Há alguns anos, iniciou-se um caloroso debate sobre o que era comunicação “off-line” e “online”, buscando-se entender onde se iniciava uma e terminava a outra, quais eram as fronteiras. Quem deveria cuidar da comunicação digital e da comunicação tradicional: as mesmas agências ou agências distintas? Nos grupos de marketing, uma das principais questões era ter foco nas duas linhas de atuação, garantindo que não se privilegiasse demasiadamente a segunda em detrimento da primeira, pois enquanto uma era segura e de retorno conhecido, a outra era ainda para ser desbravada e o retorno financeiro, apenas um desejo e uma intenção, que ainda não tinham sustentação nos balanços e nos cálculos de ROI das empresas.
Um pouco mais de um par de anos depois, ficou evidente que “on” e “off” iriam conviver para o resto de nossas vidas, e que essa convivência era multiplicadora de resultados. Começou a se materializar o conceito que todos vendiam, mas não entregavam: experiência 360 graus, baseada na tecnologia e na lógica digital, permitindo que a integração entre várias áreas da comunicação fosse possível e, o melhor, com resultados financeiros tangíveis. É o desdobramento desse conceito “on” e “off” para a cadeia de serviços que quero destacar nessa coluna.
No Dia das Mães, decidi dar um refrigerador de presente para a minha mãe. Consultei todos os sites das grandes redes de varejo. Pesquisei todas as marcas, modelos e especificações que me interessavam. Mas, como é comum em uma compra de bens semiduráveis, eu precisava ter o contato físico com o produto: dar uma olhada para ver se o freezer tinha o tamanho adequado para gelar todas as bebidas nos nossos almoços de domingo, se o refrigerador daria conta de preservar a comida de uma família relativamente grande e festeira como a minha, sempre reunida na casa dos meus pais.
De posse de toda a informação levantada, fui visitar duas lojas físicas, uma de cada uma das maiores redes de varejo do País, em busca de “ver para crer” e decidir-me entre alguns modelos pré-selecionados. Sábado pela manhã, véspera do Dia das Mães.
Ao chegar à primeira delas, fui surpreendido e frustrado por um estoque pequeno de modelos. Por volta de oito, somando-se todas as marcas. Quando perguntei sobre minhas pré-selecionadas, o vendedor prontamente respondeu dizendo que não as tinha na loja, mas poderia mostrar-me no site da empresa. Senti-me voltando à estaca zero. Saí de casa porque queria ver os refrigeradores, e ele queria me mostrar no site? Era como se ele estivesse me dizendo: “o que você veio fazer aqui?”.
Obviamente insatisfeito, segui para a segunda loja, essa de outra grande rede, concorrente da primeira. Procurei por uma loja maior para garantir que tivesse mais modelos para abrir as portas, verificar a qualidade do material e namorar um pouco mais antes de decidir-me por uma compra de quase R$ 2 mil.
Achei que tinha feito um bom negócio. Havia nessa megaloja muito mais modelos do que na anterior e consegui verificar inloco se minhas expectativas estavam corretas. Decidi-me por um modelo e, quando iniciei a conversa para fechar negócio, veio mais uma surpresa: nem o preço nem as condições de pagamento que eu havia encontrado no site da mesma loja onde eu estava poderiam ser honrados na compra ali, na hora. Eram mais de 10% de diferença de preço e juros zero na internet para pagamento em 12 vezes versus — acreditem — 20% na loja. Como eles não podiam fazer o mesmo preço e me dar as mesmas condições para pagar que anunciavam na rede?
Razões ao vendedor não faltaram: “na internet eles não têm o custo do espaço físico”, “na internet eles não pagam comissão para a gente”, “é, o senhor imagina onde vão parar nossos empregos”. Impressionante: por alguns minutos imaginei que eram duas empresas diferentes! O pior é que, mesmo estando ali, na frente do refrigerador que eu queria comprar, novamente a minha única alternativa era voltar para casa e comprá-lo a partir do meu computador. E se eu comprasse em um terceiro site? Faz sentido deixar um cliente disposto a comprar um refrigerador sair da sua loja por não ter o produto ou por não alinhar condições de preço e pagamento?
Juntar on e off-line! No serviço agregado aos produtos, essa integração também é necessária. Não são dois mundos diferentes e os consumidores não os separam. A experiência com as marcas e os produtos tem que ser completa, e passa por toda a cadeia de negócio. Da escolha do produto, passando pelos canais de distribuição e pela comunicação, até o serviço pós-venda, tudo tem que estar alinhado. Embora pareça óbvia, essa tarefa ainda é um dos maiores desafios de todas as empresas. Elas têm que adequar suas ofertas para que problemas como esse sejam minimizados e para que as diferenças logísticas dos vários canais de distribuição sejam transparentes para o consumidor. Diminuem a irritação e a frustração enquanto aumentam a satisfação e a fidelidade.