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quinta-feira, 24 de abril de 2014

Neuromatemática, a nova ciência do cérebro

Aline Naoe
14 de abril de 2014      
 
A neurociência ainda não dispõe de um quadro conceitual para interpretar em nível elevado de abstração dados obtidos em experimentos laboratoriais. A situação desta área do saber pode ser diagnosticada, assim, como rica em dados e pobre em teoria. Para sanar esse problema, são necessários novos modelos matemáticos que deem conta dos dados experimentais observados, ou seja, um novo campo da matemática.

Esta nova ciência do cérebro se chama neuromatemática, e é o que estuda o professor Antonio Galves, do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP. Galves é coordenador do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) em Neuromatemática, o NeuroMat, financiado pela Fapesp. A empreitada conta com uma equipe composta por matemáticos de áreas diversas, além de neurocientistas, cientistas da computação e médicos da USP e de instituições nacionais e internacionais. “Trata-se de um centro de matemática pura, inspirado nas questões que a neurobiologia nos coloca”, explica Galves.

Conexões matemáticas

Uma das perguntas que o NeuroMat tenta responder é como nosso cérebro codifica e processa estímulos externos. Ao ver uma árvore, por exemplo, é possível reconhecê-la como árvore ainda que seus galhos estejam se movendo ou que suas folhas tenham caído, indicando a capacidade de reconhecermos padrões naquilo que observamos.

Mas este processo é muito mais elaborado do que podemos imaginar em uma primeira análise. Os cientistas suspeitam que o cérebro seja, na verdade, um exímio estatístico. “A ideia é que existe uma regularidade em nível superior do que a simples aparência e essa regularidade é uma regularidade de caráter estatístico”, conta Galves. Esse processo é chamado de seleção estatística de modelos. No exemplo dado, seria a capacidade do cérebro decodificar e processar informações, mesmo variáveis, que fazem com que possamos reconhecer uma árvore. “Procurar regularidades estatísticas através da seleção de modelos é uma ideia revolucionária em neurociência”, afirma o matemático.

Uma das experiências realizadas pelo centro de pesquisa para tentar compreender o funcionamento do cérebro registrou a atividade elétrica cerebral de voluntários expostos a três ritmos musicais diferentes. Os ritmos se expressavam a partir de uma sucessão regular de unidades com batidas fortes, fracas, ou intervalos silenciosos. A isso acrescentou-se o apagamento aleatório de batidas fracas, substituídas por unidades silenciosas. O objetivo da pesquisa era obter evidências experimentais corroborando a hipótese de que o cérebro fazia “seleção estatística de modelos”. Em outras palavras, o que se queria saber é se, a partir de longas amostras produzidas com as sequências rítmicas mais o apagamento aleatório, o cérebro identificava as sequências regulares de base, fossem quais fossem as escolhas aleatórias de apagamento.

Os resultados preliminares obtidos dão força à ideia. “Estamos tentando encontrar evidências de que usar a seleção estatística de modelos como paradigma para a atividade cerebral é viável e factível”, diz Galves. O desafio, explica o professor, é construir modelos que deem conta das evoluções temporais obtidas por meio de registros eletrofisiológicos durante a exposição a estímulos diversos, como rítmicos e visuais.

Banco de dados do cérebro

A atuação dos Cepids financiados pela Fapesp prevê, além da investigação científica, a contribuição com a inovação por meio da transferência tecnológica. No caso do NeuroMat, esse objetivo é embasado nos princípios da ciência aberta: pesquisas financiadas com dinheiro público devem ser acessíveis a todos e beneficiar toda a sociedade. Em especial, no NeuroMat são desenvolvidas ferramentas computacionais que serão disponibilizadas à comunidade científica para uso em pesquisa, propiciando, dessa forma, avanços na saúde pública.

Atualmente, o grupo trabalha na construção de um banco de dados que reunirá informações de experimentos e análises em neurociência, envolvendo pacientes do Instituto de Neurologia Deolindo Couto (INDC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que sofreram lesões no plexo braquial. Trata-se de pessoas que devido, por exemplo, a um acidente de moto, tiveram o sistema que controla os movimentos e sensações no braço gravemente comprometido. Nesse cenário, o banco de dados tem como principal objetivo descrever e armazenar os dados destes experimentos e análises de forma padronizada, além de promover eficiência e segurança no armazenamento e busca de dados.

A construção do repositório de dados, coordenada pela professora do Departamento de Ciência da Computação do IME Kelly Braghetto, vem sendo desenvolvido junto ao Centro de Competência em Software Livre (CCSL) da USP. A ideia é que o banco de dados hoje desenvolvido para o INDC seja facilmente adaptável, para gerenciar também dados pertencentes a outros campos da neurociência, explica a professora de Ciência da Computação da Universidade Federal de Ouro Preto, Amanda Nascimento, que participa da construção dessas ferramentas computacionais. “Está prevista, também, a construção de um portal para facilitar o acesso a todos os dados resultantes das pesquisas do NeuroMat e apoiar a integração dos pesquisadores e o acesso aos dados”, comenta Amanda.

Segundo o coordenador do NeuroMat, Antonio Galves, a participação de profissionais da computação, incluindo especialistas, pesquisadores e estudantes de graduação, mestrado e doutorado, trouxe um novo olhar às questões abordadas pelo projeto, melhorando a qualidade das reflexões, reforçando a importância da multidisciplinaridade para as atividades do grupo. “O Cepid também tem a função de formação de uma nova geração de pesquisadores”, observa o matemático.


Disponível em http://www5.usp.br/42539/projeto-liderado-pela-usp-investiga-a-neuromatematica-nova-ciencia-do-cerebro/. Acesso em 21 abr 2014.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Cérebro humano fica mais lento a partir dos 24 anos, aponta estudo

Frederico Goulart
16/04/14

A cada 15 anos, após os 24, a velocidade cognitiva caiu cerca de 15%
Foto: Photoresearchers/Photoresearchers/Latinstock
Nosso cérebro pode começar a “ratear” bem mais cedo do que se imaginava. Normalmente associado à idade avançada, o declínio cognitivo do órgão pode se iniciar até na casa dos 20 anos: 24, mais exatamente. Essa foi a conclusão de um novo estudo realizado por cientistas da Universidade Simon Fraser, no Canadá. O trabalho foi publicado na revista científica “PLoS ONE”.

Para chegar a essa constatação, os pesquisadores avaliaram 3,3 mil voluntários cujas idades variavam entre 16 anos e 44 anos. Eles participaram de um jogo, em tempo real, desenvolvido pela equipe de pesquisa, que simulava situações reais do cotidiano. A concentração dos candidatos foi posta à prova com tarefas de múltipla escolha e também com questões de longo prazo e mudanças de foco. Assim, foram analisadas as relações entre a idade e a velocidade com que tomamos decisões e mudamos nossas tarefas.

