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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

País piora no quesito transparência

Daniela D'Ambrosio 


Não faltam investidores interessados no mercado imobiliário brasileiro. Fundos de pensão estrangeiros, fundos de private equity, empresas globais, fundos soberanos - de diferentes naturezas e tamanhos, quem tem recursos hoje, pelo menos, olha para o Brasil. Sim, o mercado está aquecido. E, sim, ainda há boas oportunidades. Mas fincar o pé aqui exige mais do que isso. Um dos pontos mais importantes para os investidores é o nível de transparência e de confiabilidade dos novos mercados. E, nesse quesito, o Brasil ainda está no meio do caminho.
Segundo levantamento elaborado pela Jones Lang LaSalle, o Brasil ocupa a 38ª posição em um ranking com 81 países. A consultoria elabora o Índice de Transparência do Mercado Imobiliário Global a cada dois anos desde 1999. No índice de 2008, o país ocupava a 36ª posição no ranking geral. O estudo analisa aspectos como dados de mercado disponíveis, empresas e fundos de capital aberto e ambiente jurídico e regulatório.
"Nos últimos anos, várias empresas e fundos do setor imobiliário no Brasil abriram seu capital, melhorando a qualidade e a quantidade de informações disponíveis, ao mesmo tempo em que elevaram os padrões de governança corporativa para atrair uma base maior de investidores", divulga a empresa.
De acordo com o último levantamento, o Brasil está trabalhando para melhorar a transparência no setor imobiliário. No entanto, como na maioria dos países do mundo, o avanço freou nos últimos dois anos.
O Brasil está na mesma faixa que os outros países do Bric, embora Índia e China tivessem os principais avanços no mercado Ásia Pacífico em 2010. Apesar de ter um mercado menor, a Austrália foi considerado o mais transparente do mundo, tirando a posição que era do Canadá. Ainda no grupo dos mais transparentes do mundo, figuram países como Reino Unido, Estados Unidos, Suécia e França.
De forma geral, no Brasil, os investidores estrangeiros ainda se assustam por exemplo, com as questões regulatórias. "O prazo que te dão para o início de uma obra, praticamente nunca é cumprido", disse a executiva que representa uma empresa espanhola interessada em vir ao Brasil em seminário realizado recentemente em São Paulo.
Embora julguem necessária a rigidez dos órgãos regulatórios brasileiros, como o meio-ambiente, a chamada insegurança jurídica é considerada grande. O tempo de um projeto é fundamental para determinar o retorno sobre o capital investido e quando essa variável torna-se uma incógnita, pode ser um problema. A demora na aprovação de um projeto - seja no nível das prefeituras ou de outros órgãos - já começa a influenciar na taxa de carregamento e na taxa de retorno dos projetos.

domingo, 13 de junho de 2010

Brasileiro compra mais desodorante do que macarrão

Daniela D'Ambrosio
A cesta de compras do brasileiro está mais cheia no Norte, Nordeste e Sul do país e mais cara em Minas, Espírito Santo e interior do Rio. E a categoria de produtos mais consumida no país é a de higiene e beleza - acima de alimentos, bebidas e limpeza. Os dados estão na primeira radiografia do setor de bens de consumo de 2005 elaborada pela Latin Panel.

No primeiro trimestre do ano, o número de domicílios compradores cresceu 4 pontos percentuais em relação aos primeiros três meses de 2004. Ou seja, 1,4 milhão de domicílios voltaram a comprar ou ampliaram sua cesta de compras. "A melhoria do nível de emprego e o aumento do crédito fizeram com que o consumidor fosse às compras e reposicionasse sua cesta de compras de forma mais expressiva do que no início de 2004", afirma Fátima Merlin, gerente de atendimento ao varejo da Latin Panel.

A pesquisa checa o consumo de 65 categorias em 8,2 mil domicílios semanalmente, perfazendo um total de 33 mil entrevistas por mês para a coleta de dados. Segundo a Latin Panel, os lares pesquisados são sempre os mesmos para que se possa fazer o trabalho de comparação.

Por categoria, o grande destaque nesses primeiros três meses em relação ao primeiro trimestre de 2004 foi o setor de higiene. Apesar de o gasto médio com essa categoria ter subido 12%, acima da média geral de 8%, houve um forte aumento tanto na quantidade de produtos comprados (8%), quanto no número de lares consumidores. "Os produtos de higiene estão relacionados com a sensação de auto-gratificação e sempre crescem mais do que a média em momentos de melhora econômica", diz a gerente do Latin Panel.

Quando se faz um raio-x dos produtos que entram e saem da casa do consumidor, a pesquisa revela dados interessantes. Enquanto massa instantânea (macarrão que leva 3 minutos para ficar pronto), está presente em mais lares e em maior quantidade, a massa tradicional perdeu presença nas duas medições. De forma geral, os produtos de maior valor agregado são os que estão voltando com mais força à cesta de compras, como iogurte, adoçante, e condicionador de cabelo.

As classes mais altas gastaram mais e compraram em maior quantidade nesse início de 2005. O volume de compras das classes A e B subiu 2%, enquanto a classe C engordou sua cesta em 1% . Os consumidores das classes D e E mantiveram o mesmo volume de compras. Quanto aos gastos, a cesta das classes A e B ficou 9% mais cara, enquanto da classe C subiu 8%. A alta para as classes D e E foi de 7%.

