Sergio Damasceno
08 de Março de 2012
Com tripla nacionalidade – americana, brasileira e italiana
– Alice Bonasio, a diretora de marketing e comunicação do Badoo no Brasil é
escritora, pesquisadora e relações públicas. É formada em Jornalismo e Letras
com pós-graduação em Estudos dos Meios de Comunicação em Empresas de
Entretenimento e Criatividade.
Sob o seu comando está a operação nacional, do Badoo, uma
das sensações da internet brasileira, que já conta com mais de dez milhões de
usuários no País. A rede social de social dating (encontros sociais) se define
como ponto de encontro para o usuário e o conecta a atividades de lazer.
Confira a entrevista:
MEIO & MENSAGEM ››
Como está estruturada a operação brasileira do Badoo?
ALICE BONASIO ›› O site tem operação global e nós ainda não
temos um escritório no Brasil. Tudo é centralizado no escritório em Londres,
onde está o serviço ao consumidor e de suporte técnico, em que temos
brasileiros. Se os usuários têm qualquer problema, podem resolver pelo site, em
português, pois falam com os brasileiros, mas não estamos efetivamente no
Brasil. Nos planos futuros, com certeza, pensamos sobre isso. Não temos data
ainda porque até agora não temos nenhum escritório além de Londres e Rússia. A
sede do Badoo fica em Londres porque é um bom lugar dentro da Europa. Mas o
nosso principal mercado é o Brasil.
MEIO & MENSAGEM ›› O Badoo tem 138 milhões de
usuários...
ALICE BONASIO ›› ... número que muda a todo instante. Temos
uma média de 125 mil novos usuários cadastrados por dia.
MEIO & MENSAGEM ›› O Brasil é o maior mercado. Que
outros são importantes para a rede?
ALICE BONASIO ›› Nós não temos o detalhamento dos mercados
e, portanto, não temos os números de usuários por países. Mas, a cada mês, dez
milhões de brasileiros usam o site. O México também é um mercado muito bom. Na
Europa, França, Espanha e Itália são os nossos maiores mercados. No momento,
estamos em expansão nos mercados anglo-saxões como EUA, Reino Unido e Alemanha.
Na Ásia, por enquanto, não temos nada. Porque é um mercado muito diferente.
Consideramos as estratégias para entrar na região.
MEIO & MENSAGEM ›› Quais são os modelos de negócios que
sustentam o site?
ALICE BONASIO ›› O modelo de negócio é chamado de
“freemium”. A maior parte dos serviços que o Badoo oferece é gratuita. E a
maior parte dos usuários usa os serviços gratuitos. Mas existe a possibilidade
de pagar para ter uma funcionalidade maior. Se você pagar um pacote de
assinatura mensal — e muitos optam por isso —, você passa a ter “superpoderes”.
Pode ver mais detalhes do perfil de uma pessoa, olhar o perfil de outro usuário
sem que ele saiba que você o tenha visitado e daí por diante. Outra fonte de
renda são os micropagamentos. Quando você se registra, vai automaticamente para
o topo das listas de buscas porque é um usuário novo. Contudo, como 125 mil
pessoas se registram por dia, não existe a possibilidade de ficar no topo por
muito tempo. Assim, se a pessoa quer se promover e ficar no topo da lista, pode
fazer um micropagamento (uns R$ 2, R$ 3), vai para o topo da lista e recebe
mais mensagens, mais pessoas veem o perfil. Paga para ter visibilidade.
Portanto, temos essa renda de micropagamentos também. Pode-se comprar presentes
virtuais para as pessoas como um buquê virtual, para chamar a atenção de alguém
que você quer conversar. Entre 5% e 10% dos nossos usuários fazem isso, o que é
suficiente para manter a operação.
MEIO & MENSAGEM ›› E a publicidade na rede?
ALICE BONASIO ›› Exatamente pelo motivo de o modelo ser tão
bem-sucedido, até o momento não vemos necessidade de publicidade. Portanto,
podemos oferecer ao usuário um site sem nenhuma publicidade.
MEIO & MENSAGEM ›› Como se dá a expansão do Badoo?
ALICE BONASIO ›› A maioria dos usuários chega por
recomendação ou convite de amigos. É muito viral. Você tem a opção, como em
outras redes sociais, de convidar os seus contatos para entrar no Badoo. A
maior parte dos usuários entra assim, de maneira natural, sem grandes campanhas
de marketing. Temos o nosso aplicativo dentro do Facebook. Nossos usuários
geralmente têm perfil no Facebook e também no Badoo.