O jogo procurava retratar situações comuns ao nosso cotidiano. O desempenho dos jogadores foi gravado e analisado posteriormente.

Como era de se esperar, a velocidade com que as decisões eram tomadas foi se reduzindo com o avançar da idade. Mas a queda no desempenho não demorou: começou a ser detectada já aos 24 anos. Para quem acha que sabe tudo, é bom ficar de olho. O estudo demonstrou que, após essa idade, a cada 15 anos, o ritmo cognitivo cai cerca de 15%. E não tem chororô: segundo os responsáveis pelo estudo, ninguém ficou de fora, nem mesmo os jogadores que conseguiram se aprimorar na execução das atividades do jogo. O declínio cerebral permaneceu mesmo entre aqueles com mais habilidade de jogar.

Na avaliação do neurologista Fabrício Hampshire, professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis, os resultados sinalizam que o processo de declínio cognitivo é dinâmico e se inicia muito antes da chamada terceira idade. Mas ele também entende que os dados precisam ser relativizados.

— A perda neuronal começa bem antes dos 60 anos, mas novos neurônios também surgem constantemente. Do ponto de vista clínico, essa informação não gera nenhuma intervenção prática ou necessidade de medidas preventivas além das que já conhecemos. As publicações cientificas devem sempre ser analisadas com critério para que precipitações sejam evitadas — avalia.

O especialista também lembra que a morte de neurônios é um processo contínuo que piora com o tempo e acontece mais rápido na presença de doenças específicas, como o Alzheimer.

Sedentarismo, o grande inimigo da cabeça

Por outro lado, o envelhecimento cerebral precoce não seria devido ao estilo vida moderno, que nos expõe constantemente a estímulos por meio de computador, internet, celular e televisão? Fabrício descarta a hipótese.

— À luz da ciência, o que pode interferir na prevenção do processo é a prática de atividade física regular, de pelo menos 150 minutos por semana, e do exercício do cérebro, por meio da leitura — afirma o neurocientista. — O sedentarismo faz muito mal aos neurônios. Além disso, o tipo de dieta alimentar que temos e a quantidade de horas de sono também interferem. O estresse psicológico e a presença de doenças como a hipertensão e o diabetes influenciam diretamente no problema.

Osvaldo Nascimento, professor do Departamento de Neurologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), concorda:
— Aspectos de ordem social, problemas afetivos, trânsito engarrafado: tudo isso determina o comportamento do nosso cérebro — descreve.

O especialista explica que, na casa dos 20 anos, nosso corpo começa a se expor a uma espécie de curva biológica:
— Todo o nosso organismo sofre uma queda de produção. Não é diferente com o sistema nervoso. Ocorre um declínio da atividade dos nervos responsáveis pela transmissão de estímulos. É algo normal.

Com o declínio, funções responsáveis pelas decisões ou pelo reconhecimento de pessoas ou histórias são prejudicados. Mas calma, nem tudo está perdido só porque chegamos aos 24 anos. O estudo canadense também observou que, com a redução da velocidade cognitiva, o cérebro compensa o déficit de várias formas. Baseando-se na experiência, ele antecipa de maneira precisa futuras tarefas e cria atalhos mentais que permitem eliminar informações irrelevantes.


Disponível em http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/cerebro-humano-fica-mais-lento-partir-dos-24-anos-aponta-estudo-12213203. Acesso em 21 abr 2014.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Cinco atitudes para turbinar o seu poder de concentração

Camila Pati
18/02/2014
dardo no alvo
Esqueça a capacidade de ser multitarefa, tão celebrada tempos atrás. A “menina dos olhos” nas organizações, hoje, é a habilidade de concentração.

É a partir dela que profissionais têm se destacado e chamado a atenção de chefes e recrutadores. E a razão é basicamente uma: aumento da produtividade.

“Quando perde o foco, a pessoa está desperdiçando energia e, com isso, fica menos produtiva”, diz a coach executiva Eva Hirsch Pontes.

A especialista explica que, na hora de desenvolver tarefas complexas, precisamos acessar “partes nobres” do cérebro, onde estão os circuitos de atenção e foco.

Quem consegue fazer isso, diz Eva, certamente vai apresentar respostas de melhor qualidade do que quem se divide para realizar várias atividades ao mesmo tempo.

“O multitarefa sobrecarrega o sistema e faz atividades com mais superficialidade. É como uma única tomada com vários aparelhos conectados. Sem dúvida, ao fazer isso, está sobrecarregando”, diz Eva.

Os vilões que sugam nossa energia cerebral são cada vez mais numerosos. Tecnologias aliadas ao acúmulo de informações - recebidas minuto a minuto - dão o tom do problema.

Para o americano Daniel Goleman, autor do livro "Inteligência Emocional", o resultado é visível sobretudo nos mais jovens que cresceram em meio aos aparelhos eletrônicos.

Em seu novo livro, "Foco", lançado em janeiro, ele defende que a falta de pausas e tempo para refletir resultou na “geração sem foco”.

Mas é possível reaprender a se concentrar? Para Goleman, a resposta é sim. O foco, defende o autor, pode ser estimulado, assim como um músculo durante um exercício de ginástica.

Eva Hirsh concorda e, segundo ela, algumas atitudes simples já trazem resultados animadores até para os mais dispersos. Confira as dicas da especialista:

1 Primeiro passo é se observar

“Toda mudança de comportamento passa pelo autoconhecimento e auto-observação”, diz Eva.

O que distrai sua atenção? Observe sua atitude diante de uma tarefa mais complicada. De quanto em quanto tempo você tem perdido a concentração? E o que tem feito seu foco se esvair?

Redes sociais, mensagens, notícias, música, o colega da baia ao lado, ou seus próprios pensamentos que insistem em invadir sua mente na hora que você mais precisa dela?

2 Tarefa complexa para resolver? Bloqueie estímulos

Precisa terminar aquele relatório complicado ou aquela apresentação para a reunião de amanhã? Feche a caixa de entrada de emails, coloque o celular no modo silencioso e desapareça das redes sociais pelo tempo que vai estabelecer. Ao se observar você vai perceber qual é o principal “algoz” da sua atenção.

“Estes são outros estímulos e nós somos curiosos. Só precisamos aprender a usar essa curiosidade a nosso favor”, diz Eva.

O cérebro, explica a especialista, é como o resto do corpo antes de uma atividade física: precisa de um tempo aquecimento. “Não liga imediatamente”, diz Eva.

Cada vez que parar o que está fazendo para responder um email ou checar o feed de notícias do Facebook, além de perder tempo, você desaquece a sua mente para aquela tarefa mais complexa que precisa ser resolvida.

