Victor Martins
21/04/2014
São Paulo e Brasília disputam o posto de cidade
mais cara do Brasil. Comparando o custo de vida com o restante do País, a
capital paulista tem preços 9% maiores que a média nacional e a federal, 15%
superiores.
Os cálculos são parte de um estudo do Banco Central (BC) que
projeta que serão necessários 25 anos para a região metropolitana de São Paulo
recuar para o preço médio verificado na média do País.
O Nordeste, em contraponto, tem o menor custo de vida, 14%
inferior ao da média nacional. No entanto, essa diferença começa a diminuir.
Com o avanço econômico da região Nordeste nos últimos anos e
a maior demanda por produtos e serviços, os preços desses itens passaram a
subir, mas o processo ainda é lento: serão necessários 89 anos para que a
região atinja o custo de vida médio do Brasil.
No Norte, esse prazo de convergência é ainda maior, e chega
a 119 anos. O estudo do BC destaca ainda que, das cinco grandes regiões
brasileiras, três estão ficando mais caras (Norte, Nordeste e Sul), uma está
ficando mais barata (Sudeste) e uma está estável (Centro-Oeste), sem
perspectiva de cair para a média nacional.
Para economistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias
em tempo real da Agência Estado, os dados do Banco Central evidenciam, além das
diferenças regionais de níveis de preço, que as desigualdades brasileiras
persistem.
A despeito de avanços, sobretudo depois da expansão do grupo
que se convencionou chamar de nova classe média, e de programas de distribuição
de renda, as regiões onde são verificados os menores custos de vida ainda estão
associadas com os menores salários e os piores níveis de bem estar social, com
exceção do Sul.
"Essa diferença de preços se explica pelas diferenças
históricas e pelo mercado de trabalho regional", afirma Vagner Alves,
economista da gestora de recursos Franklin Templeton. "No caso de São
Paulo, o custo da mão de obra é o que puxa os níveis de preço, assim como em
Brasília."
Disparidade
Segundo a pesquisa, o maior nível de qualidade de vida está
no Sul. Para Alves, isso se explica porque a região tem patamar de preços 4%
menor que a média nacional e, ao mesmo tempo, baixa taxa de desemprego.
"Consequentemente o Sul também detém uma das rendas
mais elevadas", observa o economista Alves. "Se comparar São Paulo
com Porto Alegre, não há diferença no preço de serviços; essa disparidade pode
ser observada, no entanto, nos preços de bens e nos preços administrados, segmentos
nos quais a inflação paulista é maior", argumenta.
O Norte e o Nordeste, em contraponto, têm os menores níveis
de bem estar, mas se aproximam gradualmente das outras áreas do País.
Para Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do
Comércio (CNC), houve um processo entre 2003 e 2012 no qual o custo de vida
mais baixo ajudou a impulsionar a renda e o poder aquisitivo.
Na visão de Bentes, porém, esse processo perdeu força a
partir de 2013. "Nas regiões mais pobres, a pressão maior vem dos preços
dos alimentos", afirma ele.
Tabelas
Sérgio de Souza Carvalho Júnior, diretor do Grupo 5 sec
Brasil, explica que a rede de franquias de lavanderias trabalha com quatro
tabelas diferentes para que os preços se adéquem à realidade local.
"Em Alagoas o pessoal trabalha com tabela zero, a mais
barata. Isso porque a concorrência lá ainda é contra a lavadeira de rio",
relata Carvalho.
"A gente tem de estar antenado para respeitar as
necessidades de cada micro região. Dentro da Grande São Paulo, eu tenho cinco
grupos de lojas e o pessoal trabalha nas tabelas 1, 2 e 3", explica o
diretor do Grupo 5àsec Brasil.
Segundo ele, a diferença de preços entre uma tabela e outra
é de 12% a 15%."Varia de acordo com o poder aquisitivo da população de
cada cidade e local."
Na opinião de André Braz, economista da Fundação Getúlio
Vargas (FGV), "a política de salário mínimo fez com que o consumidor,
sobretudo em regiões pobres como Norte e Nordeste, incorporasse hábitos no
cotidiano que passaram a estimular a inflação”.
"A gente observa, quando faz os indicadores de preço,
que os custos são maiores em regiões como Sudeste e Centro-Oeste, mas os
índices não mostram tão claramente, como faz essa pesquisa do Banco Central, as
diferenças regionais de preço", pondera Braz.
Carestia
Um levantamento informal feito pela reportagem sobre o custo
da alimentação nas proximidades de prédios do Banco Central, em diferentes
regiões, ilustra os dados da pesquisa da própria entidade.
Nas proximidades da sede do BC, em Brasília, o preço do
prato feito, por exemplo, que é um produto comum a todas as regiões
brasileiras, é R$ 12, o mais elevado entre as cidades observadas. Entre o ano
passado e 2014, o preço desse prato foi reajustado em 20%.
Já em Recife, o custo do prato feito - conhecido em várias
regiões como PF - foi reajustado em 28,57% entre um ano e outro, mas, mesmo
assim, na cidade ele sai por R$ 9.
Disponível em
http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/grande-sp-e-brasilia-tem-os-maiores-custos-de-vida-do-pais.
Acesso em 21 abr 2014.