Carolina Feitoza
4 ago 2014
Muito se fala do advento da classe C, da nova classe média,
dos hábitos de consumo desta nova classe. No entanto, a cada momento surge uma
nova estatística, uma nova diretriz, um novo dado voltado para este público.
Gostaria de entender, de modo profundo, o que quer dizer “os
hábitos de consumo da nova classe C”, como especialistas repetem por aí. Não
consigo compreender um estudo científico em que não são levadas em consideração
as variedades existentes na formação cultural, na história de vida de seus
indivíduos. É claro que quando se estudam sociedades, percebe-se que (muitos)
padrões se repetem, mas não podemos tratar um grupo de milhões de pessoas – das
mais diversas origens, dotadas de visões variadas e de diferentes formações –
colocando-os no mesmo saco.
É muito provável que pessoas cujo acesso ao consumo sempre
foi muito pequeno estejam ávidas a consumir. É inegável que existe um mercado
em potencial a ser desenvolvido para um público que historicamente esteve
excluído dos planos estratégicos de mercado. Entretanto, como em qualquer plano
estratégico de negócios, é importante conhecer seu público profundamente,
levando em consideração as variações ali contidas.
A classe C, como qualquer outro grupo economicamente
expressivo, não é uma comunidade. Ela não tem um único, restrito ou imutável
sistema de valores, não tem uma única história de vida, não tem uma única
origem ou padrão de escolaridade. Os dados referentes à renda ou à situação
material em geral de uma população podem ser representativos do poder de compra
destas pessoas, mas pouco explica ou descreve o que estas pessoas estão
valorizando, procurando, em quais modelos estão se espelhando. Ou seja, pouco
indicam ao posicionamento estratégico de uma marca.
É necessário a qualquer empreendimento pesquisar seu público
alvo, mas para além disso é tão importante quanto sair das esferas macro da
análise e atingir as nuances existentes neste grupo.
Admitir apenas um padrão de consumo representa criar uma
teoria para encaixar na realidade, o que invariavelmente fracassará. É passar
por cima de toda a variedade e, consequentemente, do potencial variado de
consumo do grupo em questão.
Dentro de qualquer classe, haverá diferenças entre valores,
cultura, religião, orientação de gênero e visão de mundo. Haverá aqueles grupos
que valorizam mais a educação dos filhos, acesso a cultura, haverá os que
valorizam lazer, experiência, os que valorizam as marcas e rótulos
representativos de celebridades. Para além das questões relacionadas a preço e
capacidade de pagamento, é necessário entender que esta classe, como qualquer
outra, abarca uma variedade incontável de valores, e isto estará diretamente
relacionado às escolhas de serviços ou produtos. Assim como qualquer outro grupo,
o consumo não está exclusivamente relacionado a preço e formas de pagamento,
ainda que estes sejam fatores importantes no momento de escolha.
É necessário entender a lente que o seu grupo, classe C ou
qualquer outra, está usando para enxergar o mundo, a lente que usam para fazer
suas escolhas, a lente responsável pela identidade que a sua marca pretende
assumir. Esta lente só pode ser reconhecida a partir da observação atenta dos
estilos de vida e visões de mundo existentes, aliados sim aos dados econômicos
e estatísticos, mas não isoladamente partir destes.
Disponível em
http://www.ideiademarketing.com.br/2014/08/04/a-classe-c-nao-e-uma-massa-homogenea/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+ideiademkt+%28Ideia+de+Marketing%29.
Acesso em 24 ago 2014.