3 Determine as atividades que vão ter a sua atenção hoje

Estabeleça meta para o seu foco. “É muito legal começar o dia, pensando nos assuntos para os quais vale dispensar toda a sua atenção”, diz Eva. Priorize e tenha estas atividades como seu objetivo primordial de concentração.

4 Use seu período do dia mais produtivo a seu favor

Tem gente que produz mais pela manhã. Há aqueles que rendem à noite e outros que trabalham mais e melhor no turno vespertino. A dica da coach executiva é: descubra qual o seu melhor período do dia e use-o a seu favor.

“Trate aquelas horas como seu ‘filé mignon’", diz Eva. Ou seja, não gaste esse tempo propício ao foco checando emails ou resolvendo outra tarefa que necessite de tanta concentração.

Assim, é possível estabelecer algumas rotinas, tendo em vista os melhores horários para se concentrar. “Mas não tenha rotina pra tudo, porque assim a vida ficaria muito chata”, ressalta Eva.

5 Exercite a habilidade de concentração em uma coisa de cada vez

Algumas práticas ajudam nesse processo de turbinar a capacidade de manter o foco. De acordo com Eva, uma boa pedida é apostar em exercícios de respiração ou até meditação.

“Para exercitar a capacidade de se concentrar em uma só coisa”, explica.  Segundo ela, a consciência mais presente começa com a atenção voltada para si. “E a meditação cria este espaço”, explica.


Disponível em http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/5-atitudes-para-turbinar-o-seu-poder-de-concentracao?page=1. Acesso em 20 fev 2014.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Celebridades, sapatos e o cérebro feminino

Ana Souza
18/02/2011
Sandálias, botas, chinelos, sapatilhas… toda mulher que se preza adora sapatos. Não importa o modelo, a cor ou o estilo, a verdade é que nós sempre “precisamos” de mais um par de sapatos para completar o visual perfeito. Foi em homenagem a paixão feminina pelos sapatos que eu decidi escrever o blog de hoje. Um artigo publicado por Mirre Stallen, da Universidade Erasmos da Holanda, trouxe mais luz sobre o efeito de celebridades (atrizes famosas) em campanhas de sapatos.

O estudo avaliou a resposta cerebral de 26 mulheres, através da técnica de ressonância magnética funcional (fMRI). Durante o experimento, diversas fotos de mulheres bonitas e sapatos eram apresentadas às voluntárias. Sempre antes de apresentar a foto de um par de sapatos, era apresentada a foto de uma mulher, que poderia ser uma celebridade (p.e. Julia Roberts) ou não. Após apresentar a foto da modelo (famosa ou não), aparecia ao lado a imagem de um par de sapatos.

O estudo mostrou que quando as mulheres observavam a foto de sapato juntamente com a foto de uma atriz famosa, havia uma maior ativação de uma região cerebral chamada Córtex Orbitofrontal Medial (mOFC). Diversos estudos neurocientíficos têm demonstrado que esta região é responsável pelo pareamento de estímulos neutros e afetivos, ou seja, é capaz de associar algo neutro com algo agradável ou desagradável. Com base nisso, os autores do trabalho concluíram que a efetividade da publicidade e propaganda que utiliza celebridades como “garotos propaganda” estaria relacionada a uma transferência do afeto positivo da pessoa famosa para o produto anunciado. Este afeto positivo estaria relacionado com memórias antigas associadas à celebridade em questão.

Curiosamente, quando as pessoas eram indagadas sobre sua intenção de compra, não havia diferença nos resultados para as fotos com celebridades em relação a outras modelos desconhecidas. Este resultado mostra que ainda que não seja perceptível no relato verbal, as imagens de celebridades possuem um efeito diferenciado na percepção do produto anunciado, no caso sapatos.

Os resultados deste estudo são consistentes com o conhecimento geral, que sugere que celebridades seriam mais eficazes em tornar um produto mais atraente do que indivíduos não-famosos. Ilustrar os mecanismos neurais através do qual a fama pode estar contribuindo para percepção de uma marca ou produto é mais um dos exemplos de como a neurociência pode contribuir para o entendimento do comportamento do consumidor. Quem quiser ler o artigo na íntegra pode acessar no link: “Celebrities and shoes on the female brain: The neural correlates of product evaluation in the context of fame” – publicado no Journal of Economic Psychology em 2010.

Disponível em http://www.forebrain.com.br/celebridades-sapatos-e-o-cerebro-feminino/. Acesso em 20 nov 2013.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Descubra seu momento de criatividade

Olhar Digital
12/09/2013
Todo mundo tem um momento especial do dia em que se sente mais disposto e criativo. E alguns estudos, publicados pelo site Life Hacker, afirmam que é possível identificá-los. Segundo o site, em 1950 a Associação Americana de Psicologia JP Guilford sugeriu que o tema valeria alguns estudos. Desde então, a ciência criou algumas teorias sobre os momentos em que estamos mais criativos.

Uma delas sugere que a criatividade fica mais aguçada quando estamos sonolentos e cansados. A pesquisa aponta que o nosso cérebro gera soluções mais criativas para os problemas quando estamos com aquela sensação de moleza. Para alguns, isso acontece pela manhã, para outros durante a tarde ou a noite. Obviamente, o estudo afirma que cada organismo possui uma característica individual, portanto, o ideal é prestar atenção nestes três momentos e tentar identificar o seu.

Já outra pesquisa acredita que a bebida alcoólica explora a criatividade do ser humano. A ideia é a mesma da teoria anterior: quando o cérebro relaxa, a pessoa consegue obter respostas mais criativas. Em outras palavras: esta sensação de sonolência, causada pela bebida e pelo cansaço, deixa a mente mais leve e, consequentemente, mais criativa.

Na mesma linha, uma teoria afirma que o cérebro continua buscando por soluções criativas na ao dormir com um problema na cabeça. O estudo ainda diz que a criatividade entra em ação se, ao acordar, a pessoa retomar o assunto. O oposto também já foi considerado eficaz. A prática do exercício físico pode ajudar. A teoria diz que quando a pesssoa se foca no corpo, ela deixa a mente mais livre para gerar ideias.

Outra teoria diz que a criatividade está relacionada à rotina e tende a aparecer na hora certa. Basicamente, o estudo sugere que se uma pessoa for organizada, ela pode "decidir" o momento de ser criativa. Sendo assim, a primeira dica para conseguir gerar o próprio momento de criatividade é: seja organizado.

Outra sugestão é criar uma planilha para marcar os momentos e dias em que a criatividade esteve em alta. Assim, é possível começar a identificar como o cérebro funciona e quais os melhores momentos para contar com a imaginação.

