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domingo, 29 de janeiro de 2012

Como incentivar compras por impulso?

Lia Nara Bau 
As compras por impulso tornaram-se verdadeiras ferramentas de marketing. Seduzir o consumidor e incentivá-lo a levar para casa algo que não havia planejado é o desejo de todo o ponto de venda. Porém, para obter resultados com elas, é preciso muito mais do que colocar alguns produtos perto do caixa e torcer para que algum cliente os veja e se interesse.

O sócio-diretor da Dia Comunicação (São Paulo/SP) e autor do livro ‘Compras por impulso’, Gilberto Strunck, explica que alguns produtos são chamados compras de destino, que são aqueles que compramos regularmente nas lojas, e cada tipo de loja tem os seus produtos de destino. Apesar disso, não há produtos específicos de compras por impulso, pois qualquer produto pode ser comprado por impulso, inclusive um avião, se o poder aquisitivo da pessoa permitir.

“Há, contudo, produtos que normalmente têm uma estratégia para serem vendidos por impulso. Geralmente são artigos de menor valor agregado e que ficam junto aos check outs das lojas. Você não entra na loja para comprá-los, mas na finalização de uma compra, normalmente no caixa, se pergunta: por que não?”, argumenta.

Segundo Augusto Nascimento (São Paulo/SP), consultor de branding e marketing da BBN Brasil, autor do livro 'Os 4 Es de Marketing e Branding' e do blog www. estrategiaebranding.com.br, salienta que compra por impulso não é o mesmo que compulsão. “Compulsão é um comportamento doentio. É gente que compra para satisfazer necessidades que nada têm a ver com o produto adquirido. Compra alimentos para suprir carências afetivas”, exemplifica. 

Já a compra por impulso só acontece porque um bom produto está bem exposto. E quem compra, responde ao impulso gerado pelo seu desejo de possuir ou consumir aquele item. Nascimento explica que, na maioria das vezes, a compra por impulso não foi mesmo planejada. Mas aconteceu porque o cliente viu o produto e lembrou que precisava dele ou que poderia precisar. “É a típica situação de quem está passando no caixa do supermercado para pagar as compras, vê as pilhas expostas e lembra que o controle remoto da TV está com a bateria fraca. Esse mesmo comportamento acontece com outros itens como: cola, lâmpadas, linha e agulha e outros itens cujo consumo é mais eventual, de modo que as pessoas acabam esquecendo de colocá-los em suas listas de compras”, afirma.

LOCALIZAÇÃO - Além de ficarem próximos ao caixa, esses produtos também podem estar em pontos estratégicos da loja. Porém, em alguns estabelecimentos paga-se por uma exposição diferenciada. “No layout pode-se ter exposições que propiciem uma venda cruzada. É o caso, por exemplo, nos supermercados, quando expõe queijo ralado junto com as massas. Propicia o consumo casado desses produtos”, afirma Strunck.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Sentidos: armas para conectar clientes

Luciane Robic

Os tempos mudaram. Agradar e fidelizar o consumidor a uma marca vem sendo uma tarefa cada vez mais difícil e desafiadora. Marcas novas surgem diariamente nas ruas e shoppings, e brigam com todas as armas para conseguir um lugar ao sol. Se antigamente as grandes tinham mais vantagens pela sua experiência de vida, maturidade e capitalização, hoje marcas pequenas, exclusivas e conhecidas por poucos também podem ter sucesso pela possibilidade de se relacionar mais intimamente com o consumidor. 

Lipovetsky (Luxe Eternel, Luxe Emotionnel) leva essa questão de relacionamento de compra do consumidor ao seu limite: “a busca dos gozos privados suplantou a exigência de ostentação e de reconhecimento social: a época contemporânea vê afirmar-se um luxo de tipo inédito, um luxo emocional, experiencial, psicologizado, substituindo a primazia da teatralidade social pela das sensações intimas”.

As experiências e as sensações são um ponto vital para todos, qualquer que seja sua cultura, ocupação ou classe social. Essas experiências e sensações começaram a ter seu valor percebido e descrito à medida que a sociedade de serviços evoluiu e demonstrou o valor do intangível, e cresceram ainda mais com a passagem para a sociedade do conhecimento, onde o imaterial se sobressai cada vez mais. Dessa forma, o poder de diferenciação para se tornar uma marca exclusiva e especial na mente e no coração dos consumidores está cada vez mais complexo. Caminha cada vez mais para sua composição imaterial, impulsionada pelos sentidos e pelas experiências que as marcas promovem e que permeiam por toda sua atmosfera.

