João Sandrini
10/04/2012
Poucas perguntas são tão difíceis de responder
sobre qualquer pessoa quanto em qual classe econômica ela está inserida – com
exceção dos muito ricos e muito pobres. Mesmo sendo padronizados, os critérios
utilizados para segmentar a população por diversos institutos de pesquisa (como
Nielsen, Ipsos, Ibope e Datafolha) são tão polêmicos que o próprio entrevistado
quase nunca concorda com a própria classificação ao saber dos resultados.
Não há um padrão mundial de classificação, mas, no Brasil,
coube à Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) a missão de
elaborar o Critério de Classificação Econômica Brasil. Esse padrão serve como
base para a maioria dos questionários sobre o poder de consumo de cada família.
A renda média dos brasileiros em cada uma das oito classes econômicas é
explicada na tabela a seguir:
Classe econômica | Renda média familiar bruta mensal |
---|---|
A1 | R$ 12.926 |
A2 | R$ 8.418 |
B1 | R$ 4.418 |
B2 | R$ 2.565 |
C1 | R$ 1.541 |
C2 | R$ 1.024 |
D | R$ 714 |
E | R$ 477 |
Em relação à tabela, é preciso entender três detalhes
importantes. O primeiro é que os valores informados para cada classe social são
a renda média e que há uma grande dispersão dentro de cada grupo. Em relação às
pessoas que fazem parte da classe A1, há desde famílias que ganham 10.000 reais
ao mês até quem embolsa mais de 1 milhão de reais. O número de 12.926 reais é
apenas a média.
O segundo fator é que o número da renda média familiar é
considerado de baixa qualidade pelas próprias empresas que realizam as
pesquisas. Muita gente não revela a renda verdadeira por questões de segurança
ou até mesmo desconhecimento. Em algumas famílias, a renda mensal varia tanto
que o próprio entrevistado é incapaz de informar a média.
Na verdade, os problemas de ordem prática quando os
pesquisadores vão coletar as informações nos domicílios são inúmeros. “Muitas
vezes quem vai responder as perguntas é o filho adolescente que não sabe com
exatidão a renda dos pais”, diz Luis Pilli, diretor do comitê do Critério
Brasil para a Abep.
O número da renda é tão poluído que levou a Abep a excluí-lo
do critério de classificação econômica – e essa é a terceira ressalva
importante. A tabela acima serve apenas como mera curiosidade. Os pesquisadores
perguntam a renda, mas não utilizam o número para classificar os brasileiros. A
pesquisa leva em consideração apenas a posse de bens e o grau de instrução do
chefe de família. De acordo com o número de bens, as famílias recebem o
seguinte número de pontos:
Posse de itens | 0 | 1 | 2 | 3 | 4 ou + |
---|---|---|---|---|---|
Televisão em cores | 0 | 1 | 2 | 3 | 4 |
Rádio (de qualquer tipo, mesmo que incorporado a outro equipamento de som ou televisor, com exceção do rádio do automóvel) | 0 | 1 | 2 | 3 | 4 |
Banheiro (qualquer um que tenha vaso sanitário e faça parte do domicílio, incluindo lavabos e excluindo banheiros coletivos) | 0 | 4 | 5 | 6 | 7 |
Automóvel (não considera veículos de uso profissional nem misto - por exemplo, um táxi usado para lazer aos finais de semana) | 0 | 4 | 7 | 9 | 9 |
Empregado doméstico (qualquer empregado que trabalhe 5 vezes por semana no domicílio, incluindo babás, motoristas, cozinheiras, copeiras, arrumadeiras e governantas) | 0 | 3 | 4 | 4 | 4 |
Máquina de lavar (não inclui tanquinho) | 0 | 2 | 2 | 2 | 2 |
Videocasete ou DVD | 0 | 2 | 2 | 2 | 2 |
Geladeira | 0 | 4 | 4 | 4 | 4 |
Freezer (eletrodoméstico independente ou parte de uma geladeira duplex com duas portas independentes) | 0 | 2 | 2 | 2 | 2 |
Já o grau de instrução do chefe de família leva os
pesquisadores a computar o número de pontos a seguir para cada domicílio:
Grau de instrução | Número de pontos |
---|---|
Analfabeto à terceira série de ensino fundamental | 0 |
Quarta série do ensino fundamental | 1 |
Ensino fundamental completo | 2 |
Ensino médio completo | 4 |
Ensino superior completo | 8 |
Realizadas todas as perguntas, os pontos de cada família são
somados. A classe econômica será determinada pelo total de pontos obtidos, de
acordo com a tabela a seguir:
Classe econômica | Pontos |
---|---|
A1 | 42 - 46 |
A2 | 35 - 41 |
B1 | 29 - 34 |
B2 | 23 - 28 |
C1 | 18 - 22 |
C2 | 14 - 17 |
D | 8 - 13 |
E | 0 - 7 |
Pilli, da Abep, explica que os ricos brasileiros estão
concentrados na classe A1. A classe média-alta englobaria os grupos A2 e B1. Já
da classe média fariam parte as pessoas classificadas como B2, C1 e C2. Nas
classes D e E, estariam os brasileiros com baixo poder de consumo. Considerando
apenas as nove maiores regiões metropolitanos do país, é possível concluir que
a grande maioria dos brasileiros pode ser considerada de classe média, conforme
a tabela a seguir:
Classe econômica | Percentual da população |
---|---|
A1 | 0,50% |
A2 | 3,60% |
B1 | 9,60% |
B2 | 20,80% |
C1 | 26,30% |
C2 | 23,20% |
D | 15,20% |
E | 0,80% |
Pilli diz que o critério de classificação econômica prioriza
muito a posse de bens – e não o grau de instrução ou a renda total. “É fácil de
contar os bens e dar uma resposta correta e objetiva”, afirma. Ele admite que
algumas vezes a pesquisa erra. Pessoas solteiras que moram sozinhas em imóveis
pequenos, por exemplo, tendem a ser rebaixadas na pesquisa porque não faz
sentido ter uma quantidade grande do mesmo bem. “A redução do número de pessoas
na mesma família é um fenômeno recente que aos poucos vai se incorporando à
pesquisa. Estamos sempre atualizando os critérios”, diz.
Ainda que os resultados não sejam 100% corretos, ele diz que
esse tipo de levantamento tem grande valor estatístico porque permite entender
os hábitos de consumo de todos os segmentos. A classe alta, por exemplo, tem
características que não são vistas em outras categorias. O estrato mais rico da
população gasta mais com comida fora de casa, compra bens supérfluos, valoriza
marcas e contrata mais serviços.
Já a classe média compra bens de primeira necessidade, mas
costuma parcelar a aquisição de bens duráveis, como automóveis e
eletrodomésticos.
As pessoas classificadas dentro das classes D e E geralmente
são desempregadas ou estão precariamente ocupadas, com uma renda baixíssima.
“Muitas vezes alguém que mora em favela ou habitação precária é considerado de
classe média porque tem salário e renda para consumir”, diz Pilli.
Disponível em
http://exame.abril.com.br/seu-dinheiro/noticias/quem-pode-ser-considerado-rico-no-brasil?page=1&utm_campaign=news-diaria.html&utm_medium=e-mail&utm_source=newsletter.
Acesso em 24 ago 2014.