Jaime
Troiano e Levi Carneiro
Há
algum tempo temos chamado a atenção para uma significativa e crescente
tendência contemporânea do branding: o reforço da marca corporativa das
organizações em seus produtos, serviços, suportes e manifestações. Sobre essa
tendência, escrevemos livros e artigos, relatamos cases, realizamos pesquisas e
temos feito vários trabalhos para diferentes empresas.
Do nosso ponto de vista, o reforço da marca-mãe tem origem em duas pressões
diferentes, mas complementares. Do lado de fora das empresas, as pessoas querem
saber “quem está por trás” de produtos e serviços cada vez mais abundantes e
parecidos entre si. Do lado de dentro (embora essas fronteiras se tornem
mais e mais tênues), são as próprias empresas que se ressentem da necessidade
de criar um “halo effect”, um “guarda-chuva”, uma proteção contra as ruídos e
crises de um mundo de negócios tempestuoso e barulhento.
Isso leva a esse movimento de se estender o DNA corporativo às diversas
manifestações da marca. A presença do sinal corporativo – na embalagem,
propaganda e em outros suportes - dá segurança e tranquilidade aos que procuram
um “selo de origem” ou “certificado de qualidade” e, ao mesmo tempo, cria um
aval, uma chancela para os diferentes produtos ou serviços que passam a ficar
mais resguardados sob a assinatura-mãe e mais potencializadas para o desempenho
no mercado.
Sob uma lente mais ampla, esse é um movimento em favor da maior sustentabilidade
dos relacionamentos entre empresas, seus públicos, o mercado e a sociedade. E
com inegáveis vantagens para os resultados das empresas. Há inclusive estudos,
em diferentes bolsas do mundo, demonstrando que as marcas corporativas com
maior prestígio têm sido cada vez mais valorizadas no mercado e pelos
investidores, sem contar o tanto que facilitam a expansão mais natural e segura
dos negócios.
Unilever, Pepsico, Nestlé, Grupo Algar, Votorantim, dentre outras. Já são
várias empresas que têm incorporado essa tendência de tornar mais evidente o
seu código genético, a sua assinatura corporativa. E vêm adotando várias
medidas, que vão desde revisões de procedimentos internos até as ações mais
eloqüentes de propaganda, para demonstrar isso. No caso da Unilever, envolveu
até uma campanha de aniversário da marca corporativa e de sua presença no
Brasil.
No entanto, é preciso certo cuidado nesse processo para evitar simplificações e
açodamentos. A nossa observação cuidadosa e atenta sobre essa movimentação nos
permite apontar duas grandes “tentações” na incorporação do referencial
corporativo. E vale refletir sobre elas pelo risco que representam.
1. O poder imperial de uma marca só – há uma enorme tentação de, no embalo da
mudança, colocar-se um foco excessivo na marca-mãe, em vez de reforçar uma
família de marcas de produtos e serviços que, além de uma matriz, contam também
com características e singularidades de cada um de seus membros. De repente,
uma série de produtos de grande reconhecimento é colocada na sombra e a luz
fica apenas na marca principal. O risco, grave no caso, é de se criar um
império de uma marca só, que progressivamente vai apagando a identidade e a
diferença que compõe e enriquece aquele grupo ou família de marcas.
2. A majestade do marketing de produto – outra tentação acontece ao se imprimir
à marca-mãe ou corporativa uma lógica de relacionamento, exposição e apelo
promocional típicos das marcas de produto e do marketing que lhes corresponde.
Ora, os produtos têm metas específicas de ocupação e domínio de espaços e o
marketing opera com uma lógica de guerra entre eles. Não se pode submeter uma
marca corporativa a esse jogo, elas têm outros objetivos e modelos de operação.
Como bem advertem Schultz e Hatch, marca corporativa “não é um produto gigante”
e nem tem vocação para “reinar” absoluta e soberana a qualquer
preço.
Por que essas advertências? Porque, como já dissemos, nós acreditamos que o
movimento de reforço corporativo das marcas tem motivações muito nobres e
grande alcance, que não podem ser comprometidas por equívocos e orientações
limitadoras. No fundo, o que se busca é o estabelecimento ou restabelecimento
de famílias de marcas com nome, sobrenome e um estatuto de valores e atitudes
que aprofundem a sua identificação e compromisso com os diversos públicos e a
sociedade em geral.
Mais do que isso, o que se pretende também é assegurar condições para a
expansão consistente e saudável dos negócios, com resultados e conexões mais
perenes e duradouros. A presença da marca corporativa vem potencializar os
negócios de forma mais equilibrada, com mais geração de valor para as empresas
e não com uma visão míope de ganhos imediatos e a qualquer custo.
Para Luiz Carlos Dutra, Vice-Presidente de Assuntos Corporativos da Unilever, o
que está em jogo é uma delicada orquestração de papéis e funções da marca
corporativa. Nas suas próprias palavras, “No futuro próximo, o sucesso da
gestão da marca corporativa poderá ser a percepção combinada da ‘marca-mãe’
(endosso, referência, história) com a ‘marca -sócia ou parceira’
(dinamismo, foco no mercado, integração no negócio).”
Ou seja, muito além das pressões de superfície, estamos diante de um novo
momento de restauração de fundamentos de maior sustentabilidade para as
empresas, as marcas e os resultados que elas geram. A presença da marca
corporativa deve ser sempre um passo na direção de aumentar a intensidade da
confiança nos produtos e serviços da empresa (como as pessoas hoje demandam) e
dar mais solidez aos negócios (como as empresas atualmente precisam).
Portanto, vale prestar atenção: fazer da marca corporativa uma onipresença
simplificada e aniquiladora das diferenças entre as outras marcas da família ou
transformá-la no “super produto” todo-poderoso são dois esforços que estão na
contramão desse momento. Para fazer frutificar essa nova tendência do branding,
é preciso evitar o aparecimento de enormes impérios de um marca só, com todas
as deturpações que sempre decorrem do poder imperial.
O Consultor é o profissional que diagnostica e formula soluções para problemas empresariais, que podem ter origem em qualquer área da empresa, seja ela de caráter eminentemente técnico ou operacional e administrativo. Estando a par de modelos consagrados de análise e de gestão e em consonância com as prioridades estabelecidas pelo mercado, o Consultor pode ajudar estas empresas a se posicionarem adequadamente frente à concorrência.
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