Elisa Campos
05/11/2014 -
Numa audiência com algumas centenas de pessoas, Tal
Ben-Shahar, especialista em liderança e psicologia positiva, decide fazer uma
experiência. Antes de colocar um slide com diversas formas geométricas, pede
para que o público contabilize, em 30 segundos, quantas formas diferentes
existem na figura que ele irá mostrar. Finalizado este tempo, ele pergunta:
quantas formas vocês contaram?
As respostas até variam, mas todos parecem ter algum palpite.
Shabar, então, muda a pergunta: que horas marcava o relógio da figura? Relógio?
Quantas crianças era possível ver dentro do ônibus? Criança no ônibus?
Silêncio. Ninguém - ou praticamente ninguém - havia reparado que existia um
relógio ou um ônibus. O foco estava voltado para outra tarefa. "As
perguntas são importantes, porque criam realidades ao definir as
respostas", afirmou Shabar durante palestra no HSM Expo Management, evento
de gestão realizado hoje (4/11) em São Paulo. Formado em em filosofia e
psicologia por Harvard, Shabar também é PhD pela faculdade em Comportamento
Organizacional. Ele é autor de dois bestsellers: Choose the life you want e
Being Happy - traduzidos para mais de 25 idiomas.
"Por muito tempo, a psicologia, preocupou-se em perguntar
o que estava errado com as pessoas. Nos anos 80, quando surgiu a psicologia
positiva, isso começou a mudar. Percebeu-se que, para ser mais efetivo na
resolução de problemas, era preciso concentrar-se no que dava certo". Mas
por quê?
O experimento de Shabar mostra que as pessoas enxergam
apenas um pedacinho da realidade que está na frente delas. "Isso não é
necessariamente um problema, se tivermos a consciência de que é apenas um
pedaço o que estamos vendo. Se não percebermos isso, no entanto, pagaremos um
preço muito alto em nossos relacionamentos e mesmo no trabalho". Segundo o
psicólogo, nos primeiros três ou quatro anos de um relacionamento, a parte do
nosso cérebro responsável pelo nosso crítico em relação ao parceiro
simplesmente não funciona. Após esse período, ela volta a operar - e a um ritmo
mais rápido que o usual, acendendo um senso crítico maior. É quando as pessoas começam a se perguntar:
mas o que está errado?
"O relacionamento talvez tenha milhares de coisas boas,
mas se o indivíduo só se perguntar sobre o que vai mal, de fato, essas coisas
maravilhosas começam a desaparecer. É como com o ônibus e o relógio. As pessoas
passam a não enxergar mais", diz Shabar."Não é de se surpreender que
tantos relacionamentos acabem".
O psicólogo diz saber exatamente qual é o problema do
relacionamento de todas as pessoas."O seu parceiro não é perfeito. E quer
saber mais? O parceiro do seu parceiro também não é perfeito", brinca.
"Por isso, os problemas potenciais se multiplicam exponencialmente".
Troque a pergunta
Segundo Shabar, desde os anos 80, a psicologia positiva tem
tentado provar que o simples gesto de trocar a pergunta "o que está
errado?" para "o que faz as pessoas darem certo, mesmo em ambientes
com adversidades?" aumenta o nível de felicidade. No ambiente corporativo,
a concentração sobre o que está funcionando tornaria os times e profissionais
mais competentes. Shabar cita uma pesquisa que realizou uma pequena
experiências com funcionários de uma empresa. "Eles foram instados a listar
por um tempo um progresso feito durante o dia de trabalho. Ao final da jornada,
passaram a relatar uma satisfação maior com o trabalho e apresentar até mesmo
um nível maior de resultados". Outro exemplo citado por ele é de uma
experiência similar, que pediu para que as pessoas listassem todos os dias,
antes de dormir, cinco coisas pelas quais eram gratas. "Houve nesse grupo
um aumento da felicidade e até melhoria na saúde", afirmou.
"É muito comum pacientes terminais relatarem se
sentirem vivos pela primeira vez na vida. Dizerem que conseguem apreciar mais
os amigos, a família ... Tudo isso existia antes, mas não era visto por
eles", afirma Shabar. Mas será que
precisamos que algo trágico aconteça em nossas vidas para apreciarmos tudo que
está dentro de nós e ao nosso redor?, questiona o psicólogo. A resposta é
óbvia: não. Basta apenas, segundo ele, fazer as perguntas certas.
Disponível em
http://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Carreira/noticia/2014/11/perguntas-sao-mais-importantes-do-que-respostas.html.
Acesso em 05 nov 2014.