Regionalmente, os destaques ficaram com Norte/Nordeste e Sul, que tiveram o maior aumento de volume (3% em ambos) de todo o Brasil. Foi nessas regiões também que o gasto médio por família cresceu em maior proporção em relação ao ano passado - 10% em cada uma. Por outro lado, o Centro-Oeste e o Leste, que engloba Minas Gerais, Espírito Santo e interior do Rio, foram as regiões onde houve maior aumento de lares voltando ao consumo, 7% e 6%, respectivamente.

A Grande São Paulo e interior paulista foram as localidades com menor avanço do gasto médio. "Isso reflete as fortes promoções e a enorme concorrência do varejo nessas regiões", explica Fátima.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Classe média é maioria na multidão da 25 de março

Daniela D'Ambrosio

Tem muito burburinho, não falta empurra-empurra, o sol ou a chuva podem atrapalhar o programa e a segurança é precária. O que não intimida o típico comprador da Rua 25 de Março, no centro de São Paulo, ainda causa um certo incômodo ao consumidor mais qualificado - que cada vez mais freqüenta a região. Mas ele calça um confortável tênis e encara o tumulto por uma razão bem simples: preço baixo.

Longe do conforto do ar-condicionado, do estacionamento e da organização dos shoppings, a caótica e mais famosa região de compras da capital paulista já atrai consumidores da classe A, com lap top, TV à cabo e casa própria. Evitam tomar ônibus. Alguns usam metrô, mas a maioria enfrenta o trânsito e vai à bordo do próprio carro para a conturbada região da 25.

Foi dirigindo seu carro em um dia de muita chuva em São Paulo que o publicitário Dênis Giacometti, perdido, foi parar nas adjacências da 25. Com o carro praticamente parado, começou a observar a região. "É uma aula de varejo, a forma como os vendedores tratam os clientes é um paradoxo em relação ao caos", afirma Giacometti. "Resolvi encomendar um estudo e fazer uma radiografia daquele universo maluco."

O estudo, realizado pela TNS InterScience a pedido da Giacometti Propaganda- obtido com exclusividade pelo Valor - mostra um perfil atualizado do consumidor que inunda e tumultua as ruas do centro. "Constatamos que a 25 de Março tem um público qualificado, que vai lá em busca de preço baixo e variedade", diz Marcelo Magalhães, diretor da Giacometti.

O levantamento - baseado em entrevistas com 600 compradores - mostrou que 12% são da classe A, 44% da classe B, 35% da C e 9% da classe D. "Isso nos dá um universo de 60% de consumidores de classe média", diz Valéria Rodrigues, diretora de consumo e varejo da TNS InterScience.

Dos entrevistados, 48% têm colegial, 15% nível superior, 80% têm casa própria, 71% carregam um celular e 47% possuem computador. "Comparamos com dados do IBGE, que nos dá a média da população brasileira, e os dados são bem diferentes: 16,3% dos brasileiros têm computador e 16,5% telefone celular", explica Valéria. Outros dados que revelam sinais da qualificação do consumidor: 23% possuem TV a cabo, 46% acessam à internet em casa e 11% são donos de um lap top.

A similaridade com os consumidores de shoppings também é percebida pelo cartão de crédito. Do total de compradores entrevistados na 25 de março, 59% têm cartão de crédito. O gasto médio, segundo a pesquisa, é de R$ 123 por consumidor.

Essa mudança de perfil já interfere na estratégia dos lojistas. O Armarinhos Fernando, uma das lojas mais tradicionais, com cinco endereços na região (uma delas com três mil metros quadrados), começou a mudar seu portfólio a partir do final do ano passado. "Percebemos que os consumidores estavam mudando e decidimos investir em produtos de maior valor agregado", diz Márcio Gavranic, gerente-geral, acrescentando que vende brinquedos de R$ 1 a R$ 1,5 mil. "Deu tão certo que resolvemos incrementar também a parte de papelaria, oferecendo mais produtos licenciados, por exemplo."

Fundada há 30 anos pelo imigrante português Fernando como loja de armarinhos, a empresa hoje recebe cerca de três mil pessoas por dia e vende também papelaria, brinquedos, perfumaria, bazar, utilidades domésticas, artigos para festas e lingerie. "Tem muita gente que só ia em shopping e hoje vem na 25", diz.

Famosa pelas pechinchas e preços até 60% mais baixos, as ruas da região reúnem mais de três mil estabelecimentos comerciais - muitos deles revelados depois de um claustrofóbico passeio por antigas galerias - e cerca de 50 mil empregados.

Tudo na 25 é superlativo. A região é o maior "shopping" do Brasil tanto em faturamento, quanto em visitantes. Sozinha, fatura cerca de R$ 16 bilhões ao ano em vendas para o consumidor final - sem contar a receita com atacado, segundo o estudo da TNS InterScience.

Os 251 shoppings brasileiros faturam, juntos, R$ 40 bilhões ao ano. O maior shopping de São Paulo, o Aricanduva, fatura R$ 1,2 bilhão ao ano. Diariamente, circulam pela região cerca de 500 mil pessoas, contra 1,3 milhão que passam pelos 41 shoppings do Estado de São Paulo.

O estudo pôs em foco as compras para consumo próprio, mas a vocação natural da região é o atacado - as compras para revenda. Na Armarinhos Fernando, por exemplo, 70% das vendas são atacado.

Na sexta feira, após o feriado de 7 de setembro, a região recebeu cerca de 1 milhão de pessoas, movimento semelhante ao do Natal. Foram 25 quilômetros de congestionamento e o trânsito parou até as proximidades do aeroporto de Congonhas, na zona sul, já que muitos consumidores vieram de fora da capital.