Uma recomendação: use aplicativos que permitam inserir comentários em cada faixa de horário do dia, assim você terá ainda mais precisão. Com o tempo, analise as "eurekas" e tente identificar em qual momento do dia você esteve mais propenso à criatividade. O app para iOS e Android, chamado "Moment Diary", é ideal para isso.

A criatividade pode ser bastante irregular. Mas, com as dicas acima, dá para começar a entender como a cabeça funciona. Seja em uma corrida pela manhã, soneca à tarde ou uma bebedeira com os amigos, todo mundo tem um momento certo para criar e solucionar os problemas que, às vezes, parecem impossíveis.

Disponível em http://olhardigital.uol.com.br/pro/noticia/ciencia-descubra-quando-voce-esta-mais-criativo/27622. Acesso em 12 set 2013.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A propaganda invisível

Luar Maria Brandão
24/04/2012
Para longe dos malabarismos visuais que algumas propagandas insistem em fazer, são os aromas que percebemos e os sons que embalam as ações publicitárias as armas mais poderosas para fixar uma marca.

Duvida? Quem já usou sandálias Melissa sabe que existe uma por perto antes mesmo de vê-la, só por causa daquele cheirinho característico de chiclete. E o som de cinco notas que toca toda vida que alguém liga um celular Nokia ou então um computador Microsoft?

Se, já dizia o ditado, o essencial da vida é invisível aos olhos, o chamado neuromarketing tem mostrado isso também no mundo publicitário. O que há de mais hype no marketing estuda que áreas do cérebro são ativadas na hora do consumo.

“Com um aparelho de ressonância magnética é possível examinar o cérebro de uma amostra de consumidores, identificar as regiões associadas a certos comportamentos e detectar o que sentem quando pensam em determinadas marcas e produtos”, afirma um dos maiores estudiosos do assunto, Martin Lindstrom, em seu livro, A Lógica do Consumo.

Percebeu-se, então que o consumidor “mente” na hora de responder a pesquisas de mercado, desconstruindo assim muitas das estratégias publicitárias já tão difundidas.

“Fiquei muito surpreso em ver que as advertências nos maços de cigarros não funcionam. Algumas dizem, de maneira drástica e direta, que fumar é prejudicial à saúde e causa essa ou aquela doença. Essas advertências, ao contrário, incentivam as pessoas a fumar”, afirma Lindstrom.

Surpresa também foi a descoberta de que existe forte conexão entre religiões e marcas. “Queria entender os pilares sobre os quais se baseiam, e descobri que são os mesmos em todas: visão forte e poderosa, inimigo claro, apelo aos sentidos e narração de histórias estupendas. Cada vez mais, as marcas são desenvolvidas a partir desses elementos também”, argumenta o autor.

Outra: as propagandas com apelo sexual são lembradas por apenas 10% das pessoas. “Outro estudo mostrou que as mulheres, grandes compradoras, rejeitam publicidade com modelos muito atraentes e sensuais”, destaca ainda o autor.

Sensação marcante

O sócio diretor da Being Marketing, Bosco Couto, afirma que as descobertas do neuromarketing só são aplicadas por grandes corporações mundo afora. Por aqui, ele diz que usa a técnica nos escritórios da SJ Imóveis.

“Na SJ, como usamos o conceito de aconchego porque lidamos com o lar, optamos por dar cheiro de baunilha às agências. Segundo o neuromarketing, o cheiro de baunilha lembra a primeira infância da pessoa. Ela se sente confortável”, exemplifica Bosco. A música também é uma estratégia. “Fazemos tudo para que o cara que chega afobado do trânsito se acalme. Sempre que ele entrar em contato com essas marcações sensoriais ele vai lembrar da SJ”, conclui.

Afinal, as informações vivenciadas por emoções são gravadas mais rapidamente. Parece que o óbvio também é invisível aos olhos. Ou era.

Saiba mais
Para escrever o livro Buyology, lançado no Brasil como A Lógica do Consumo – Verdades e Mentiras sobre Por que Compramos (Ed. Nova Fronteira), Martin Lindstrom desenvolveu uma experiência que durou três anos, envolveu cerca de 200 pesquisadores e mais de 2 mil voluntários e custou aproximadamente US$ 7 milhões. A maioria dos participantes era proveniente dos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Japão e China.

Neuromarketing - Descodificando a mente do Consumidor - Autor: Pedro Camargo (Ed. Ipam)
A Lógica do Consumo - Autor: Martin Lindstrom (Ed. Fronteira.
Consumismo é Coisa da Sua Cabeça - O Poder do Neuromarketing - Autora: Nanci Azevedo (Ed. Ferreira)


Disponível em http://www.opovo.com.br/app/opovo/economia/2012/04/24/noticiasjornaleconomia,2826645/a-propaganda-invisivel.shtml. Acesso em 06 ago 2013.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Nossas expressões faciais são universais?

Forebrain
27/06/2012
As expressões faciais são a maneira mais forte de transmitirmos informações sobre nossas emoções para as outras pessoas. De maneira recíproca, quando observamos a fisionomia de alguém, podemos obter informações sobre seu estado de humor e dizer se esta pessoa está com raiva, triste, alegre ou preocupada, por exemplo. As expressões faciais são tão importantes para comunicar aos outros o que sentimos que o nosso cérebro possui um processamento bastante rápido e específico, altamente qualificado, para o reconhecimento de expressões faciais.

A importância das expressões faciais foi observada pela primeira vez por Charles Darwin em 1872, no livro “A Expressão das Emoções no Homem e nos animais”, onde sugeriu que os mamíferos revelariam suas emoções através de suas faces, e que algumas expressões faciais básicas teriam uma função biológica adaptativa. Os diferentes estudos na área de neurociências têm considerado como básicas seis tipos de emoções: alegria, tristeza, raiva, nojo, medo e surpresa. Estas emoções seriam comuns à maioria dos povos e poderiam ser facilmente reconhecidas por suas respectivas expressões faciais, que seriam compostas pelo recrutamento de músculos faciais específicos para cada emoção. A expressão de alegria, por exemplo, é marcada pelo sorriso e uma leve contração dos olhos, enquanto que a expressão de surpresa é associada a uma boca entreaberta e olhos arregalados. As expressões de raiva e nojo, por sua vez, são marcadas pelo franzir do cenho.

Em virtude de suas origens biológicas evolutivas, durante muitos anos acreditou-se que estas emoções básicas, reveladas através de suas expressões faciais específicas, poderiam ser reconhecidas por diferentes populações, em diferentes regiões do planeta, independente de fatores culturais. Esta hipótese, chamada de hipótese da universalidade, considera que as seis emoções básicas e suas respectivas expressões faciais seriam a linguagem universal para sinalizar os estados emocionais internos. Porém, nas últimas décadas, alguns pesquisadores começaram a questionar esta hipótese devido a algumas evidências neurocientíficas.

