De cada 100 brasileiros de 15 a 19 anos, 72 não estão preparados para conseguir uma boa colocação no mercado de trabalho. A constatação é de um estudo do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) sobre a qualidade do ensino na América Latina.
A mesma conta foi feita em outros cinco países da região: Peru, México, Uruguai, Chile e Argentina. O percentual do Brasil só não foi pior do que o verificado no Peru.
Para chegar a essa conclusão, os autores do estudo levaram em conta não só o percentual de jovens sem ensino fundamental completo mas também aqueles que, mesmo concluindo este nível, tiveram uma educação de péssima qualidade.
No caso do Brasil, 43% dos jovens de 15 a 19 anos sequer haviam conseguido concluir o ensino fundamental. Dos 57% que fizeram o fundamental, no entanto, o estudo estima que metade teve uma educação de baixa qualidade, já que 50% dos alunos brasileiros que fizeram a prova de leitura do Pisa (exame internacional que compara a educação em diferentes países) não passaram do nível 1 de aprendizado, o mais baixo.
"Não estamos dizendo que esses jovens não conseguirão emprego algum. Poderão até trabalhar em atividades mais básicas, mas não será essa força de trabalho que atrairá empresas de alta tecnologia", diz o economista responsável pelo estudo, Juan Carlos Navarro.
O argentino Jorge Werthein, diretor-executivo da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana e representante da Unesco no Brasil de 1997 a 2005, concorda. "O desempenho dos latino-americanos no Pisa, quando comparado com o de estudantes europeus, deixa claro que ainda não temos uma educação de qualidade."
Além de estimar o percentual de jovens sem preparação adequada para conseguir um emprego bem remunerado, o estudo do BID, por meio de uma pesquisa do instituto Gallup feita em vários países, compara também o grau de satisfação da população local com a qualidade do ensino. O que surpreende no caso dos países latino-americanos é que, mesmo tendo níveis baixos de qualidade, a população avalia de forma positiva a educação, fenômeno classificado no estudo como "satisfação excessiva".
No caso brasileiro, mais da metade (64%) da população disse estar satisfeita com a educação. O percentual do Brasil, porém, nem é um dos mais altos. No Paraguai, por exemplo, os satisfeitos chegam a 75%, percentual maior que o do Japão (70%). Uma explicação para essa "satisfação excessiva" está na escolaridade da população, já que, quanto mais escolarizados são os pais, menor a satisfação.
"Se uma criança atinge um patamar mais elevado que o do seus pais, a tendência é avaliarem positivamente a escola. Mas, no futuro, essa percepção favorável deve diminuir, porque as novas gerações estão chegando em um nível maior de escolaridade", afirma Navarro.
Para Werthein, nem sempre a população mais pobre tem a consciência de que a educação é um direito: "Essa consciência permite ter uma postura mais crítica sobre a qualidade".
Outro fator a influenciar a percepção de qualidade da educação é a existência de avaliações institucionais. Neste caso, o Brasil, ao lado do Chile, é elogiado no relatório por realizar exames nacionais que ajudam a população a julgar a qualidade.
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