Com tantas opções de estilos e produtos, o consumidor é quem dá as cartas. É ele quem aponta o dedo para onde quer ir e para o que quer comprar, com muito mais sabedoria do que tempos atrás. Para agradar a esse consumidor complexo e exigente, mais do que colocar um produto bacana nas prateleiras, as marcas precisam saber como interpretar suas expectativas emocionais e sensoriais. Saber do que ele gosta, quais são seus principais grupos de relacionamento, suas práticas preferidas, os lugares que frequenta, os cheiros que o estimulam, as músicas que ouve, com que mídias dialoga. É necessário compreender a arquitetura sensorial que o conecta ao mundo da marca. Arte ou ciência, esse conhecimento e as ações dele decorrentes são conhecidas hoje como branding, a atividade de cada marca para entender o universo do seu público e criar elementos que a identifiquem com o seu público, estabelecendo relações por meio de imagens, sensações, percepções e associações.

Para empresas que desejam criar uma estratégia de marca efetiva, tão importante quanto o desenvolvimento do produto está a construção da arquitetura sensorial de sua marca. Sim, estamos falando mesmo dos cinco sentidos, do que podemos, como consumidores, experimentar e vivenciar por meio deles. Aí está uma das principais tendências do marketing: conectar o consumidor pelo cheiro, pela música, pelo visual, pelo tato, pelo sabor. Fazer com que ele, ao entrar numa loja e sentir que aquele cheiro é só dela, a identifique de imediato e, ao mesmo tempo, se identifique com sua personalidade. Assim acontece com os recursos visuais que se constroem nos ambientes da marca, com docinhos e bebidas oferecidos, com os componentes da decoração do ambiente, responsáveis pela interatividade, quase como brinquedos com os quais o consumidor se diverte enquanto faz suas compras, envolvido naquela atmosfera que o deixa se sentindo em casa, e com a qual se identifica inteiramente. Isso tudo, claro, tem que vir acompanhado de boa comunicação, operação de varejo, distribuição, bons produtos, preços competitivos e toda a cartilha que a marca deve ter para fazer um bom trabalho de marketing.

Alguns bons exemplos? Nada melhor do que apontar para as marcas de moda, uma das categorias de produtos mais comprometidos com a verbalização, sem a necessidade de palavras, para apontar a sua personalidade. A Zara é uma delas; por não fazer anúncios ou uma comunicação ativa, aposta no ponto-de-venda, que vem recheado de sensações: quilômetros de vitrinas ao redor do mundo, música, cheiro e ambientes totalmente planejados para dispor seus produtos milimetricamente disponíveis para experimentação e aprovação do cliente, sempre com uma sensação de unicidade e de escassez. 

A Osklen, por sua vez, consegue alinhar toda a atmosfera criada nos desfiles aos catálogos de produtos, às viagens publicadas no site e nos anúncios e ao ponto de venda. A atmosfera da grife se verbaliza nas sensações provocadas quando se entra na loja e os produtos, discretamente colocados no entorno do cliente, fazem compreender e, principalmente, vivenciar o estilo despojado que a marca propõe. Uma máquina fotográfica, uma prancha de surf, uma fotografia em branco e preto, que provoca no consumidor a sensação de já fazer parte das cenas da memória da marca – e portanto a relação inversa é verdadeira: as cenas da marca já fazem parte da vida e da memória daquele consumidor. 

A Le Lis Blanc sofisticou sensorialmente seu ponto-devenda: sua vitrina é expressiva, sempre tratando de temas que ao mesmo tempo em que anunciam o conceito da marca, aguçam o desejo de experimentar suas coleções. A iluminação ajuda a disposição da loja, formando um percurso atraente e peculiar, o cheiro exclusivo que paira no ar e a música que toca sutilmente, envolvem profundamente o cliente: “essa marca é para mim, essa marca é minha”.

A moda é dinâmica, pede conhecimento, técnica e sofisticação na interpretação dos sentidos. Como a web, que permite escolhas a um simples click, para ser deixada para trás num instante uma marca precisa de não mais do que alguns passos dentro de um shopping center. Apesar de a moda estar fortalecida no Brasil, ainda identificamos problemas de produto e, muitas vezes, um foco totalmente direcionado para eventos e desfiles, que apenas compõem um momento de exposição da marca, mas não realiza a transição das informações apresentadas nas passarelas para as lojas de forma eficaz.

Uma marca forte se constrói com o olhar voltado para o consumidor, sempre. É ele o foco de todas as ações, é ele quem vai comprar. E se o negócio agora é conquistá-lo pelas sensações, é hora de saber qual seu gosto musical, que tipo de perfumes prefere, suas cores prediletas, as histórias que o emocionam ou divertem, os sabores que o excitam e colocar todo esse universo sensorial no ponto-de-venda e em todos os demais pontos de interação dele com a marca. Depois, é esperar pelo sucesso da última coleção.