De acordo com especialistas que discutiram o tema no Seminário Estilo de Vida e Consumo, desenvolvido pelo Senac Rio, o design, a inovação e a criatividade se uniram à internet e a práticas culturais e hoje compõem o mix de consumo dos brasileiros.
Novas linguagens entre os jovens surgem a cada dia e o que parece dificuldade de comunicação é, na verdade, uma forma que o consumidor encontrou para se posicionar na sociedade em que vive. Apesar de surgirem diversas tecnologias e ferramentas que tornam o consumidor cada vez mais independente, ainda é preciso ter com quem falar. E é aí que entram as marcas.
Comportamento virtual e perigoso
O comportamento do consumidor hoje é estudado por diversos ângulos do consumo e a Internet ganha importância neste processo à medida que o acesso à web cresce e influencia o consumidor em todo o mundo. No Brasil, este meio é ainda mais poderoso, já que os teclados tupiniquins são os mais frenéticos em todo o mundo, com cerca de 45 milhões de pessoas na rede virtual.
Além de o Brasil ser o país que mais usa a web, para a maioria dos consumidores o celular é mais que um telefone. Desta forma, é fácil pensar que mais cedo do que se espera o consumidor aprenderá a lidar com novas plataformas. “A Internet vai migrar para mecanismos mais portáteis e os jovens terão maior facilidade para lidar com as novas tecnologias”, explica Alexandre Sanches Magalhães, gerente de análise de mercado do IBOPE.
A chegada das novas tecnologias e plataformas está relacionada diretamente com maior exposição a informações do que no passado. De acordo com Magalhães, esta exposição poderá trazer complicações diferentes das que as empresas estão acostumadas. “Teremos doenças aparecendo pelo consumo de informação. Estamos cada vez mais multimídias, usando simultaneamente diversos aparelhos, o que nos torna pessoas multitarefa”, acredita.
Comportamento X Marcas
O consumo de produtos está diretamente ligado ao modo como as pessoas querem ser vistas ou na forma com que se comunicam. Este comportamento está presente principalmente no mercado de moda no Brasil. Independente da classe social, o consumidor se baseia em culturas para definir seu comportamento diante da sociedade.
As marcas têm papel fundamental neste cenário. Por isso, é cada vez mais comum as empresas investirem no design de seus produtos para atrair a atenção do consumidor. “O Designer passou a ser um gerador de idéias, além de materializá-las também”, afirma Lincon Seragini, presidente da Seragini/Farmé/Guardado Design.
A relevância das marcas para os consumidores é responsável por atitudes e comportamentos que estão fora dos padrões de consumo. Segundo Carla Barros, professora de Antropologia de Consumo da ESPM, a Adidas patrocinou um rapper americano e, com isso, os fãs aderiram a marca e chegaram a criar um ritual de adoração durante um show nos Estados Unidos. “Durante um show no Brooklin, o público presente que usava a marca segurou o tênis no alto enquanto outros deliravam fazendo referencia ao artista”, diz Carla.
Design e comportamento
Além do consumo como cultura, as pessoas estão sempre inovando no dia-a-dia e isto alimenta o trabalho de profissionais de design, por exemplo. “O design está ajudando o processo de inovação das empresas através de modelos criados a partir da idéia dos consumidores em adaptar produtos para outros fins”, diz Lincon Seragini.
Sem esquecer das práticas culturais dos consumidores, as empresas buscam entender o comportamento do seu público. No Brasil, esta tarefa é mais complicada do que parece. “As pessoas se apropriam das marcas com facilidade, basta ver o case de sucesso das Havaianas, onde os surfistas inovaram ao virar a sandália para ficar da mesma cor. Outro insight importante é que o brasileiro não considera um sanduíche como almoço, ele vai chegar em casa e comer o arroz com feijão”, explica Carla.
O estilo de vida do brasileiro é algo tão complexo que você encontra particularidades em diferentes classes sociais e regiões, porém elas têm algo em comum. “As classes A e B buscam se distinguir ou se diferenciar dos outros, enquanto o público das classes C e D quer estar igual aos mais ricos e não ficar para trás”, avalia a professora de Antropologia de Consumo da ESPM.
Linguagem e conceitos sofrem mudanças
A linguagem usada entre os jovens hoje é outra e ganha novos atributos a cada clique no mouse diante do MSN. Atrelado a isso está a dificuldade dos mais velhos em entender a mescla de linguagens destes novos consumidores. “As pessoas estão se tornando uma espécie de editores de suas próprias vidas”, avalia Magalhães.
Fato é que a tecnologia integrada aos meios de comunicação está levando as relações humanas a um novo conceito. “O dialeto dos consumidores modernos faz com que uma conversa íntima seja interrompida por causa da presença dos pais por um simples código”, diz o gerente de análise de mercado do IBOPE, referindo-se à sigla em inglês P.O.S, que significa “meu pais estão olhando”.
Neste cenário é comum que os consumidores tenham uma rede com centenas de amigos, porém na maioria dos casos jamais houve um contato físico entre essas pessoas. “A idéia de amigos muda completamente com a chegada desta tecnologia”, diz Magalhães.
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