terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Marcas de luxo usadas nos rolezinhos saem prejudicadas?

Mirela Portugal
22/01/2014
“Todo mundo gosta de andar bonito. Gosta de andar com as roupas de marca, as coisas de lançamento, andar no estilo”. A afirmação é Bruno Felice, um dos adolescentes organizadores de rolezinhos em São Paulo, em entrevista à EXAME.com. "Meninas que usam Lacoste acho perfeito", escreveu Bruno em uma postagem de seu perfil no Facebook.

Desde que se tornaram assunto país afora, os adolescentes que participam dos rolezinhos tiveram o seu perfil dissecado. O estilo rolezinho ganhou contorno: os bonés, tênis, camisas, óculos espelhados e sapatos podem carregar etiquetas de grifes renomadas ou o logotipo de uma marca de luxo.

Produtos que chegam a cifras razoáveis, como os das marcas Abercrombie & Fitch, John John, Quicksilver, Hollister, Osklen, Nike e Adidas também fazem parte da lista dos mais valorizados pelos jovens, em sua maioria pertencentes às classes populares.

É um fenômeno parecido com o dos bondes das marcas, tema de pesquisa da antropóloga Lucia Scalco, da UFRGS, em 2009. Na época, grupos de amigos da periferia iam juntos para shoppings de Porto Alegre se divertir, olhar as vitrines dessas grifes e fazer compras, sempre usando suas melhores roupas.

“Percebemos que as marcas eram muito valorizadas pelo grupo, e que isso contribuía para o seu processo de criação de identidade. As roupas e acessórios tornaram-se sinônimos de status e de prestígio”, diz a especialista.

Lucia fala que, feitas as contas, para esses jovens as roupas valem o investimento: “Eles dizem que custa caro, mas compensa. O vestuário ganha uma dimensão central. ‘Aparência é tudo, mostra quem tu é’, defendem . Nesse contexto vale a pena fazer grandes sacrifícios para se sentirem incluídos”, diz Lucia.

Do outro lado desse ritual estão as grifes que ganharam visibilidade com o assunto. As marcas não se manifestaram oficialmente ou tentaram criar barreiras até o momento, papel que tem sido desempenhado pelas administradoras dos shoppings, como a Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping).

Por enquanto, elas se restringiram a conviver com a publicidade espontânea de um consumidor que não faz parte do seu público-alvo prioritário.  Um paradoxo no caso do mercado de luxo, que vive da exaltação à exclusividade e ao valor agregado. Mas isso não significa intrinsecamente um risco, defendem alguns especialistas.

“É difícil que uma marca usada ou desejada por esse grupo fique estereotipada como uma marca dos rolezinhos. Essas grifes já faziam parte da rotina desses jovens antes, não é uma novidade gerada pelos encontros”, explica Fabio Mariano Borges, especialista em comportamento do consumidor e professor da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

Segundo o professor, há ainda uma diversidade de nomes, que ajuda a pulverizar o comportamento. “Não temos espontaneamente uma marca única, que se tornou ícone do movimento”, afirma Borges.

Esses jovens conectados, que se sentem incluídos como consumidores, ajudam a criar uma nova faceta para as marcas que adotam, diz Michel Alcoforado, sócio-diretor da consultoria Consumoteca. "A palavra-chave para as marcas é adaptação. Elas precisarão se acostumar a esse universo. A briga pelo posicionamento de imagem de uma marca não está mais apenas no colo da empresa nem da agência de publicidade, mas do consumidor também, que é cada vez mais capaz de criar conteúdo relevante a respeito dela", afirma.


Disponível em http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/quando-as-marcas-saem-para-dar-um-rolezinho?page=1. Acesso em 23 jan 2014.

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