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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Se fossem um estado, favelas seriam o 5º maior do Brasil

Marina Pinhoni
06/08/2014

Menino com camiseta do Brasil em favela do Rio de Janeiro 

É no Shopping JK Iguatemi – reduto do comércio de alto padrão e ponto de encontro da classe alta paulistana – que será lançado, nesta quinta-feira, o livro “Um país chamado favela”, fruto de extenso mapeamento realizado em comunidades de todo o Brasil.

“A escolha do local não foi aleatória”, afirma a EXAME.com Renato Meirelles, presidente do instituto de pesquisa Data Popular, que escreveu o livro em parceria com Celso Athayde, criador da Central Única das Favelas (CUFA).

Segundo Meirelles, um dos principais objetivos da publicação é justamente quebrar preconceitos e abrir canais de discussão sobre as mudanças sociais e econômicas que aconteceram nas favelas brasileiras na última década.

“Queremos criar pontes entre a favela e o asfalto. Também convidaremos todo mundo quando o livro for lançado nas comunidades”, diz o especialista.

Entre os dados que chamam a atenção no livro está o total de pessoas que moram hoje em favelas: aproximadamente 12 milhões. O valor é maior do que a população total do Rio Grande do Sul, quinto estado mais populoso do Brasil.

De acordo com o pesquisador, 65% dos moradores de favelas pertencem à classe média. Só este ano, o grupo deve movimentar 64,5 bilhões de reais. Para se ter uma ideia da pujança, o valor é semelhante ao PIB da Bolívia, que em 2013 registrou 30,6 bilhões de dólares (o equivalente a cerca de 69 bilhões de reais). O salário médio dos moradores das comunidades também subiu: de R$ 603, em 2003, para R$ 1.068, em 2013.

“O crescimento do emprego formal foi essencial para o aumento da renda até aqui, mas é o empreendedorismo que vai levar a favela além”, afirma Meirelles.

Como ainda há barreiras para o acesso de grandes empresas, os moradores encontram nos pequenos negócios a oportunidade para atender à grande demanda interna de consumo. Refeições para fora, padarias e salões de beleza estão entre as opções mais recorrentes.

Apesar da melhora na qualidade de vida e no grau de instrução, o pesquisador afirma que ainda faltam políticas públicas de inserção social e melhora na infraestrutura. Segundo ele, “73% dos jovens da favela têm escolaridade maior do que a dos seus pais, mas faltam cursos profissionalizantes”, diz.

Felicidade

“Sabe o famoso refrão: ‘eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci'?  Ele se tornou uma realidade objetiva e concreta”, afirma Renato Meirelles sobre o fato de que 94% dos moradores entrevistados declararam na pesquisa que se consideram felizes.

Ao contrário do que se poderia imaginar, a maioria absoluta das pessoas gosta e tem orgulho do local em que vive, e não tem vontade de sair nem se o salário dobrasse, de acordo com o livro.

A presença da violência ainda é muito marcante, pois 55% das pessoas entrevistadas consideram a favela em que vivem um pouco violenta, e outros 18% muito violenta. As atividades ilegais do tráfico também são notadas por 65% dos moradores. No entanto, há um otimismo revelado na crença de que o problema tende a diminuir nos próximos meses.

"É fato que a maioria acredita que a comunidade está melhor com presença das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), por exemplo, mas isso está longe de ser considerado a solução", diz Meirelles.

Apesar de todos os problemas, um dos motivos primordiais para a satisfação seria o bom relacionamento com as pessoas e a confiança que é estabelecida no local.

“Todo mundo conhece todo mundo. As mães que trabalham, por exemplo, não se preocupam em deixar os filhos com uma vizinha. É muito comum um comerciante ‘vender fiado’, pois sabe que o cliente vai pagar”, afirma o pesquisador.

Meirelles também acredita que o senso de convivência e utilização do espaço é exercido de maneira mais intensa. “Todo lugar vira lugar, na ausência de espaços para diversão e cultura", diz. "As pessoas se reúnem nas lajes, nas praças, nas ruas”.