Um estudo publicado em 2005 demonstrou que quando japoneses e caucasianos visualizavam fotos de faces expressando medo, regiões cerebrais diferentes eram ativadas em resposta à visualização. Mais ainda, este mesmo estudo observou que as regiões ativadas nos indivíduos caucasianos estavam associadas mais diretamente a uma percepcão emocional do estímulo, enquanto que os japoneses não pareciam atribuir uma valência emocional (ou seja, considerá-las como negativas) para as faces.

Um outro estudo mais recente, publicado pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS,) avaliou indivíduos caucasianos ocidentais e indivíduos do leste asiático, enquanto visualizavam animações de faces expressando as seis emoções básicas. Os resultados obtidos indicaram que os caucasianos eram capazes de reconhecer as seis emoções básicas de forma coerente, enquanto que os asiáticos não conseguiam realizar essa tarefa, havendo uma considerável sobreposição no reconhecimento das diferentes faces, especialmente as de surpresa, medo, nojo e raiva. Os resultados desses e de outros estudos mostram que as expressões faciais de emoção são percebidas de maneira diferenciada por indivíduos pertencentes a culturas diferentes, colocando em xeque a ideia de que a emoção humana seria universalmente representada pelo mesmo conjunto básico de somente seis expressões faciais distintas.

Considerando que o estudo das expressões faciais é de grande relevância para o Neuromarketing, é de extrema importância termos em mente que aspectos culturais podem influenciar no reconhecimento de padrões emocionais, antes aceitos como universais. Desta maneira, as ferramentas, que utilizam a avaliação das expressões faciais como instrumento de avaliação de reação de consumidores frente a estímulos de Marketing devem ser consideradas com cautela.


Disponível em http://www.forebrain.com.br/nossas-expressoes-faciais-sao-universais/. Acesso em 11 jul 2013.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Neuromarketing mede arrepio de pele e batida de coração para vender mais

Aiana Freitas
12/12/2012
Quando entra numa loja, o consumidor costuma levar em conta alguns aspectos antes de comprar um produto, como necessidade, preço e condições de pagamento. Outros motivos, no entanto, são igualmente determinantes para a decisão, mas não estão tão claros assim.

Com o objetivo de conhecer esses motivos escondidos na mente do consumidor e fazê-lo comprar mais, as empresas têm lançado mão de tecnologias até pouco tempo usadas apenas em hospitais e investigações policiais.

Ressonância magnética, rastreamento ocular e mapeamento da expressão facial são algumas das tecnologias capazes de mostrar quando o batimento do coração de um consumidor se acelera, sua retina aumenta ou a pele fica arrepiada, por exemplo.

Essas sensações podem denunciar a disponibilidade de uma pessoa para comprar um determinado produto ou serviço.

Compra é influenciada por experiências passadas

Estima-se que 80% das decisões de compra sejam tomadas abaixo do nível de consciência. Ou seja: são baseadas em razões que nem o próprio consumidor conhece. "O ato de comprar é uma ação complexa. Experiências passadas e opiniões de amigos, por exemplo, contribuem para a decisão", diz Costa.

Empresas contratam os serviços do laboratório coordenado por ele antes de lançar um produto no mercado ou abrir uma loja. O serviço também é usado por governos que planejam lançar campanhas de conscientização.

Os voluntários que participam de cada estudo se veem, dentro do laboratório, em meio a cenários que lembram um filme de ficção científica.

Usando óculos especiais, eles se submetem ao chamado "Eye Tracker", um equipamento que rastreia o movimento dos olhos. Por meio do equipamento, é possível saber, por exemplo, que parte de um anúncio publicitário chamou a atenção do consumidor, fazendo com que ele detivesse seu olhar por mais tempo.

Motoristas não 'enxergavam' faixa de pedestres

Um desses experimentos foi feito com um grupo de motoristas a pedido da agência de publicidade que criou a campanha da Prefeitura de São Paulo para incentivar o respeito aos pedestres.

Durante a pesquisa, um grupo de motoristas observou uma série de imagens das ruas de São Paulo. Pela análise do movimento dos olhos, verificou-se que eles concentravam o olhar em vários elementos da cena, mas praticamente não enxergavam a faixa de pedestres.

Diante desse resultado, a agência criou uma propaganda em que um homem fantasiado de faixa andava pelas ruas e quase era atropelado porque os motoristas não o viam.

O Laboratório da FGV também ajudou uma loja de brinquedos de Recife (PE) a descobrir se um determinado projeto agradaria aos consumidores.

Potenciais clientes olharam para uma série de imagens e frases que aludiam às propostas da loja, como oferecer brinquedos educativos, que não estimulam a violência, produtos com características sustentáveis e vendedores treinados para informar o melhor brinquedo para cada criança.

O objetivo da pesquisa foi verificar as reações emocionais dos consumidores a esses atributos. Para isso, optou-se pelo uso da eletroencefalografia, que mede a atividade elétrica do cérebro, identificando o nível de atenção que um determinado produto ou anúncio mereceu. Foram feitas, ainda, análises de batimentos cardíacos e de reações na pele dos voluntários.

A conclusão foi que os consumidores se sentiram atraídos sobretudo pela proposta da loja de ter profissionais qualificados para informar o melhor brinquedo para cada criança e ter um espaço em que os pais pudessem ler uma revista e tomar um café. Com foco nesses aspectos, a loja foi inaugurada na semana passada.

Eletroencefalografia mostra atenção dispensada a um produto

Em pesquisas semelhantes, pode ser usada ainda a "Face Expression Recognition", tecnologia que capta micro expressões no rosto e era originalmente usada para monitorar as atitudes de pessoas suspeitas em aeroportos. Hoje, é usada pelas empresas para detectar emoções não óbvias dos consumidores.

A ressonância magnética mostra que área do cérebro foi ativada no momento em que o consumidor viu uma determinada imagem ou sentiu algum cheiro, por exemplo.

Fora do Brasil, o neuromarketing também tem sido amplamente usado pelas empresas. Depois de assistir ao fracasso de uma linha de produtos para casa chamada de Dove Homecare, a Unilever contratou os serviços do laboratório britânico Neurosense.

O fracasso da linha parecia estranho porque, antes do lançamento, a Unilever havia entrevistado consumidores e eles tinham se mostraram interessados nos novos produtos do grupo.

A análise das ondas cerebrais, porém, mostrou que a linha não era vista com credibilidade pelos consumidores, o que levou a Unilever a tirar os produtos do mercado.

Esse é um exemplo, diz Costa, de que o neuromarketing pode dar informações mais precisas para as empresas. "As pesquisas tradicionais não deixaram de ser importantes. Mas o neuromarketing possui ferramentas poderosas que podem contribuir para sucesso de novos produtos."

