ao ruído.

E isso acontece com muito mais frequência do que se imagina. Silver dá exemplos de áreas que vão do beisebol ao mercado financeiro para mostrar que, na maioria das vezes, as pessoas não têm a menor ideia para onde estão indo. Nossas previsões são tão certeiras quanto dardos atirados por macacos. Fazemos isso, basicamente, por ingenuidade e por excesso de confiança. Presumimos, por exemplo, que a realidade atual vai se repetir para sempre.

Se uma ação dobrou de valor desde a abertura de capital da empresa, é natural que ela continue a valorizar indefinidamente, certo? Pode até ser, mas também pode ser que ela esteja cara demais. Silver defende que nossas previsões precisam levar em conta as incertezas.

Em 1894, o jornal britânico The Times previu que a sujeira dos cavalos soterraria Londres em menos de quatro décadas. Fazia sentido, levando-se em conta o aumento exponencial no número de carroças que cruzavam a cidade. Mas, 14 anos depois, Henry Ford começou a fabricar seus primeiros automóveis. Londres nunca mais precisou pensar no esterco. 

Entender por que se erra tanto é fundamental para qualquer negócio. Afinal, previsões guiam estratégias. Sem saber quanto, como e onde investir, qualquer empresa vira alvo fácil para a concorrência. A má notícia é que, nos últimos anos, as companhias brasileiras têm se comportado exatamente como os oráculos do Times, de Londres.

Uma pesquisa da consultoria Hay Group revela que apenas 38% das empresas brasileiras conseguiram atingir as metas estabelecidas para 2011. Para a maioria, o ano ficou abaixo das expectativas. Como 2010 havia sido um ano bom, era natural imaginar que 2011 também seria. Só que não foi.

“A maior parte das empresas não faz previsões. Elas estabelecem um desafio de crescimento, sempre mais agressivo do que no ano anterior. E não importa muito se ele está ou não de acordo com a realidade”, diz Paulo Vicente, professor de estratégia da Fundação Dom Cabral.

Metas equivocadas são péssimas porque contaminam toda a empresa. Afinal, sem atingir as metas, os executivos não ganham bônus. Foi o que aconteceu em 2011 com a Natura. Nenhum de seus 600 executivos ganhou bônus por desempenho por causa de resultados abaixo do previsto — e a receita da empresa cresceu 8,9% em relação a 2010. Ao definir as metas de 2012, a Natura foi menos agressiva.

Para Silver, a grande ilusão contemporânea é imaginar que, tendo à mão a quantidade de dados que temos hoje, nossas projeções se tornam mais confiáveis. Na verdade, é o contrário, escreve. A tendência é que, quanto mais informação as empresas tiverem à disposição, mais dificuldade terão de distinguir as bobagens do que é de fato relevante.

Ao cruzar as informações sobre incêndios florestais e consumo de sorvete, por exemplo, chega-se à conclusão de que eles sobem e descem na mesma proporção. Mas não é preciso ser um gênio como Silver para se dar conta de que sorvetes não causam incêndios.

Os dois fenômenos são simplesmente típicos do verão. Até três meses atrás, a empresa de varejo eletrônico Netshoes mandava a seus conselheiros relatórios de 76 páginas. Agora, têm 14. “Antes, eles não faziam nenhuma pergunta porque não sabiam por onde começar.

Agora, com mais foco, veem o que é de fato relevante para nosso futuro”, diz José Rogério Luiz, vice-presidente de planejamento da Netshoes. Ele foi contratado há seis meses, vindo da fabricante de software Totvs, e coordena a recém-criada área de inteligência de mercado.

Depois de quadruplicar de tamanho em dois anos e chegar a um faturamento de 715 milhões de reais em 2011, a Netshoes estabeleceu como prioridade aumentar as margens de lucro nos próximos anos. Isso não quer dizer, claro, que as projeções da Netshoes tenham maior chance de dar certo. Mas pelo menos seus executivos saberão como as variáveis cruciais para o negócio estão evoluindo — e como a empresa tem de se adaptar a essa evolução. 

Com os mesmos números à mão, é possível fazer previsões totalmente diferentes. Por isso, para Silver, boa parte das previsões é furada por simples falta de interpretação. As análises, segundo ele, não podem ser só numéricas e precisam incluir uma boa dose de subjetividade.
E é aí que as coisas se complicam. Para um meteorologista prever que vai chover em determinada região, não basta mergulhar nos dados. Ele precisa conhecer a região. De certa forma, é o que aconteceu com a varejista Renner. Todos os anos, a empresa passa pelo mesmo ritual de planejamento.

Entre agosto e novembro, todas as unidades enviam suas previsões para o ano seguinte e, em dezembro, o conselho de administração aprova os dados. Além disso, a Renner compra estudos detalhados de consultorias. Mas uma das principais decisões recentes da empresa não veio de nenhum desses dados.

Há cerca de cinco anos, seu presidente, José Galló, decidiu começar a abrir lojas em cidades do interior. “Viajava para essas regiões e via que o mercado estava mudando. Mas os números ainda não mostravam isso. Decidi arriscar e chegamos a essas cidades dois anos antes das concorrentes”, diz Galló.

Sem solução mágica

As previsões mais acertadas costumam ser como essa da Renner. Não brotam espontaneamente na cabeça de um gênio. São baseadas em coisas concretas, que já estão acontecendo em menor escala em algum canto do mundo. E exigem suor. Isso vale até para Dave Evans, que tem o cargo de futurista da empresa de tecnologia Cisco, nos Estados Unidos. Seu trabalho é antecipar os mercados mais interessantes para a Cisco na próxima década.

Para isso, ele visita universidades e empreendedores do mundo inteiro. O desafio não é fazer previsões, mas entender para que lado os ventos sopram. Foi dessa forma que ele antecipou, há dez anos, os carros sem motorista — hoje um grande mercado para empresas de tecnologia, como a Cisco.

Caso esse mercado não vingasse, a Cisco tinha outras tantas soluções na manga. Essa, segundo Silver, é a melhor forma de prever o futuro: evitar uma solução mágica e fazer muitas previsões, já que não temos certeza de qual vai funcionar. Admitir que o futuro é incerto, e reconhecer que nosso conhecimento é limitado, é o primeiro passo para conseguir fazer previsões mais certeiras.

A própria Renner superou suas metas de expansão em 40% em 2009 e em 2010, mas em 2011 atingiu apenas 70% dos objetivos traçados. Nesse caso, não adianta fazer planos malucos para acelerar o passo no meio do ano. O que a Renner faz, todos os meses, é acompanhar os resultados e mudar os objetivos para baixo ou para cima.

Ao reconhecer que errou, a empresa consegue controlar seus estoques e aumentar ou reduzir as encomendas com os fornecedores. Não ajuda a salvar o bônus da turma (este é definido no início do ano e não muda), mas pelo menos evita prejuízos maiores e não compromete a saúde da empresa no longo prazo.

É uma estratégia que vai na linha das pesquisas de outro renomado estudioso do tema, o financista Nassim Nicholas Taleb. Há cinco anos, ele ganhou fama ao usar a expressão black swan (cisne-negro) para descrever eventos totalmente inesperados. Em um livro recém-lançado, Antifragile (“Antifrágil”), Taleb diz que as empresas mais resistentes são aquelas que, em vez de tentar prever o futuro, preparam-se para reagir rapidamente e conseguir aproveitar as mudanças. Venham elas de onde vierem.

Disponível em http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1029/noticias/o-geninho-as-empresas-e-o-futuro?page=1&utm_campaign=news-diaria.html&utm_medium=e-mail&utm_source=newsletter. Acesso em 27 nov 2012.