Camila Pati
08/03/2014
A mulher brasileira é uma das que menos faz
networking, segundo pesquisa do GEM (Global Entrepreneurship Monitor). Seja no mundo corporativo ou empreendedor, a maior
participação feminina em eventos de networking ainda é um dos desafios para
diminuir as barreiras profissionais entre os gêneros no mercado de trabalho.
EXAME.com perguntou a duas especialistas - que também são
mulheres de sucesso na carreira - que listassem algumas razões por que as
executivas deixam o networking de lado e não o usam como estratégia de
negócios:
1 É constrangedor ser minoria
Basta começar a ampliar a rede de contatos e frequentar
eventos e happy hours para notar: elas são minoria, sempre.
“Outro dia, eu tive uma reunião e quando cheguei, percebi
que eu era a única mulher no restaurante. Falei isso na mesa e os homens
disseram que nem haviam notado”, conta Deb Xavier, fundadora do Jogo de Damas,
plataforma em que um dos objetivos é fomentar o networking entre as mulheres.
“Mas se fosse um lugar com apenas mulheres, os homens também
se sentiriam estranhos. Eles não notam porque não é no calcanhar deles”, diz
Deb. Ela lembra também que o networking mais estratégico acaba acontecendo em
níveis mais altos onde há percentual menor de mulheres.
“Faço parte de um grupo ligado à Fundação Getúlio Vargas, e
o ambiente é de homens”, diz Helena Ribeiro, fundadora do Grupo Empreza.
Vencer o constrangimento de ser minoria não é fácil, mas
pode ser extremamente benéfico, segundo ela. “Deu-me mais segurança para
enfrentar outros ambientes”, diz Helena.
2 As regras do jogo ainda são masculinas
Em entrevista a EXAME.com, a executiva Ana Paula Bógus,
presidente da Kimberly Clark no Chile contou ter sido barrada ao pedir para participar
de um grupo de networking de CEOs de empresas. O motivo? Nas reuniões, com
direito a vinho e charuto, só entram homens.
“A regras do jogo são masculinas, os homens têm o mando de
campo, a torcida é masculina, e as mulheres têm que praticar um esporte que não leva em conta as
suas particularidades”, diz Deb Xavier.
“O principal obstáculo é a cultura que estabelece que
existem coisas para menino e coisas para menina e que se estende até a vida
adulta”, diz Helena Ribeiro.
De acordo com Deb, o primeiro passo é tomar consciência
disso. “Ela precisa estar ciente disso para que consiga definir a melhor
estratégia”, diz.
3 Tempo
Executiva, mãe, mulher. São muitos os papéis exercidos e
conciliar carreira, marido, filhos, pais, vida social e ainda ter um tempo para
frequentar reuniões pós-expediente, happy hours e eventos é quase impossível.
“E não queremos abrir mão de nenhum destes papéis”, diz Helena.
Afinal, mesmo com toda a ajuda do parceiro, o sentimento,
diz Helena, continua sendo de que a responsabilidade com a casa e os filhos é
da mulher. Promover a divisão de tarefas, em casa, sem culpa (mesmo) é talvez a
maior dificuldade.
4 Objetividade
“Eu entendo o networking como construção de relacionamentos
e a mulher precisa conseguir trabalhar isso tendo foco em negócios”, diz a
fundadora do Jogo de Damas.
Ela percebe, em algumas mulheres, falta de objetividade
nesse ponto. Hábil em estabelecer laços de amizade, o risco é confundir
contatos profissionais com amigos.
“A dificuldade de se apoiar nesta questão pessoal de ficar
amiga e não conseguir direcionar pra o profissional depois”, diz Deb.
5 Falta de modelo feminino
Faltam executivas em quem se inspirar na hora de fazer
networking, de acordo com as duas especialistas.
Por isso, às vezes é preciso primeiro reunir as mulheres em
ambientes que sejam dominados por elas para que a troca de experiências dê a
segurança que falta para apostar em outros horizontes.
É o que a organização Lean In, lançada pela COO do Facebook Sheryl
Sandberg se propõe a fazer. O Jogo de Damas, que já fazia isso aqui no Brasil
antes mesmo da “Toda Poderosa do Facebook” encampar a ideia, é o único parceiro
brasileiro da iniciativa.
6 Medo de ser mal interpretada
É um receio frequente que impede muitas mulheres de tomar a
iniciativa, dizem Helena e Deb. “Às vezes a mulher não consegue ser mais direta
porque não quer ser interpretada como mandona, ou se não adota um estilo mais suave porque vai ouvir que não tem pulso firme”,
diz Deb.
Outro ponto é como deixar clara a intenção puramente
profissional e estabelecer limites para as relações de trabalho. “As mulheres
têm receio de se expor de maneira que possa ser considerada inadequada”, diz
Helena.
Disponível em http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/6-dificuldades-que-so-as-mulheres-tem-ao-fazer-networking?page=1.
Acesso em 10 mar 2014.