MEIO & MENSAGEM ›› Vocês têm algum tipo de restrição?
ALICE BONASIO ›› Não restringimos nada. Porque não é apenas
um site de relacionamento. As pessoas podem estar no site à procura de
amizades, para ir ao cinema etc. É um site para adultos. Temos condições de
filtrar para permitir que somente adultos possam se registrar, com
monitoramento. As fotos são todas moderadas. Temos centenas de moderadores que
olham as fotos do perfil para ter certeza que não há nada inconveniente. Dentro
do perfil, ao contrário, você pode compartilhar seus álbuns particulares com
outras pessoas. Mas tem que dar autorização, não é público. Todas as fotos
públicas são moderadas.
MEIO & MENSAGEM ›› Qual é o perfil do usuário do Badoo?
ALICE BONASIO ›› A faixa etária, na maior parte, está entre
os 25 anos e 35 anos. Tem mais homem do que mulher, numa proporção mundial de
55 homens para 45 mulheres. O usuário quer conversar (chats), encontrar novos
amigos e também quer algum tipo de relacionamento. É uma interatividade mais
aberta. Você começa com uma amizade e vê o que acontece depois. Não é do tipo
“quero encontrar um marido”. A maioria não entra no Badoo pensando nisso
seriamente.
MEIO & MENSAGEM ›› Qual é o diferencial do Badoo em
relação a sites de relacionamento como o eHarmony e o Par Perfeito?
ALICE BONASIO ›› Nesses sites é preciso preencher
formulários, pensar no que quer, como quer se representar para as outras
pessoas. Tem algo mais artificial. Os relacionamentos no Badoo tendem a ser
mais honestos porque a pessoa se coloca e depois vai querer conhecer a pessoa
no mundo real. É como ir ao bar, ao clube.
MEIO & MENSAGEM ›› E vocês conseguem saber o que se
viabiliza no mundo real entre as pessoas?
ALICE BONASIO ›› Entre as nossas pesquisas, perguntamos a
milhares de usuários se eles conheciam as pessoas. A média mundial que conhece
os usuários pessoalmente é de mais de 50%, ou seja, mais da metade dos
encontros que acontecem no Badoo se transforma em encontros reais. Entre duas
pessoas, uma se conhece no mundo real. No Brasil, essa média é ainda mais alta,
de 70%. Acho que é por causa da sociabilidade maior do brasileiro.
MEIO & MENSAGEM ›› É a primeira vez que o Badoo vem a
público ao Brasil (a entrevistada participou de seminário na Social Media
Week)?
ALICE BONASIO ›› É a primeira vez que participamos de um
evento desse tipo. Nossa única grande iniciativa foi em 2008, quando
participamos do Carnaval da Bahia com a cantora Daniela Mercury, que criou um
perfil no Badoo. Fizemos promoções para as pessoas concorrerem a abadás. No
futuro, poderemos fazer outros eventos.
MEIO & MENSAGEM ›› Alguns especialistas falam sobre a
eventual saturação das redes sociais, assim como aconteceu com outras bolhas de
internet antes. O que você acha?
ALICE BONASIO ›› Certos aspectos da bolha de internet
aconteceram mais por causa do modelo. Ninguém tinha um modelo de negócios. Só
se pensava em atrair mais usuários. Agora, até o Facebook, por mais usuários
que tenha, começa a pensar num modelo. Pelo fato de termos um modelo totalmente
sustentável — já faz mais de dois anos que estamos no lucro — e considerando
que a empresa começou só em 2006 e apenas em 2008 chegou a esse formato atual,
percebe-se que o modelo é muito bem-sucedido. No nosso caso, certamente, não é
uma bolha. E outras empresas como o LinkedIn funcionam no modelo freemium
também. O Facebook vai mais para o lado da publicidade. Tem várias coisas a se
considerar quando começa a fazer essa publicidade mais personalizada, porque
tem a questão da privacidade, de usar os dados do usuário. E se eu não quero
ser um advogado da marca? É assim que você paga o uso do Facebook. No nosso
caso, o usuário que não paga é sustentado pelos outros usuários que pagam. Todo
mundo fica contente porque não exigimos nada do usuário a não ser fazer parte
da rede. Os usuários não pagos fazem a rede mais interessante para os usuários
pagos porque tem toda aquela gente que está no Badoo.
