Georjean
Adams
Parece
haver um pressuposto crescente de que é possível fazer produtos totalmente
seguros, sem riscos para a saúde ou o meio ambiente, que não esgotem os
recursos naturais, sem uso de energia líquida, sem resíduos, sem o aquecimento
global e que isentem seus usuários de responsabilidade.
Desculpa,
mas até onde eu saiba a segunda lei da termodinâmica ainda persiste, ou em
português claro, não existe almoço grátis (do ditado americano “there’s no free
lunch”). Não podemos desfrutar dos benefícios de alguns produtos sem a
degradação do meio ambiente e alguns riscos para a saúde. Mas podemos ser mais
seguros e sustentáveis na forma como fazemos e utilizamos esses produtos, se
adotarmos a gestão de produtos.
Minha
definição de gestão de produtos: ocorre quando todos os envolvidos em seu ciclo
de vida assumem a responsabilidade de reduzir o risco de efeitos adversos dos
impactos ambientais, à saúde e à segurança, para obter o máximo valor desse
produto.
O uso
deste termo por parte de governos e ONGs, como o Product Stewardship Institute
(Instituto de Gestão de Produtos), para transferir aos fabricantes os custos de
reciclagem (ou seja, "responsabilidade ampliada do produtor"), não é
o objetivo desse artigo. Enquanto a logística reversa de produtos pode ser a
solução correta para alguns fabricantes, o gerenciamento de produtos possui um
valor mais amplo, que se aplica a todos os participantes do ciclo de vida de um
bem e encoraja a consideração desse ciclo por todos.
Os 10
princípios abaixo são a chave para alcançar a responsabilidade pelo produto e
se aplicam a cada uma das etapas de vida de qualquer mercadoria:
1. Responsabilidade
compartilhada: assumir a responsabilidade para garantir que os
produtos sejam geridos de forma segura em todo o seu ciclo de vida, sejam eles
fornecidos, fabricados, distribuídos, utilizados, descartados ou reciclados. O
fabricante de um produto não tem o controle completo sobre todos os atores ao
longo da vida desse item. Não importa quão "infalível" um produto
seja, cada um de nós tem a obrigação de garantir a melhor gestão.
2. Pensar
no ciclo de vida: trabalhar para prevenir ou reduzir
significativamente os riscos e aumentar a sustentabilidade em todo o ciclo de
vida do produto. Isto pode variar desde o redesenho do produto até a
regulamentação para a retirada do item do mercado. Um programa de devolução de
produtos pode ser um componente efetivo e eficiente de gestão, em alguns casos,
assim como seria substituir componentes por versões mais seguras. Mas cuidado
com as consequências inesperadas, pois você pode corrigir um problema apenas
para criar outro.
3. Conhecimento: compreenda
os potenciais riscos ambientais, para saúde e segurança de suas ações – os
perigos inerentes associados aos materiais aplicados e os riscos que podem
causar. Além disso, compreenda os outros impactos do ciclo de vida. O maior
peso para o desenvolvimento do conhecimento dos perigos de um produto recai
sobre o fabricante, pois é ele quem define o que é o produto. Compreender
outros componentes de risco e exposição é mais difícil. Os desafios de adquirir
o tipo correto de informação são abordados por alguns dos princípios a seguir e
são temas de debates vigorosos em torno da ciência, das informações comerciais
de propriedade, da transparência e das políticas públicas sobre como e quando
algo é "suficientemente seguro".
4. Comunicação
com a cadeia de fornecimento: compartilhe as informações necessárias
com os outros, a fim de compreender os riscos e gerenciá-los em sua parte da
cadeia de abastecimento. Os produtos fazem parte de sistemas complexos que
envolvem uma série de fornecedores e clientes (incluindo manipuladores de
resíduos). Você precisa ajudar as pessoas atrás e à frente na cadeia, a fim de
minimizar o impacto do ciclo de vida total e promover práticas mais
sustentáveis.
5. Stakeholders: compreenda
as preocupações do conjunto de participantes que influenciam o sucesso do
produto – funcionários, acionistas, fornecedores, vizinhos, governos, parceiros
e grupos de interesse público. Determine o que você precisa fazer para garantir
a esses interessados que um produto é gerido de forma segura. Trabalhe em
conjunto para encontrar as melhores soluções para preservar os benefícios e
reduzir os riscos. Os stakeholders determinarão o que é "suficientemente
seguro".
6. Trabalho
em equipe: determine quem sabe o quê, onde, por que e o como de um
produto, para assim encontrar soluções mais sustentáveis. Gestores de produtos
não trabalham sozinhos. Eles devem trabalhar em estreita colaboração e confiar
nos especialistas de cada aspecto do ciclo de vida de um produto. De modo que
os riscos possam ser caracterizados e controlados (marketing de fabricação,
pesquisa, jurídica, saúde e meio ambiente, relações públicas etc). Equipes de
peritos também são necessárias para continuar a desenvolver padrões confiáveis
para avaliar e comunicar informações sobre os riscos para os clientes.
7. Consciência: procure
novas informações relativas a riscos e produtos mais seguros. Disponha de
processos que gerenciam e respondam rapidamente às mudanças que podem afetar a
segurança do produto, tais como mudanças em recursos, processos, ciência,
tecnologias, usos, usuários/clientes e as expectativas de regulamentação. Tente
antecipar-se e chegar à frente das mudanças.
8.
Inovação: um compromisso com a gestão do produto estimula a inovação para
reduzir riscos e melhorar o valor, para assim atender ao cliente e as
necessidades da sociedade com novos processos e produtos melhores.
Sustentabilidade e segurança aliadas ao processo de concepção do produto é a
maneira mais eficaz de uma empresa realizar a gestão do produto.
9.
Gestão: implemente práticas que se modifiquem continuamente para o
gerenciamento de produtos. Crie um ciclo contínuo de planejamento, ação,
verificação e modificação em curso e todas as outras ferramentas de gestão que
você já usa para aplicar a gestão de produtos, tal como qualquer outra
atividade. Mais importante ainda, a gestão do produto não é um projeto de uma
única empreitada, é uma maneira de pensar e agir responsavelmente.
10.
Integração: a gestão do produto deve ser parte integrante
da atuação e cultura de uma empresa. Não pode ser um programa descolado do dia
a dia da empresa, realizado por um grupo de funcionários de uma filial,
afastado do organograma. Cada função contribui para o impacto do ciclo de vida
de um produto. Os consumidores individuais também devem ser guardiões do
produto, sempre que comprarem, usarem e descartarem qualquer mercadoria. Todos
nós devemos nos perguntar: "Isso é a coisa responsável a fazer?" Os
princípios da boa gestão de produtos devem se tornar senso comum.