Disponível em http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/favelas-no-brasil-ja-sao-mais-populosas-que-o-estado-do-rs. Acesso em 30 nov 2014.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Mercado erótico diversifica comunicação para fisgar cliente

Renata Leite
05/11/2014


O Brasil é internacionalmente conhecido como o país do carnaval, do biquíni e do rebolado, mas, mesmo assim, quando o assunto é sexo, os brasileiros ainda esbarram em tabus e preconceitos. Um dos sinais desse comportamento está no consumo de produtos eróticos e sensuais, que ainda é baixo por aqui, atingindo apenas 17% da população. O setor conquistou alguns avanços nos últimos anos, já que, em 1995, esse índice era estimado em apenas 0,5%. A principal responsável por esse crescimento na adesão às ofertas que prometem apimentar a relação a dois é a indústria de cosméticos.

Segundo levantamento da Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme), 58% dos clientes do sexo masculino que realizam compras em sex shops virtuais adquirem itens como bebidas afrodisíacas, géis e loções para massagem. Esse índice sobe para 84% quando o universo restringe-se ao público feminino. Atualmente, já existem seis fabricantes nacionais, que, desde 2011, vendem juntas mais do que os importados. O grande desafio do segmento, entretanto, não está no desenvolvimento de novos produtos - que se encontra a pleno vapor -, mas principalmente na comunicação de suas ofertas e dos efeitos delas no corpo.

Os itens eróticos não possuem ainda uma norma própria na Anvisa, o que os obriga a se enquadrarem nas regras dos cosméticos comuns, que proíbem, por exemplo, o uso de termos chulos nas embalagens. A saída encontrada pelas fabricantes é categorizar tudo como gel de massagem sensual. “As peças de comunicação das empresas, como a Durex, apostam no lúdico para falarem sobre o produto. Já quem não fabrica tem mais liberdade para dar explicações mais claras na hora da venda”, afirma Paula Aguiar, presidente da Abeme, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Treinamento para distribuidores e vendedores

Como as embalagens não dizem nem em que parte do corpo o cosmético deve ser aplicado, cabe às consultoras de marcas que adotam a venda direta e às sex shops instruírem os compradores, que em grande parte das vezes experimentam os itens pela primeira vez. O relacionamento entre indústria e varejo é bem próxima em virtude desta realidade. A ideia é que a pessoa responsável pela atendimento final ao cliente tenha informações suficientes para orientá-lo e educá-lo.

A fabricante e importadora Adão e Eva investiu pela primeira vez, este ano, no workshop “Vendas, Efeito Multiplicador”, cujo objetivo foi treinar os representantes para dar palestras e treinamento de vendas e produtos nas sex shops clientes. A companhia está lançando também duas publicações, uma voltada para os consumidores e outra direcionada aos lojistas, com dicas, novidades do mercado e respostas a dúvidas sobre os itens.

A INTT Cosméticos Sensuais também enxerga a proximidade com os vendedores e distribuidores como estratégica para o bom resultado dos negócios. “Além dos treinamentos frequentes, temos um folheto explicativo que aborda cada produto. Esse material é entregue aos vendedores e distribuidores. Como não posso colocar essas informações no site, o ponto de venda precisa estar preparado para tirar qualquer dúvida do consumidor”, diz Alessandra Seitz, Proprietária da INTT Cosmeticos Sensuais, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Cuidado com a embalagem

Entre os principais sucessos da companhia estão o Vibration, conhecido como vibrador líquido por ser um gel que provoca leves contrações, e o Orgastic, chamado de viagra feminino. Este último gera sensações de calor, vibração e pulsação. O cuidado da empresa se volta também para as embalagens, que são desenhadas de modo a não se distinguirem de um cosmético comum. A ideia é que possam ficar no banheiro sem chamarem a atenção de visitas, evitando qualquer constrangimento.

Os blogueiros são outro importante canal de divulgação das novidades que são lançadas no mercado. Há verdadeiros testadores de produtos, que ajudam a esclarecer dúvidas em relação às ofertas. A paulista Mariana Blac (nome fictício), de 28 anos, é uma das pessoas que vive de avaliar os brinquedos eróticos e os cosméticos. Ela trabalha para o Sexônico, portal que reúne ofertas de sex shops virtuais, desde o início de 2013. A jovem recebe os itens em casa, enviados pela equipe do e-commerce, e busca traduzir os efeitos em descrições publicadas num blog no site. O objetivo é que os textos sejam claros, mas sem serem vulgares.