Disponível em http://economia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2012/12/12/neuromarketing-mede-arrepio-de-pele-e-batida-de-coracao-para-vender-mais.jhtm. Acesso em 18 dez 2012.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Neuromarketing mapeia consumidor

Claudia Penteado
 
A ideia de que o neuromarketing é algum tipo de ferramenta milagrosa, que permite ler a mente dos consumidores e invalida as tradicionais pesquisas de inteligência do setor, acabou atrapalhando sua credibilidade e gerando uma série de desconfianças em relação a seu uso. Uma pesquisa da ARF (Advertising Research Foundation) provou que o neuromarketing tem problemas como inconsistência de dados: uma mesma peça publicitária analisada por diferentes institutos de neuromarketing, por exemplo, resultou em interpretações bem diferentes.

O fato é que não existe um “botão de compra” que possa ser detectado no cérebro das pessoas. As técnicas neurocientíficas aplicadas ao marketing mapeiam a atividade cerebral e do corpo diante de estímulos provocados e os resultados podem ser úteis para determinados objetivos de inteligência de mercado. No entanto, representam dados complementares e não definitivos. As técnicas não são perfeitas e muitos questionam a eficiência de resultados obtidos em laboratórios gelados com pessoas com o corpo repleto de eletrodos, ou mesmo colocadas dentro de inóspitas máquinas de ressonância magnética.

Há testes, por exemplo, em que consumidores são levados a máquinas de ressonância para avaliar a reação cerebral ao estímulo de uma determinada fragrância de perfume, liberada através de um aparato acoplado ao nariz. Será que as emoções produzidas desta maneira geram resultados consistentes? “As tecnologias que temos atualmente são tecnologias de leitura de resposta a estímulos, e somente isso. Somos capazes de observar como o cérebro do consumidor reage quando ele assiste a um vídeo, ou experimenta um alimento, por exemplo. Isso permite um vasto espectro de aplicações práticas para o marketing, mas nenhum milagre”, explica Pedro Calabrez, professor de neurociências aplicadas ao consumo da ESPM e sócio-diretor da NeuroVox.

Calabrez destaca que as metodologias neurocientíficas aplicadas à pesquisa de marketing sofrem, sim, de limitações. O método é uma delas: o ambiente do laboratório e os métodos aplicados por homens de jaleco branco não necessariamente farão com que as pessoas ajam de maneira natural. “É um ambiente muito artificial. Além disso, a própria análise dos dados colhidos ainda tem um grande grau de subjetividade. Alguns pesquisadores gostam de dizer que encontraram o ‘amor do consumidor da Apple pela marca’ com um mapeamento cerebral. A comunidade de especialistas em neurociência, no entanto, refuta drasticamente afirmações românticas como essa. Nada é tão simples. Sentimentos como amor, desejo, aversão, carinho são todos muito complexos para acreditarmos que exista uma região específica no cérebro dedicada exclusivamente a cada um deles”, diz o especialista.

O fato é que boa parte do ceticismo frente ao neuromarketing vem da não compreensão de suas devidas potencialidades e fraquezas aliadas a grandes e eloquentes promessas que parecem – e são – boas demais para ser verdade. “O neuromarketing nos traz novas abordagens para pesquisar o consumidor. Abordagens que, se aliadas a outras já consagradas metodologias quantitativas e/ou qualitativas, podem trazer resultados interessantíssimos e, acima de tudo, úteis em termos de business”, garante Gonzalez, que cita exemplos de sucesso como o trabalho de institutos como o NeuroFocus, recentemente adquirido pela Nielsen, o Mindlab International e o Neurosense. Este último foi responsável, por exemplo, pelas pesquisas de mapeamento cerebral por ressonância magnética funcional que resultaram nos cases citados no livro “Buyology”, do consultor dinamarquês Martin Lindstrom.

A Millward Brown também possui soluções de neuromarketing e, recentemente, o presidente da NeuroFocus, A.K. Pradeep, esteve no Brasil e mencionou interesse em abrir uma filial da empresa por aqui. Recentemente, o grupo WPP – ao qual está ligado a Millward Brown – investiu, através de sua empresa Kantar, numa empresa spinoff do MIT (Massachussets Institute of Technology) chamada Affectiva, dedicada a estudos de neurociência aplicada.

No Brasil, há diversos profissionais dedicados ao estudo do assunto. Na ESPM-SP, desde 2010, o programa de pós-graduação conta com uma disciplina de neurociências aplicadas ao consumo. A instituição foi a primeira do Brasil e uma das primeiras no mundo a oferecer esse tipo de abordagem. Em 2012 será inaugurado, na graduação, o Núcleo de Estudos em Psicologia e Neurociência Aplicadas, coordenado pelos professores Calabrez e Mário René, a fim de que os profissionais que se formarem estejam munidos dessa ferramenta.

“O marketing funciona – e sempre funcionou –, desde quando a humanidade começou a exercer trocas de bens e serviços e criou o comércio. A partir do início do século 20, uma disciplina chamada marketing passou a fazer parte dos currículos das escolas de negócios americanas e a ela foram se agregando um grande número de conceitos técnicos e científicos – a maioria deles tendo a ver com as ciências comportamentais. Nessa ótica, hoje, o profissional de marketing que tenha uma boa base técnica e científica – e que se aprofunde no estudo das chamadas neurociências – poderá desenvolver ações no mercado, em relação aos clientes atuais e potenciais dos seus produtos e serviços com alto grau de eficácia”, opina J. Roberto Whitaker Penteado, presidente da ESPM. Segundo ele, estamos no limiar de um fascinante novo mundo diante do sofisticado desenvolvimento das técnicas de marketing.

De acordo com Calabrez, é importante ressaltar a diferença entre neuromarketing e a neurociência aplicada ao comportamento.  Enquanto o neuromarketing é um conjunto de técnicas de pesquisa neurocientífica aplicado à pesquisa de marketing, a neurociência aplicada ao comportamento (do consumidor, organizacional etc.) é um campo do conhecimento mais abrangente, que se utiliza de pesquisas desenvolvidas em vários campos científicos diferentes, tais como biologia evolucionista, paleoantropologia, neurociência comportamental, biopsicologia e muitos outros.

Em sua empresa, a NeuroVox, Calabrez não vende pesquisas, mas oferece palestras, cursos e consultoria divulgando conhecimento em psicologia e neurociência aplicadas ao comportamento do consumidor, ambiente organizacional, motivação dos colaboradores, atualização profissional e outras áreas do comportamento humano. “O que eu levo para as empresas é a vertente de que o ser humano é um ser vivo que possui características biológicas e comportamentais que podem ser compreendidas e aplicados para um melhor conhecimento de seus comportamentos, desejos, angústias e necessidades, quando ele consome, trabalha, está com a família ou amigos – enfim, em sua vida de maneira geral”, conclui.

