Talita Abrantes
29/07/2014
De casar a comprar um imóvel, passando pela
viagem dos sonhos até a meta de fazer uma pós-graduação ou, quem sabe, abrir
uma empresa. A lista de grandes decisões financeiras que uma pessoa pode tomar
ao longo da vida é extensa.
Os recursos, no entanto, são limitados. E pior: nem sempre
temos sensatez suficiente para administrá-los. Quantas vezes você não se pegou
comprando um produto só porque ele estava em promoção quando, na verdade,
deveria poupar para um objetivo financeiro maior? Pois então.
Os estudiosos da psicologia econômica e das finanças
comportamentais encontraram algumas explicações para atitudes como esta. Eles
afirmam que a maior parte das decisões financeiras que tomamos é irracional,
impulsiva e intuitiva. Veja algumas tendências que balizam nossas escolhas e
que podem nos conduzir ao erro:
Ter olhos apenas para o agora
A conta bancária no vermelho pode ser a fonte da sua atual
dor de cabeça, mas não a raiz de todos os males financeiros da vida. De acordo
com o consultor financeiro André Massaro, no cerne de boa parte das decisões
financeiras equivocadas está o foco apenas no curto prazo – sem levar em conta
como aquela escolha pode impactar seu futuro no médio ou longo prazo.
Na prática, essa visão exerce uma sensação de urgência sobre
as pessoas. “O tempo inteiro a gente tem que satisfazer nossos impulsos já”,
diz Vera Rita de Melo Ferreira, membro do Núcleo de Estudos Comportamentais da
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e autora do livro "A Cabeça do
Investidor".
“Falamos que precisamos de uma televisão hoje, para já.
Compramos o aparelho e, passada uma semana, vemos que ele não é tão importante
assim”, afirma Massaro. Apesar disso, o baque para as suas contas já foi deflagrado
e, se você não pagou à vista, sentirá o peso das parcelas por um bom tempo
ainda.
A festa de casamento pode ser um exemplo claro deste tipo de
comportamento. “A maioria das pessoas não entende que é uma mudança para o
longo prazo”, diz. Assim, pensa-se demasiadamente nas questões voltadas para a
cerimônia e recepção do que para as demandas da vida a dois de fato. Com isso,
“o que vem depois pode não corresponder ao evento apoteótico”, afirma Massaro.
Acreditar no conto da “última oportunidade”
O mercado sabe muito bem como usufruir desta tendência
humana. As promoções “incríveis”, por exemplo, estão aí para provar. Diante de
um desconto exorbitante ou de uma condição “única”, temos a sensação de que
aquela é a última chance de se fazer um bom negócio.
“As promoções são atraentes porque oferecem um ponto de
referência, que pode ser correto ou não”, explica Vera. “Se você não compra,
fica o sentimento desconfortável de que perdeu uma oportunidade que nunca mais
irá se repetir na vida”, diz. O que, na maioria dos casos, não é verdade.
Querer uma vida que não é a sua
“O ser humano vive na condição de buscar entender qual é a
própria posição no mundo, em que lugar está”, diz Vera. “Precisamos de um
parâmetro”. O problema é que, hoje, compramos qualquer referência, segundo a
especialista. E, sem questionar as próprias perspectivas para o futuro, cede-se
a estímulos de consumo desenfreado.
O efeito colateral não poderia ser outro: “Se a pessoa está
com a conta negativa, provavelmente, está vivendo uma vida que não é a dela”,
diz Licelys Marques, planejadora financeira certificada pelo IBCPF.
Pautar-se pela alegria futura
Outro problema é tomar decisões baseando-se em possíveis
(mas não garantidos) sentimentos futuros. “A gente foca em uma situação futura
e atribui um valor maior ao evento do que ele realmente é”, descreve Vera. “Mas
a vida é dinâmica e esta previsão de sentimentos pode não se concretizar”.
Ter medo de perder
“Não temos aversão ao risco sempre. Temos, na verdade,
aversão à perda”, afirma Vera. Ela explica: imagine um casal que já começou a
pagar as despesas do casamento, mas que no meio do processo descobre que não
quer mais isso. Qual seria a atitude mais sensata diante da conclusão e de todo
dinheiro investido?
Temendo perder tudo o que já gastou, a tendência é seguir
com a proposta inicial de se casar. “Topa-se correr o risco só para não
realizar a perda”, explica a especialista.
Acreditar que tudo vai dar certo sempre
O Nobel de Economia Daniel Kahneman defende que a maior parte
das pessoas é guiada por uma visão otimista sobre a realidade. Para a
sobrevivência da espécie, essa tendência foi essencial. Mas, dependendo do
contexto e grau, este viés pode ser um inimigo das boas decisões.
“A gente começa a negar a existência de qualquer problema ou
risco”, diz Vera. “Você acha que não precisa se preparar porque está tudo
certo, pronto e acabou”. O otimismo dos especuladores americanos foi um dos
fatores que levou ao estouro da bolha imobiliária em 2008, por exemplo.
Por outro lado, há quem perceba que as coisas não estão tão
boas assim, mas munido de um extremo senso de autoconfiança, vê-se imune a tais
riscos. “Essas pessoas acreditam que nada vai dar errado com elas”, diz Vera.
Ledo engano.
Disponível em http://exame.abril.com.br/seu-dinheiro/noticias/6-vieses-que-levam-voce-a-tomar-decisoes-financeiras-erradas?utm_source=newsletter&utm_medium=e-mail&utm_campaign=news-diaria.html.
Acesso em 16 dez 2014.