Também faz sucesso, na internet, o Casal sem Vergonha, que publica textos num site e vídeos no YouTube contando sobre suas experiências, muitas delas com produtos eróticos. A dupla é formada pelo publicitário Eme Viegas, de 31 anos, e pela tradutora Jaque Barbosa, de 25. Os dois foram motivados a começar a produzir os conteúdos por considerarem o tratamento dado ao sexo pela mídia em geral equivocado.

Sex shops, consultoras e lojas de lingerie

As fabricantes de cosméticos contam com três diferentes canais para levarem seus produtos aos consumidores: as sex shops, as consultoras do modelo de venda direta e as lojas de lingerie. Esta última é bastante estratégica para a Pessini Cosméticos, que já está há 14 anos no mercado, por ser frequentada por mulheres que nunca entraram numa sex shop A capacidade de produção da fábrica hoje é de até 400 mil unidades mês.

A marca já exporta para países como Estados Unidos e África do Sul. “Comecei como distribuidora de cosméticos e vi como esse mercado tinha potencial. Após enfrentar problemas com parceiros, decidi abrir a fábrica. Meu marido cursou química e mergulhamos nesse universo”, conta Elaine Pessini, Fundadora e Sócia da Pessini Cosméticos, em entrevista ao Mundo do Marketing.


Disponível em http://www.mundodomarketing.com.br/reportagens/planejamento-estrategico/32123/mercado-erotico-diversifica-comunicacao-para-fisgar-cliente.html?utm_medium=e-mail&utm_source=mail2easy&utm_campaign=Newsletter+Dia. Acesso em 05 nov 2014.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Pesquisas mostram que bebês têm senso moral

Reinaldo José Lopes
01/01/2014
Parece assustador, mas é a pura verdade: bebês de apenas um ano às vezes decidem fazer justiça com as próprias mãos. Há evidências experimentais a esse respeito.

Num laboratório de psicologia da Universidade Yale, nos EUA, crianças dessa idade assistiam a um show de marionetes no qual um dos bonecos jogava uma bola para dois companheiros.

O primeiro deles, com a devida cortesia, devolvia a bola para o primeiro boneco; o segundo agarrava a bolinha e saía correndo. Um dos meninos que assistiam ao espetáculo não teve dúvidas: deu um peteleco na cabeça do personagem "malvado".
             

Essa é uma das muitas histórias saborosas contadas pelo psicólogo canadense Paul Bloom, de Yale, em seu mais recente livro, intitulado "Just Babies" ("Bebês Justos" ou "Apenas Bebês").

A obra resume décadas de pesquisas de Bloom, de sua colega (e mulher) Karen Wynn e de outros pesquisadores, os quais têm reunido dados em favor da ideia de que os seres humanos já vêm equipados com um "sentido moral" desde o berço.

Julgamento

No experimento das marionetes, por exemplo, bebês de apenas três meses (os quais não têm coordenação motora suficiente para agarrar coisas, quanto mais para dar bordoadas no boneco malvado) já mostram sua aparente preferência pelo personagem bonzinho, dirigindo seu olhar preferencialmente para ele.

Crianças um pouco mais velhas, embora nem sempre recorram ao expediente de fazer justiça com as próprias mãos, em geral costumam "recompensar" o boneco gentil e punir o malvado quando têm essa oportunidade –se os pesquisadores fingem que cada boneco ganhou um doce depois do show, as crianças decidem tirar o doce do personagem que não devolveu a bola.

Boa parte dos avanços nessa área de pesquisa têm acontecido porque os cientistas descobriram maneiras engenhosas de medir as reações (o grau de surpresa ou interesse, por exemplo) de seres humanos que ainda não conseguem se expressar ou mesmo se mexer de forma controlada, projetando os experimentos para levar esses fatores em conta.

Além da direção do olhar e do tempo que os bebês passam olhando para algo (que costuma denotar surpresa, interesse e preferência), os pesquisadores também usam medidas como o ritmo dos coraçõezinhos de seus "voluntários" e a intensidade com que eles chupam chupetas com sensores, entre outros truques.

