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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

As pesquisas reiteram preconceitos

Fernand Alphen

Por mais moderna que seja a pesquisa de marketing e comunicação, todas partem de filtros classificatórios por região, sexo, idade e classe social. Para fins analíticos, ainda que as conclusões não tenham por objetivo segregar, é inevitável.

Faz cada vez menos sentido avaliar diferenças de comportamentos em função de critérios que não levam em consideração as profundas mudanças que a sociedade da informação trouxe.
O sentido de identidade regional é uma abstração que se baseia menos nas diferenças e mais por simples necessidade organizadora. O pertencimento cultural é fator de gosto e preferência antes de estar enraizado na tradição geográfica. A preferência por um conteúdo ou uma marca no Acre pode ter exatamente as mesmas motivações que as do Rio Grande do Sul porque os dois estados estão separados por um clique rápido, simples e gratuito.
O exemplo vale também para a segregação sexista, etária e de nível socioeconômico, por razões diferentes. Homens e mulheres, velhos e jovens, ricos e pobres são mais iguais do que diferentes em seus gostos, visões de mundo, ambições e sonhos. E cada vez mais iguais com o tremendo e incontrolável curto-circuito de informações que a Internet proporciona, indiscriminadamente. Mas insistimos com a lógica classificatória por falta de imaginação ou preguiça metodológica.
É evidente que não interessa muito analisar o comportamento de homens quando se vende absorvente feminino, ou de crianças quando se vendem carros, no entanto, as pesquisas clássicas são preconceituosas na largada quando classificam os analisados por critérios sociodemográficos.
E o preconceito é muito latente quando o corte é por nível de renda, instrução ou classe social.
É esse tipo de pesquisa, por exemplo, que reitera que a classe C tem dificuldades cognitivas e que, por isso, a comunicação para esses “pobres coitados” tem de ser racional, simplória e repetitiva. Que a classe C, feia e gorda, gosta de celebridades cacarejantes e clichês aspiracionais. Que a classe C, ignorante e desconectada, entende melhor a gritaria, o splash, o demo de produto, a fórmula problema-solução e não entende patavina de narrativas, de histórias, de linguagem clipada.
Vá la que até pouco tempo atrás era difícil pensar em outro tipo de recrutamento de pesquisa que não usasse de filtros sociodemográficos.
No entanto, já existe um terreno muito fértil, as redes sociais, para um tipo de pesquisa muito mais inspiradora.
Uma rede social agrupa indivíduos que se encontram e interagem por afinidades antes de sê-lo por região, sexo, idade e classe. É nas redes, e em seus agrupamentos, que podemos encontrar tipologias humanas cujas similaridades de comportamento e gosto são muito mais determinantes no processo de decisão de compra de uma marca ou de um conteúdo do que sua tradição regional, seu sexo, sua maturidade, instrução ou capacidade de consumo.
Em tempos de redes abertas, o preconceito, ainda que inconsciente, é uma simplificação intelectual ineficiente.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O nó da audiência na internet

Fernand Alphen
Existe um número mágico que mede o alcance de algumas mídias, em particular as impressas. Estima-se, há muitos anos, que cada exemplar de um jornal e revista seja lido por 3,5 pessoas em média. Esse número, embora queiramos crer que em algum momento tenha sido comprovado, é uma convenção. Ele serve de base para todos os cálculos e, assim, permite uma aproximação mais realista da audiência desses veículos.