MEIO & MENSAGEM ›› Existe um trabalho em cima da base?
ALICE BONASIO ›› Nós sempre tentamos engajar o usuário.
Estimulamos o usuário a se reengajar com o produto se ele não está ativo. É
óbvio que, num site de relacionamento, quando você é bem-sucedido, você perde o
seu usuário. Lógico que tem usuário que não quer mais porque entrou na rede
para ter um relacionamento e, quando está num relacionamento, não permanece.
Tem muitos usuários que continuam porque estão mais abertos. Não é só porque
você está num relacionamento que você não quer conhecer outras pessoas por
amizade.
MEIO & MENSAGEM ›› As redes sociais, em geral, exercem
um forte apelo sobre o usuário brasileiro. Antes o Orkut, depois o Twitter e
agora o Facebook. Em função disso, o Badoo oferece alguma coisa especial para o
usuário brasileiro?
ALICE BONASIO ›› A
internet cresce rapidamente no Brasil e também as redes sociais. Cerca de 90%
dos brasileiros que usam a internet estão nas redes sociais. Os brasileiros têm
mais amigos nas redes sociais do que outras nacionalidades. A média brasileira
é de 66 amigos enquanto a média mundial é de 41 amigos. Tem essa sociabilidade
maior. No Brasil, já existe essa afinidade natural. É casual, do tipo “vamos
ver o que rola”, bem amigável, aventureiro.
MEIO & MENSAGEM ›› Como o Badoo foi construído?
ALICE BONASIO ›› O fundador, Andrey Andreev, é russo. Mas
saiu da Rússia há vários anos e morou na Espanha. E foi lá que começou o Badoo.
O primeiro mercado do Badoo foi a Espanha e, de certa forma, isso influenciou o
crescimento pela Espanha, Itália e França. E pela afinidade linguística e
cultural com a da Espanha se espalhou para a América Latina, organicamente. De
2006 a 2008, o Badoo tinha um formato um pouco diferente. Era mais na esteira
do Facebook, onde você procurava amigos que já conhecia e usava as ferramentas
do Badoo para interagir com as pessoas¬ que já conhecia. O Andrey estava
passeando em São Petersburgo e viu um bar que se chamava Telefone Café, no qual
as pessoas ficavam nas mesas com telefones e olhavam ao redor. Se você gostasse
de alguém, tinha um jeito bem divertido de contatar as pessoas que estavam
perto de você. Foi quando teve a ideia, usando a geolocalização, de transferir
esse conceito para a internet. Porque você está perto das pessoas e tem como se
aproximar delas sem nenhum medo de rejeição. Você se utiliza da tecnologia para
socializar no mundo real. É algo tão simples, mas, ao mesmo tempo, muda toda
essa área de redes sociais. Foi aí realmente que explodiu, quando os números
começaram a crescer de maneira que está hoje.
MEIO & MENSAGEM ›› O que deve vir de novidades do Badoo,
em particular, para o Brasil, em médio prazo?
ALICE BONASIO ›› Em
médio prazo, os planos são continuar a expansão e engajar os nossos usuários.
No Social Media Week (SMW), convidamos alguns usuários para conversar e saber o
que gostam e o que não gostam. E você tem tantas ideias boas somente por usar o
Badoo. Esse negócio de engajar o usuário, ver o que a gente pode melhorar no
produto e ver o que podemos fazer de divertido e ter mais presença no Brasil,
mesmo antes de pensar num escritório. Ter mais uma presença.
MEIO & MENSAGEM ›› Em 2008, o Badoo participou do
Carnaval da Bahia. Existe mais alguma iniciativa desse tipo para o futuro?
ALICE BONASIO ›› Num futuro não muito distante, estaremos
olhando para essas possibilidades de novo. É mais interessante fazer eventos
como a SMW, em que podemos conversar com os representantes das outras empresas,
dos formadores de opinião. Acho que isso é interessante. A publicidade
tradicional não faz parte da nossa estratégia no momento.
Disponível em
http://www.meioemensagem.com.br/home/midia/noticias/2012/03/08/Badoo-Quer-teclar-comigo.
Acesso em 05 nov 2013.