Uso de novas técnicas cresce no país

Em março de 2011, a FGV Projetos lançou um laboratório dedicado a pesquisas profundas sobre o assunto. Foram disponibilizados diversos serviços para o mercado, como eletroencefalograma, ressonância magnética, eye tracker, facial expression recognition, respostas psicofisiológicas e psicometria. A solução NeuroProduct, por exemplo, realiza estudos sensoriais para avaliar a oferta de uma empresa ao mercado e pode ser aplicável para design, desempenho de produtos, embalagens, nomes e logomarcas. Já a solução NeuroPrice busca entender a reação emocional subconsciente dos consumidores a valores de produtos e serviços, enquanto o NeuroAd é dedicado a auxiliar na avaliação de campanhas publicitárias em aspectos como clareza, relevância, credibilidade da mensagem, entre outros.

Entre os projetos realizados pelo laboratório está o mapeamento da imagem da presidente Dilma Rousseff a partir da resposta cerebral de mulheres. O estudo concluiu que as mulheres reagem de maneira positiva à imagem de Dilma. Outro estudo do laboratório da FGV foi feito para a agência Nova/sb e para a Prefeitura de São Paulo. Nele, o objetivo era criar uma campanha que estimulasse o respeito à faixa de pedestres. No entanto, descobriu-se, através de técnicas de neuromarketing no laboratório, que muitas pessoas sequer enxergavam a faixa de pedestres, o que levou a agência a criar uma campanha totalmente voltada para lembrar as pessoas da sua existência.

A pesquisa desenvolvida pela instituição, inédita no país, levantou, analisou e mediu as reações psiconeurofisiológicas de motoristas paulistanos diante de diferentes “formatos criativos” desenvolvidos pela Nova/sb. Usando ferramentas como o eye tracker, psicometria e eletroencefalogramas, a pesquisa identificou como as pessoas olhavam para diferentes imagens de semáforos, mensagens publicitárias, ônibus, carros, ambulantes, paisagem. Tudo era percebido, menos a faixa de pedestre.

No filme “Psicólogo”, por exemplo, um homem vestido de faixa de pedestre lamenta que não aguenta mais ser ignorado nas ruas e que ninguém o respeita. Ele conta seu drama a um psicólogo, e nem ele lhe dá atenção: dorme e ronca tranquilamente. Foram criados oito comerciais no total, protagonizados pelo “homem-faixa”, o “homem-zebra” e um jogo no Facebook.

Carlos Augusto Lopes da Costa, coordenador do laboratório de neuromarketing da FGV Projetos, diz que cada questionamento demanda uma solução diferente. Diante das críticas em relação ao ambiente inóspito dos laboratórios para avaliar as reações corporais e as ondas cerebrais das pessoas diante dos estímulos, ele diz que os experimentos são feitos com grupos pequenos, cuidadosamente selecionados e rigorosamente analisados. O laboratório também trabalha com equipamentos portáteis que podem ser utilizados em ambientes externos como pontos de vendas etc. Demanda um trabalho maior, mas é perfeitamente possível. “O ponto crítico do neuromarketing é a coleta de dados e a posterior avaliação. Por isso trabalhamos com neurocientistas, psicólogos, sociólogos. E investimos muito em pesquisas. Eu diria que, no Brasil, nossa expertise é única exatamente devido ao nosso investimento em pesquisa”, garante.

Para ele, a vantagem do neuromarketing é possibilitar novas avaliações em um mercado em que os produtos estão cada vez mais semelhantes entre si. Ele acredita que todas as decisões de compra são emocionais, mesmo aquelas em que o preço é decisivo. “Há muitas variáveis num processo de compra. O neuromarketing é interessante porque muitas vezes as pessoas não conseguem verbalizar porque gostam de algo. Cerca de 85% das nossas reações são totalmente inconscientes. Ao analisar reações, expressões, ondas cerebrais e batimentos cardíacos, somos capazes de descobrir elementos mais sutis dos processos de escolha, jamais descobertos em estudos tradicionais”, destaca Costa, deixando claro que as técnicas se complementam e jamais se anulam.

A maior procura pelos produtos do laboratório ainda vem de agências de publicidade e anunciantes em busca de uma melhor avaliação de suas estratégias de comunicação e também para auxiliar no desenvolvimento de produtos. Os já existentes e que estimulam os sentidos – auditivo e gustativo, principalmente – também vêm buscando as pesquisas de neuromarketing do laboratório da FGV. “Muitas agências de publicidade comparam campanhas de seus clientes à de concorrentes, por exemplo”, diz Costa.

A ferramenta de eye tracking, que analisa o que chama a atenção do olhar das pessoas, vem sendo utilizada para avaliar materiais de publicidade impressos, como anúncios e folders, bem como websites e portais. Atualmente, o laboratório está em conversações para auxiliar o Ministério da Saúde com todas as suas campanhas de utilidade pública como dengue, obesidade, tabagismo.

No Rio de Janeiro, Billy Nascimento, doutor e mestre em neurofisiologia e sócio-diretor executivo da Forebrain Neurotecnologia, revela que, em breve, se associará a um instituto de pesquisas. Ele atualmente é professor da ESPM. Sua tese de doutorado auxiliou o Ministério da Saúde a criar as mensagens de advertência que hoje figuram nos maços de cigarro. “A área de neuromarketing é muito recente e tem essencialmente dois drivers. O primeiro é a pesquisa de mercado, uma área de pouca inovação e na qual o neuromarketing entra como um componente de valor. Mas a tecnologia pode ser utilizada de maneira errônea. O segundo driver é o neurocientífico, a partir do desenvolvimento tecnológico para melhor entender o cérebro. O neuromarketing nasceu do aproveitamento, pelas áreas sociais, da base científica de conhecimento do cérebro”, explica o professor.

Ele lembra que tudo começou com a divulgação, em 2003, dos resultados do teste-cego “Desafio Pepsi” – realizado pela primeira vez em 1975 –, repetido com o auxílio de ressonância magnética. No teste tradicional, mais da metade dos voluntários sempre preferiam o sabor de Pepsi ao de Coca-Cola. Nos testes com o aparelho eletromagnético, 75% das pessoas afirmaram preferir Coca-Cola, mas esta preferência era ativada numa região do cérebro responsável pelo raciocínio e discernimento mais alto.

A preferência por Pepsi surgia de uma região do cérebro estimulada quando se gosta muito de um sabor, levando a crer que a decisão por Coca-Cola é mais racional do que emocional. Esta guerra entre o pensamento racional e as emoções que ocorre dentro do cérebro dos consumidores passou a entrar para o hall de preocupações do mercado a partir de então. “Essas descobertas nos fizeram querer entender o cérebro e aprimorar o conhecimento acerca de como acontece o consumo”, conclui Nascimento.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Neuromarketing e a influência no comportamento de compra

Rafael D'Andrea
Boa parte da eficiência do nosso cérebro está no fato de que ele é capaz de cortar caminho pela realidade e usar padrões aprendidos, emoções e instintos antigos para montar um contexto com o qual podemos as tomar decisões diárias em nossas vidas.