É claro que ele é discutido, pois é provável que uma revista, por exemplo, de conteúdo adulto ou de variedades seja lida por mais pessoas do que uma de engenharia ou de caminhoneiro. Da mesma forma que convenções de discurso como “bom-dia” e “obrigado” são salutares ao bom convívio social, esses multiplicadores de alcance são universais e benéficos.
No entanto, o número mágico não se aplica aos conteúdos publicados online. Há uma lógica por detrás disso, é claro. A internet, como mídia, está baseada num fundamento matemático: tudo pode ser medido com exatidão. Sabe-se a quantidade de visualizações de um conteúdo, a quantidade de visitantes únicos, o tempo de permanência dos visitantes naquele conteúdo, etc.
A internet é uma mídia precisa. Porém, assim como não é aceitável considerar que uma revista seja lida apenas por um único leitor (o dono da revista), ainda que um conteúdo na internet seja lido em primeiro grau por apenas uma pessoa (ninguém empresta seu computador ou celular), existe um componente nunca mensurado nas pesquisas, a saber, o potencial de viralização do meio.
É, portanto, válido aceitar que um conteúdo publicado (ou veiculado) em um site tem um coeficiente multiplicador, na medida em que ele pode ser facilmente difundido, seja através de um simples copy-paste num e-mail, seja através de RSS ou reproduções automáticas. Em decorrência disso, um mesmo conteúdo (integral, em trechos ou modificado) pode alcançar muito mais pessoas do que simplesmente o visitante de primeiro grau quantificado pelas estatísticas de mensuração.
É precisamente nessa qualidade intrínseca do meio online que reside seu poder diferenciador. É exatamente aí que reside um dos nós da audiência na Internet e, por falta de raciocínio a respeito, uma parcela significativa do impacto de um conteúdo é expurgado de todos os cálculos.
Antes de propor uma solução (ou uma tentativa de), é importante relativizar a comparação entre a mídia referida no início (jornal ou revista) e a internet (em qualquer meio, jornal ou revista online, blog, rede social, etc).
Na mídia tradicional, o que define o multiplicador é o suporte físico do conteúdo. É uma espécie de fator da “durabilidade” do meio. Um jornal ou revista só pode ser lido por certo número de pessoas, porque a temporalidade é limitada. E, assim, convencionou-se que essa validade é de 3,5 leitores por exemplar.
A internet, por sua vez, é uma mídia autorrenovável. Não existe vida útil de um conteúdo publicado online. Ele pode perpetuar-se inumeravelmente como uma fênix.
Podemos dizer que um conteúdo online tem sua vida útil condicionada a dois fatores: a pertinência ou simplesmente o interesse, por um lado; e a capacidade de viralização de cada pessoa impactada, por outro. Em relação ao primeiro, quanto mais “interessante” for o conteúdo, maior a capacidade de reprodução. Esse é o dado intangível e impossível de mensurar. Vai de sua criatividade, impacto, estilo, originalidade, etc. Propomos, portanto, não nos aventurarmos em tentar quantificar tal fator, para não entrarmos em divagações conceituais.
Quanto ao segundo, a capacidade de viralização de cada pessoa impactada, esse sim, talvez seja possível mensurar ou convencionar.
Tomamos como base a visitação do conteúdo. É o ponto de partida que deveria, portanto, ser multiplicado por um fator. Vamos aceitar como referência de cálculo os número de visitantes únicos do conteúdo, dado simples de obter.
A internet proporciona diferentes atitudes por parte de seus visitantes. Alguns contentam-se com a interação do zapping. São visitantes passivos, na medida em que frequentam a internet apenas e tão somente para ler, assistir ou ouvir conteúdos produzidos por outros. Esta é a primeira classificação de atitude.
A segunda atitude diz respeito àqueles que, além de serem passivos, em maior ou menor grau também produzem seus próprios conteúdos (um e-mail é um conteúdo produzido, assim como um blog, um comentário em uma comunidade, etc.).
A terceira atitude refere-se aos que viralizam conteúdos produzidos por terceiros, seja através de um simples copy-paste ou de qualquer edição mais ou menos sofisticada.
A proposta aqui é, por conseguinte, encontrar a parcela de pessoas que possuem um comportamento de “viralizadores” na internet. Esse número não é difícil de obter. É um valor que só se mensura por declaração dos entrevistados, mas ele é possível. Ele pode ser mensurado em clusters ou pela média (viralizadores gerais da internet, viralizadores entre usuários de determinado tipo de conteúdo, entre usuários de redes sociais, etc).
O segundo fator a ser pesquisado é encontrar ou estimar o número de contatos de cada pessoa. Ou seja, o número médio de pessoas com os quais cada indivíduo se relaciona na internet. Mais uma vez, o resultado pode variar de acordo com o tipo de cluster, número de contato gerais médio da internet ou em determinada rede, o que também pode ser obtido facilmente e de duas maneiras: por declaração em pesquisa ou por informação do cluster estudado, quando se trata de uma rede social, por exemplo.
Se multiplicarmos a porcentagem de pessoas que viralizam conteúdo pelo número médio de contatos, podemos obter um aceitável multiplicador de visitantes.
É claro que nesse número estão expurgados os graus subsequentes, mas é mais razoável ater-se ao primeiro grau: já que procuramos estabelecer uma convenção, é prudente encontrar um número bastante conservador.
Para fins comparativos, é possível também estabelecer diferentes convenções para cada tipo de categoria em que se insere o conteúdo: o potencial de viralização de uma rede social, por exemplo, é certamente maior do que o de um portal, para categorizar em apenas dois grupos.
Para ficar ainda mais fácil de entender o princípio, vamos a um exemplo:
Digamos que determinado site da categoria “portal” tem 1.000 visitantes únicos por mês. O número médio geral de “viralizadores” é digamos 20%, e o número médio geral de contatos é 20. Portanto, a audiência desse site é de 1.000 + (1.000 x 20% x 20) = 5.000. O multiplicador convencionado de um “portal” seria, portanto, 5.
Se esse mesmo conteúdo estiver inserido em uma rede social com o mesmo número de visitantes únicos, teremos um cálculo de audiência diferente, já que há um número maior de viralizadores entre aqueles que pertencem a redes sociais, assim como é maior o número médio de contatos desse ambiente.
Por exemplo, se o número de viralizadores é de 40% em redes sociais e o numero médio de contatos for 50, a audiência desse conteúdo passa a ser 1.000 + (1.000 x 40% x 50) = 20.000. O multiplicador convencionado de uma rede social seria, assim, 20.
Esse cálculo pode fazer toda a diferença para efeitos comparativos do impacto potencial de um conteúdo publicado em uma determinada mídia online e outra. Ainda, esse número pode ajudar a parametrizar a internet na mesma lógica de outras mídias tradicionais.
A presente proposta é, evidentemente, uma ideia; entretanto, já é mais do que tempo de nos debruçarmos sobre esse tema, para não corrermos o risco de continuarmos considerando a internet uma mídia misteriosa e de difícil apreensão.
Dessa forma, quanto mais cedo criarmos essas convenções, mais rápido poderemos converter inteligências para um cenário de mídia que a cada dia cresce em complexidade.
Finalmente, o número multiplicador resolve apenas parte do problema, uma vez que a lógica da internet como mídia deve continuar a ser alvo de estudos e raciocínios próprios. Devemos cessar de raciocinar com adaptações acochambradas, imprecisas, e míopes, ou o controle fundamental das ferramentas de mensuração inviabilizará definitivamente o mercado editorial e publicitário tradicional.
Ou tentamos desatar os nós, por mais inexatas que pareçam essas tentativas, ou a esfinge nos engolirá.