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domingo, 13 de abril de 2014

Tendência a procrastinar está no gene humano, diz estudo

Vanessa Daraya
08/04/2014
A maioria das pessoas tende a deixar para amanhã o que pode ser feito hoje. Mas não é por acaso. Existe uma explicação científica para isso: um novo estudo sugere que a procrastinação está no gene humano.

Um artigo sobre o estudo foi publicado no jornal Psychological Science.

A pesquisa foi feita por cientistas da Universidade de Colorado, nos Estados Unidos, que descobriram que a tendência a procrastinar é afetada por fatores genéticos.

Procrastinação e impulsividade são traços geneticamente ligados e provavelmente resultantes de origens evolutivas semelhantes.

Ser impulsivo tem uma vantagem evolutiva porque pode ter ajudado os antepassados com a sobrevivência cotidiana. Eles buscavam recompensas imediatas quando o dia seguinte era incerto.

A procrastinação, por outro lado, pode ser um fenômeno recente na história humana. No mundo moderno, as pessoas têm muitas metas de longo prazo que exigem preparo. Mas o impulso e a facilidade em se distrair tornam essas tarefas distantes em alvos da procrastinação.

Para chegar nessa conclusão, os cientistas decidiram estudar se esse mau hábito realmente podia ter suas raízes na genética. Os pesquisadores avaliaram 181 gêmeos idênticos (que compartilham 100% de seus genes) e 166 gêmeos fraternos (que compartilham apenas 50% de seus genes).

A discrepância genética ajudou os pesquisadores a entender a importância das influências genéticas e ambientais sobre os comportamentos específicos, como a procrastinação e impulsividade. Os gêmeos foram avaliados na habilidade de estabelecer e manter objetivos, na propensão de procrastinar e na impulsividade.

Baseado nos comportamentos parecidos entre os gêmeos, os pesquisadores concluíram que a procrastinação é, de fato, um fator genético, assim como a impulsividade.

Além disso, parece haver uma sobreposição genética entre procrastinação e impulsividade, ou seja, não há influências genéticas exclusivas para um ou outro traço sozinho. Isso sugere, portanto, que a procrastinação é um subproduto da evolução da impulsividade.

Mas não pense que agora dá para culpar a genética quando procrastinar. Segundo Daniel Gustavson, autor do artigo, entender sobre a procrastinação serve, na verdade, para ajudar a criar meios de evitar essa atitude.

Essa descoberta e futuros novos estudos sobre o tema têm potencial para ajudar a superar essas tendências enraizadas de se distrair e se esquecer do trabalho.


Disponível em http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/tendencia-a-procrastinar-esta-no-gene-humano-diz-estudo. Acesso em 8 abr 2014.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Criamos uma geração sem foco, diz Daniel Goleman

Lucas Rossi
30/12/2013
Daniel Goleman,  psicólogo e jornalista
O americano Daniel Goleman, psicólogo e Ph.D. da Universidade Harvard, tornou-se célebre ao publicar o livro Inteligência Emocional, em 1995, que já vendeu mais de 5 milhões de cópias no mundo — 400 000 só no Brasil. Sua obra mais recente, Foco, lançada quase 20 anos depois, chegará às livrarias em janeiro.

Nela, Goleman defende que — num momento em que a tecnologia e o excesso de informação geram distrações a cada minuto — criou-se uma geração sem foco, com dificuldade de desenvolver a capacidade de concentração. Mas, para ele, a atenção é como um músculo que pode ser treinado. E quem consegue chegar lá tem ideias melhores e mais criativas.

É o que fazia Bill Gates quando presidia a Microsoft, nos anos 90. Em períodos que chamava de “think weeks” (numa tradução livre, “semanas para pensar”), ele passava uma quinzena numa casa no campo para pensar sem interrupções.

Jack Welch, o lendário presidente mundial da multinacional americana General Electric, reservava uma hora por dia para simplesmente olhar pela janela. Em entrevista a EXAME, o autor fala mais sobre seu mais recente trabalho.

EXAME - O senhor defende que as pessoas nunca estiveram tão desfocadas. Quais são as consequências?
Daniel Goleman - Estamos sem tempo para refletir. Sem essa pausa não conseguimos digerir o que está acontecendo ao redor. Os circuitos cerebrais usados pela concentração são os mesmos que geram a ansiedade. Quando aumenta o fluxo de distrações, a ansiedade tende a aumentar na mesma proporção.