Os resultados mostram que, antes de um ano de idade, as crianças costumam preferir personagens de desenho animado que ajudam os outros aos que atrapalham ou simplesmente ficam de braços cruzados.

Com pouco mais de um ano, oferecem espontaneamente ajuda (para carregar coisas ou abrir portas, por exemplo) a adultos desconhecidos. Nessa mesma idade, ficam irritadas quando presenciam uma divisão desigual de doces ou brinquedos –principalmente, claro, quando as vítimas são elas próprias.

Outros estudos também mostram que o preconceito racial demora muito mais para se desenvolver – embora, desde cedo, os bebês prefiram pessoas que falam a mesma língua de seus pais.

Para Bloom, o conjunto dessas descobertas sugere que a maioria das crianças nasce com noções incipientes do certo e do errado, provavelmente para facilitar o aprendizado das interações sociais da nossa espécie.

Haveria exceções? Afinal, há relatos de que futuros psicopatas já mostram crueldade acima do normal desde a infância. "No momento, acho difícil responder a essa pergunta", diz o psicólogo.

Ele também recusa a associação que costuma ser feita entre a educação religiosa e a moralidade, lembrando que muitas religiões não monoteístas não têm deuses interessados no comportamento ético de seus seguidores.


Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2014/01/1391913-pesquisas-mostram-que-bebes-tem-senso-moral.shtml. Acesso em 01 jan 2014.

domingo, 24 de novembro de 2013

“Diz-me com quem andas que te direi quem és.”

Nastassja Fischer
17/02/2012
Pelas últimas décadas, cientistas sociais têm investigado quais são os sistemas biológicos envolvidos quando avaliamos outros indivíduos e estabelecemos conceitos apenas pela aparência de uma determinada pessoa. Porém, parece que os preconceitos existentes na sociedade acontecem de forma muito mais sutil e inconsciente do que imaginamos.

Alguns experimentos de neurociência social mostram que é possível que certas pessoas sejam percebidas e avaliadas de acordo com os indivíduos que as rodeiam. Esse fenômeno é chamado de “conjunção ilusória” e foi primeiramente observado com objetos simples. Por exemplo, quando um quadrado azul fica perto de um círculo branco, ele pode fazer com que tenhamos a falsa sensação que o círculo é azul. O mesmo efeito parece acontecer também com pessoas: uma face “neutra” pode “capturar” a emoção de uma pessoa que está expressando raiva perto dela e isso faz com que um indivíduo “neutro” seja lembrado como se estivesse com raiva.

Seguindo essa linha de raciocínio, em um artigo recentemente publicado no Journal of Experimental Social Psychology, foram usadas fotos de pessoas reais e faces artificiais fabricadas no computador que expressavam tanto raiva quanto felicidade, de ambos os gêneros (masculino e feminino).  Em seguida, os voluntários recrutados para o estudo viam, em uma tela, duas das faces lado a lado, que demonstravam tanto raiva quanto felicidade. É importante observar que o par de rostos era sempre da mesma categoria (fotos reais ou faces virtuais). Para verificar o efeito implícito da avaliação das fotos, ao mesmo tempo que os rostos eram apresentados, os participantes tinham que realizar um tarefa distratora, que era somar dois números. Por último, após a visualização das faces, um ponto aparecia rapidamente do lado direito ou esquerdo da tela e os participantes tinham que se lembrar, o mais rápido possível, qual era a emoção do rosto que estava do lado que o ponto piscou.

Ao fazer esse tipo de experimento, os autores do trabalho estavam interessados na taxa de erros que os voluntários tinham ao atribuir emoções que eles achavam que viram de um lado mas, na verdade, eram da face adjacente. Com isso, os pesquisadores encontraram que as faces masculinas tinham uma maior tendência a “capturar” raiva da face ao lado. Ou seja, quando eram apresentadas faces masculinas, os participantes erravam mais vezes sobre qual lado da tela (direito ou esquerdo) estava o rosto que expressava raiva, indicando que as pessoas estavam se lembrando mais do rosto adjacente como aquele que parecia mais agressivo. Em contrapartida, as faces femininas tinham maior tendência a “assimilarem” felicidade, indicando que, no caso dos rostos femininos, os voluntários erravam mais vezes sobre qual lado da tela estava a face  feliz.

