Denis Mizne
29 de dezembro de 2013
O papel da tecnologia na educação teve uma inflexão
importante em 2013: a velocidade com que soluções inovadoras chegaram ao ensino
e o impacto que tiveram na aprendizagem mudou de patamar.
Um aspecto importante dessa pequena “revolução” chegou com
força ao Brasil: a disseminação de conteúdo de alta qualidade de forma aberta e
gratuita. Inicialmente restrito aos Estados Unidos, os Moocs (cursos abertos
massivos online em sua sigla em inglês) começaram a ganhar o mundo. O Coursera,
maior provedor de Moocs do mundo, com 85 universidades e quase 6 milhões de
alunos, e o edX, união de MIT e Harvard, ficaram mais próximos do Brasil. Com
seus primeiros cursos traduzidos para o português, o Coursera viu o número de
alunos aqui aumentar 90%.
Um dos professores mais assistidos do mundo, Michael Sandel,
do curso Justiça, de Harvard, criou sua primeira sala de aula global, em que
alunos de cinco países, incluindo o Brasil, puderam assistir aulas e debater
simultaneamente. Muito além de transmitir aulas online, em 2013, os Moocs
inovaram nas experimentações para aumentar a retenção de estudantes (menos de
10% dos inscritos concluem o curso).
Inteligência artificial para corrigir questões
dissertativas, peer grading – os colegas de curso corrigem as tarefas – e uma
gama enorme de exercícios e fóruns de apoio aos alunos fizeram com que a
interação dos alunos com as plataformas avançasse significativamente. Nesse
mercado, o Brasil foi mais do que mero consumidor. A startup Veduca lançou os
primeiros Moocs brasileiros, com professores da USP e do ITA.
Em novembro, Google e Fundação Lemann juntaram forças para
lançar o YouTube Edu, plataforma organizada e com curadoria, que oferece
gratuitamente as melhores vídeo-aulas de professores brasileiros. Com mais de 8
mil aulas e focada inicialmente no ensino médio, a plataforma cobrirá os 12
anos do ensino básico e vai realizar concursos para identificar os melhores
professores de todo o Brasil em 2014.
O uso das ferramentas online para estudar já começa a entrar
também no cotidiano dos candidatos ao Enem. O desafio Geekie Games, no qual
estudantes se prepararam para o exame em uma plataforma adaptativa, teve mais
de 500 mil alunos inscritos. Se o acesso a tanto conteúdo de alta qualidade
certamente ajuda os alunos que querem melhorar sua formação, a maior novidade
talvez seja a incorporação da tecnologia dentro das salas de aula.
No Brasil, a experiência de maior alcance é a da Khan
Academy: mais de 10.000 alunos, de 8 a 10 anos de idade, de escolas públicas do
Ceará ao Paraná puderam aprender matemática com o auxílio de uma plataforma de
exercícios, vídeos e colaboração online. Os professores têm informação em tempo
real sobre os alunos e podem incorporar à sua estratégia de aula maneiras de
garantir o progresso de cada aluno.
A partir de janeiro, a plataforma ficará aberta
gratuitamente na internet e chegará a 100 mil alunos. Estamos ainda no começo.
Formar os professores, avaliar os efeitos na aprendizagem, melhorar a
experiência para o usuário e garantir infraestrutura de qualidade para que a
internet chegue de verdade às escolas são alguns dos enormes desafios pela
frente.
É claro também que estas novidades são fruto de um processo
que não é recente. Ha décadas pesquisadores e professores trabalham para trazer
soluções para a educação e utilizar o potencial da tecnologia para melhorar o
ensino.
Mas o alcance da internet e a abertura das redes de ensino
para a inovação criam um atual cenário poderoso e promissor, que nos faz
acreditar que o grande impacto da tecnologia na educação ainda está por vir.
Disponível em
http://blogs.estadao.com.br/link/ensino-online-pega-firme-no-brasil/. Acesso em
07 jan 2014.
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