Precisamos ter um momento, no trabalho e na vida, para parar e pensar. Sem concentração, perdemos o controle de nossos pensamentos. Mas o oposto, quando estamos muito atentos, também é um problema. Nos tornamos vítimas de uma visão restrita e da mente estreita. É preciso dar equilíbrio a isso.

EXAME - Como escapar dessa armadilha?
Daniel Goleman - Dormir bem ajuda na concentração. Mas o melhor exercício é criar um período em que as interrupções sejam proibidas. Isso significa não ter reuniões, receber ligações, ver e-mails ou ter contato com qualquer outra fonte de distração. Isso pode ser feito antes do trabalho ou durante o expediente, em uma sala de reuniões por pelo menos 10 minutos.

Os chefes precisam entender que, para ter bons resultados, suas equipes devem ter tempo para se concentrar. E isso significa dar a oportunidade a elas de ter momentos sem interrupções.

No Google, por exemplo, os funcionários têm sido incentivados a parar por alguns minutos durante o dia e prestar atenção na própria respiração. Isso faz com que o circuito do cérebro responsável pela concentração seja ativado.

EXAME - Segundo seus estudos, existem três tipos de foco: o interno, o externo e o empático (voltado para o outro). O interno é a habilidade de se concentrar, apesar do que há ao redor. O externo é a capacidade de análise do ambiente. E o empático é a competência de prestar atenção em alguém. Por que é importante classificá-los dessa maneira?
Daniel Goleman - Para saber quando e como usar cada um na situação certa. O foco interno, por exemplo, é a chave para o profissional se motivar, ter metas, se controlar. Todos os profissionais precisam disso. O foco externo ajuda na leitura dos sistemas de maneira ampla.
É com ele que conhecemos quem são os competidores, como está o mercado, a economia e quais são as mudanças tecnológicas. Sem isso, ninguém consegue ter um bom resultado. A empatia é importante para quem quiser ser um bom líder. Ela é a forma como entendemos e falamos com as pessoas.

Só com ela um profissional saberá como motivar quem está ao redor. Não importa quais são as metas, todo mundo precisa de pessoas para alcançá-las. Ou seja, todas são importantes.

EXAME - Em seu livro, o senhor cita Steve Jobs, fundador da Apple, como alguém com alto poder de foco. Ele praticava meditação, considerada um bom exercício de concentração. Como a prática pode ser útil?
Daniel Goleman - Ao meditar, Jobs entrava no estado de consciência aberta. Experimentos sugerem que estar nesse estado, que é dar atenção a tudo o que está passando na mente, é a fonte dos pensamentos mais criativos.

É ir além de reunir informações e ter uma atenção seletiva, num processo que usamos para resolver um problema particular. É liberar o cérebro para fazer as associações acidentais que levam a novas percepções. Artistas e inventores costumam praticar devaneios produtivos.

EXAME - Como não ceder à tentação de ficar conectado o tempo todo?
Daniel Goleman - Entendendo que exercitar o foco é importante. Realizar uma tarefa e, só depois, ver as notícias ou responder a um e-mail. A melhor forma de fazer isso é dando recompensas. Você só pode acessar um site que deseja depois de terminar determinada atividade que planejou.

EXAME - No livro, o senhor diz que profissionais que atuam em áreas de que gostam têm mais poder de foco. Por que isso acontece?
Daniel Goleman - Muita gente procrastina porque os desafios são baixos. O que precisamos fazer é buscar tarefas mais difíceis. Isso aumenta o poder de foco. E costumamos perseguir espontaneamente isso com mais frequência quando gostamos do que fazemos.

EXAME - Além de Steve Jobs, quais outros profissionais têm alta capacidade de estar focados?
Daniel Goleman - O guru de negócios Jim Collins costuma apontar alguns presidentes capazes de criar empresas que duram. Acho que eles são bons exemplos de pessoas com foco. Conseguem ter um autocontrole exemplar, motivam suas corporações e são hábeis em entender os sistemas das empresas.

Além de serem exímios negociadores. O presidente da multinacional coreana -Samsung, Oh-Hyun Kwon, tem mostrado ser um executivo bastante focado. Apesar da alta concorrência, conseguiu concentrar a estratégia da empresa em ter um produto altamente competitivo.

Mark Zuckerberg, criador do Facebook, entende muito sobre os usuários de sua rede. O foco externo dele é admirável. Alguns políticos são bons exemplos de pessoas que são focadas nos outros. Eles costumam ter empatia.


Disponível em http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1056/noticias/nao-temos-tempo-para-refletir?page=1. Acesso em 30 jan 2014.