Dessa forma, enquanto que essa “assimilação” parece ser um processo automático da percepção visual, ela pode, na verdade, ser influenciada por opiniões tendenciadas que possuímos do nosso mundo social. Geralmente, as  expectativas moldam as nossas percepções (ou má-interpretações) e, a partir do momento que tendemos a pensar que homens são mais agressivos e mulheres são mais “maternais” ou “cuidadoras”, podemos ter a tendência de, no geral, perceber figuras masculinas mais associadas a elementos de raiva e figuras femininas mais relacionadas com elementos de agradabilidade ou felicidade, mesmo que isso, muitas vezes, não seja verdade. Assim, a partir desse estudo podemos concluir que as primeiras opiniões que fazemos acerca de outras pessoas podem depender não só da aparência física, mas também de quem elas estão cercadas.

Disponível em http://www.forebrain.com.br/diz-me-com-quem-andas-que-te-direi-quem-es/. Acesso em 23 nov 2013

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Metade das casas em favelas tem TV de plasma e computador

Roberta Pennafort
05 de novembro de 2013
Pesquisa feita com dois mil moradores de 63 favelas brasileiras mostra que a classe média dobrou de tamanho nas comunidades na última década, a exemplo do crescimento que aconteceu no País como um todo. A média salarial é de R$ 910 e metade das casas tem TV de plasma ou de LCD, computador e micro-ondas. A renda anual dos 11,7 milhões de brasileiros que vivem em favelas - população maior do que a do Rio Grande do Sul, o 5.º Estado mais populoso da federação - é estimada em R$ 63,8 bilhões.

Segundo o Instituto Data Popular, que aplicou os questionários, o objetivo é tirar da invisibilidade uma camada da população que tem muitas demandas e grande potencial de consumo. As perguntas foram elaboradas com a ajuda de moradores e foram direcionadas a hábitos de consumo, nível cultural e serviços públicos. Dados do IBGE embasaram o estudo.

Os dados mostram que 59% dos habitantes de favelas não têm conta corrente e 65% não possuem cartão de crédito. Práticas informais, como o pagamento fiado, persistem. A divulgação foi ontem, no lançamento do Data Favela, instituto de pesquisa criado pelo Data Popular, de Renato Meirelles, e a Central Única das Favelas, ONG fundada por Celso Athayde. O Data Popular tem o intuito de identificar oportunidades de negócio nas comunidades.

Dos jovens, 65% já foram revistados pela polícia, o que dá a medida do preconceito contra quem mora nas comunidades. A média de revistas relatada foi de 5,8 vezes. Em relação ao nível educacional e cultural, a pesquisa mostrou que mais de um terço das casas não tem um livro sequer, e que a média de escolaridade dos moradores é de apenas seis anos.


Disponível em http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,metade-das-casas-em-favelas-tem-tv-de-plasma-e-computador,1093246,0.htm. Acesso em 05 nov 2013.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

As pesquisas reiteram preconceitos

Fernand Alphen

Por mais moderna que seja a pesquisa de marketing e comunicação, todas partem de filtros classificatórios por região, sexo, idade e classe social. Para fins analíticos, ainda que as conclusões não tenham por objetivo segregar, é inevitável.

