Flávia da Silva Santos
29 de dezembro
de 2014
Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar, realizada entre
2008-2009 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, uma em cada
três crianças brasileiras com idade entre 5 e 9 anos estão com peso acima do
recomendado pela Organização Mundial da Saúde e pelo Ministério da Saúde.
Estudos estimam que 95% dos casos de excesso de peso em
crianças estariam relacionados à má alimentação, os outros 5 % seriam resultado
de fatores orgânicos. Em função de sua crescente influência e autonomia na
escolha dos produtos adquiridos pela família, as crianças estão assumindo um
papel cada vez mais importante nas decisões de consumo, o que as tornam um
segmento de mercado cada vez mais visado nas estratégias de marketing das
empresas de produtos manufaturados.
Pesquisas mostram ainda que crianças brasileiras influenciam
cerca de 80% das decisões de compra de uma família. As categorias de produtos
mais suscetíveis à influência infantil são os produtos alimentícios
industrializados. Desses produtos, estão no topo da influência a compra de
biscoitos e bolachas (87%), refrigerantes (75%), salgadinhos (70%), seguidos de
achocolatados, balas, chocolates, iogurtes, macarrão instantâneo, cereais e
sorvetes.
Tal fato é relevante, pois, os índices de crianças com
sobrepeso acompanha o crescimento do volume investido no marketing
infanto-juvenil pela indústria alimentícia.
Investigando a influência do marketing nas escolhas
alimentares das crianças, as alunas do Centro Universitário Anhanguera de
Niterói (UNIAN), Aline Andrade de Oliveira e Graziela de Almeida Pereira Lobo,
sob a minha orientação, analisaram os rótulos de 22 produtos que apresentavam
apelos atrativos ao público infantil (personagens, desenhos, brindes, etc).
Dentre os alimentos foram revisados os rótulos de bolos industrializados, fast
food, laticínios, cereais matinais, sucos prontos, empanados, bebidas
achocolatadas, macarrão instantâneo, biscoitos recheados e salgadinhos.
O sódio esteve presente em quantidades excessivas (mais que
1,2 mg%), nas porções de bolos industrializados, sucos industrializados,
bebidas achocolatadas, cereais matinais, empanados, salgadinhos, macarrão
instantâneo e fast foods. Com relação ao biscoito recheado, se nos basearmos na
rotulagem nutricional obrigatória recomendada pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) para crianças de 7 a 10 anos, a ingestão de todo
o pacote fornece 96% da quantidade recomendada diária para sódio.
Notou-se alta densidade energética nas porções de bolos,
biscoitos industrializados, cereais matinais, frangos empanados, salgadinhos,
macarrões instantâneos, fast foods, que normalmente são consumidos em
quantidades superiores as porções apresentadas nas tabelas de informações
nutricionais desses alimentos. A densidade energética é definida como a caloria
disponível por unidade de peso.
Os alimentos industrializados induzem ao consumo excessivo
de calorias, pois apresentam alta densidade energética, alta palatabilidade,
além do baixo custo, fácil acesso e alto marketing. A alta ingestão de energia
desencadeia o desenvolvimento da obesidade e, consequente, eleva o risco de
diversas outras doenças, como as cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de
câncer.
A análise dos ingredientes mostrou a presença de
conservantes e edulcorantes (adoçantes) em sucos industrializados e gelatinas,
que não é indicado para crianças que não apresentam diabetes.
Dentre os 22 alimentos analisados, 86,4% apresentaram alto
teor de sódio, 45,4% apresentaram gordura saturada acima de 10% e, 63,6% se
mostraram com alta densidade energética.
A rotulagem nutricional dos alimentos permite ao consumidor
o acesso às informações nutricionais e aos parâmetros indicativos de qualidade
e segurança do seu consumo.
Apesar da legislação brasileira de rotulagem de alimentos
ser abrangente há ainda a necessidade de maior fiscalização para cumprimento
das normas estabelecidas. Outro ponto a ser discutido é a adequação da
informação nutricional presente nos rótulos à idade do público-alvo ao qual o
alimento se destina.
Disponível em
http://www.administradores.com.br/noticias/marketing/marketing-para-o-publico-infantil-problemas-e-consideracoes/96382/.
Acesso em 29 dez 2014.