O chamado Neuromarketing trabalha com esses elementos e como eles interagem na nossa mente e na anatomia do nosso cérebro. Nessa palestra, Amy Africa, uma executiva da Eight by Eight, apresentou os principais fenômenos que ocorrem em nosso inconsciente e que determinam as estratégias mentais de compra e consumo. Ela também discutiu como aplicá-los no marketing voltado para o shopper. Veja os principais pontos.

• Nós somos todos auto-centrados. Nosso cérebro sempre está pensando em quatro coisas e como elas nos afetam: fugir, lutar, comer ou atividade reprodutiva. Isso é instintivo, ou seja, a toda interação rodamos um programinha que pergunta; isso é de comer? Isso vai ME comer? E assim por diante. Esse exercício constante é cansativo. Por isso, no processo de compra, preferimos comprar em locais conhecidos, familiares e sem risco.

• Preferimos o contraste preto-no-branco e não os tons de cinza para tomar decisões mais rápidas. Situações complexas nos perturbam e abandonamos a compra. Por isso, os sites de sucesso têm botões do tipo “prossiga para o checkout agora!”. Amy chegou a apostar com o público que qualquer que fosse o item colocado em primeiro lugar na loja online venderia 75% mais pelo simples fato de ser o primeiro. 

• Somos visuais. Vídeos funcionam no mundo do e-commerce por que as pessoas usam muito mais esse sentido do que os demais. Segundo a palestrante, estudos médicos mostram que o córtex visual (parte do cérebro que processa as imagens, transformando-os em pensamentos) é 40 vezes mais rápido do que o cortex não especializado. Além disso, não se pode “desver” o que foi visto – o córtex visual é muito poderoso também para criar memórias.

• Procuramos padrões. Ao longo da evolução humana desenvolvemos a habilidade de conectar causas a efeitos e procurar padrões em todas essas respostas da natureza. Por isso se um varejista erra o pedido duas vezes acreditamos que irá errar na terceira. É importante ter consistência.

• Gostamos de coisas tangíveis. Conceitos abstratos que escondem uma série de outros conceitos por trás são difíceis de compreender e “derrubam” nossa atenção. Quando estamos fazendo publicidade de algo devemos ser diretos, escrever sem utilizar palavras abstratas que tiram o consumidor do nosso campo de influência.

• Gostamos de limites. Quando colocamos uma promoção por tempo limitado as chances de sucesso são muito maiores do que quando não dizemos quando acabará. 

• Gostamos de atalhos. Ao planejar a interação com o shopper devemos prever que atalhos eles gostariam de tomar, principalmente no e-commerce e antecipar o caminho do shopper. 

• Somos seres emocionais que pensam e não o contrário. As emoções se sobrepõe ao pensamento. Amy perguntou a audiência onde estavam em 11 de setembro de 2001. Todos sabiam a resposta. Quando há uma emoção associada a um evento, a lembrança é muito mais forte. O desafio é usar isso a favor do varejista?

• Somos imediatistas. De fato preferimos colocar o presente em primeiro lugar. Então se voce é o fabricante de produtos saudáveis ou um produtor de frutas e verduras deve criar estratégias para tornar o benefício dos produtos visíveis agora e não no longo prazo.

• O medo da perda é mais forte do que o potencial de ganho.  Voce faria uma cirurgia com 90% de chance de sucesso? Provavelmente sim. E se a cirurgia tivesse 10% de chance de fracassar? Provavelmente não. A forma como colocamos as palavras faz diferença.

• Não gostamos do desconhecido.

• Respondemos ao status por que ele nos dá o conforto de uma avaliação superficial da realidade.

• Reciprocidade tem um poder imenso. Um hotel fez um teste e colocou um cartazete no banheiro dizendo “reutilize sua toalha mais de uma vez e faremos uma doação para uma entidade X”. Resultado 0% de reuso. Quando o mesmo hotel escreveu “reuse sua toalha e daremos $1 para a entidade X” 45% dos hóspedes reutilizaram as toalhas.

• Escassez funciona. Se tivermos dois potes com biscoitos e um deles tiver apenas dois enquanto o outro estiver cheio, acreditamos que o primeiro tem os melhores biscoitos. As vezes menos é mais.

Meu olhar: Neuromarketing é baseado em neurolinguística, fundamentalmente. É difícil colocar em 40 minutos de palestra uma assunto tão vasto e interessante. Então, vai minha dica pra quem quer se aprofundar: leia os autores clássicos do tema, como Joseph O’Connor (Neurolinguística) e Antonio Damasio (O Erro de Descartes). E para saber mais sobre como aplicá-lo varejo vale a pena conhecer Marc Gobé - o mestre de toda uma geração de neuro marketeiros voltados para o design de produtos e pontos-de-venda. No livro Shopper Marketing (ed. Atlas 2011, deste autor) também há aplicações do Neuromarketing para gerar insights de varejo. Vale a pena conferir!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Anota aí 41: Internet; Carro; Prazer; Classe Média; Ponto-de-venda

DAMASCENO, Sergio. Geração nas nuvens 2,3 bilhões de jovens no mundo valorizam o conhecimento coletivo da internet. Meio & Mensagem, ano XXXII, nº 1436, 22 de novembro de 2010, p. 52.


SILVA, Cleide. Brasileiro troca a cor do carro Durante anos, os consumidores só queriam saber dos tons prata, preto e cinza, mas agora começam a comprar veículos de cores vivas. O Estado de S. Paulo, 28 de novembro de 2010, Caderno Economia, p. B15. 


SCHWARTING, Rainer. As fontes do prazer Pesquisas lançam nova luz sobre mecanismos cerebrais do prazer e do amor e mostram semelhanças curiosas, como entre o desejo sexual e a vontade de comer chocolate. Mente & Cérebro Especial, A ciência da Sedução, n. 25, pp. 44-49.


MATOS, Carolina. 41% das famílias serão classe média Em 2020, massa de ganhos dessa faixa de renda vai ser 72% maior do que a de 2009, de acordo com consultoria. Folha de S. Paulo, 12 de dezembro de 2010, Caderno Mercado, pp. B8-B9.


ELOI, Cristiano. Foco no ponto de venda Chan Wook Min, presidente do Popai Brasil, enfatiza que as pessoas estão buscando praticidade, repondo seus estoques temporários e fazendo mais compras emergenciais. Distribuição, ano 18, nº 215, dezembro de 2010, pp. 18-22.