Faz cada vez menos sentido avaliar diferenças de comportamentos em função de critérios que não levam em consideração as profundas mudanças que a sociedade da informação trouxe.
O sentido de identidade regional é uma abstração que se baseia menos nas diferenças e mais por simples necessidade organizadora. O pertencimento cultural é fator de gosto e preferência antes de estar enraizado na tradição geográfica. A preferência por um conteúdo ou uma marca no Acre pode ter exatamente as mesmas motivações que as do Rio Grande do Sul porque os dois estados estão separados por um clique rápido, simples e gratuito.
O exemplo vale também para a segregação sexista, etária e de nível socioeconômico, por razões diferentes. Homens e mulheres, velhos e jovens, ricos e pobres são mais iguais do que diferentes em seus gostos, visões de mundo, ambições e sonhos. E cada vez mais iguais com o tremendo e incontrolável curto-circuito de informações que a Internet proporciona, indiscriminadamente. Mas insistimos com a lógica classificatória por falta de imaginação ou preguiça metodológica.
É evidente que não interessa muito analisar o comportamento de homens quando se vende absorvente feminino, ou de crianças quando se vendem carros, no entanto, as pesquisas clássicas são preconceituosas na largada quando classificam os analisados por critérios sociodemográficos.
E o preconceito é muito latente quando o corte é por nível de renda, instrução ou classe social.
É esse tipo de pesquisa, por exemplo, que reitera que a classe C tem dificuldades cognitivas e que, por isso, a comunicação para esses “pobres coitados” tem de ser racional, simplória e repetitiva. Que a classe C, feia e gorda, gosta de celebridades cacarejantes e clichês aspiracionais. Que a classe C, ignorante e desconectada, entende melhor a gritaria, o splash, o demo de produto, a fórmula problema-solução e não entende patavina de narrativas, de histórias, de linguagem clipada.
Vá la que até pouco tempo atrás era difícil pensar em outro tipo de recrutamento de pesquisa que não usasse de filtros sociodemográficos.
No entanto, já existe um terreno muito fértil, as redes sociais, para um tipo de pesquisa muito mais inspiradora.
Uma rede social agrupa indivíduos que se encontram e interagem por afinidades antes de sê-lo por região, sexo, idade e classe. É nas redes, e em seus agrupamentos, que podemos encontrar tipologias humanas cujas similaridades de comportamento e gosto são muito mais determinantes no processo de decisão de compra de uma marca ou de um conteúdo do que sua tradição regional, seu sexo, sua maturidade, instrução ou capacidade de consumo.
Em tempos de redes abertas, o preconceito, ainda que inconsciente, é uma simplificação intelectual ineficiente.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Jovens da periferia gastam mais em aparência do que em educação, diz pesquisa

Uol Educação

Pesquisa realizada na Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo) constata que os jovens da periferia preferem gastar seu dinheiro com a aparência a investi-lo em educação ou saúde, por exemplo. Segundo o estudo, essa é uma forma que esses adolescentes encontraram para fugir dos preconceitos e serem aceitos por seu grupo social e pela sociedade.

A cientista social Paula Nascimento da Silva estudou 160 jovens da periferia de São Paulo. Eles discutiram temas como educação, família, saúde e violência, entre outros. Quando perguntados sobre o que comprariam se tivessem R$ 500, predominou a resposta de que iriam gastar com a aparência, em produtos como roupas, tênis, produtos de cabelo e cosméticos, apesar de também terem aparecido respostas como "vou ajudar a família", "vou ajudar nas contas da casa" etc.

O jovem da periferia, segundo o estudo, geralmente não tem emprego formal: a maioria faz bicos eventuais em atividades ilegais, diferente do jovem de classe média e alta, que não tem grande dificuldade para conseguir trabalho e estágios. A pesquisadora indaga: "por que esses jovens arriscam a vida para ganhar dinheiro e gastam com coisas aparentemente supérfluas"? A resposta encontrada é a de que eles são estigmatizados como marginais. Ignora-se a vitimização desses jovens, que é muito maior do que a encontrada em outros setores da sociedade.

Como exemplo, ela cita a taxa de homicídios violentos: a taxa da população geral é de cerca de 48 casos para 1.000 mortes. Já na periferia de São Paulo, ela sobe para 106 casos entre os jovens do sexo masculino. Assim, o consumo ligado à aparência traz resultados mais rápidos do que gastos com segurança, saúde ou educação, que trazem resultados "muito distantes". A tentativa de mudar a aparência é um meio de fugir desse estigma negativo que existe em relação ao jovem da periferia.

Ao invés de construir uma formação, o adolescente tenta aparentar algo que a sociedade aceita e valoriza. Paula esclarece que "esse jovem é frágil e tem necessidade de reconhecimento e aceitação, que se dá pelo que ele tem materialmente, pois vivemos numa sociedade de consumo". Paula conclui que falta ao poder público não apenas conscientizar esse jovem para que ele use seus recursos em algo mais construtivo, mas construir melhores condições de educação, saúde, alimentação e moradia. Com informações da Agência USP.