Renata Leite
05/11/2014
O Brasil é internacionalmente conhecido como o país do
carnaval, do biquíni e do rebolado, mas, mesmo assim, quando o assunto é sexo,
os brasileiros ainda esbarram em tabus e preconceitos. Um dos sinais desse
comportamento está no consumo de produtos eróticos e sensuais, que ainda é
baixo por aqui, atingindo apenas 17% da população. O setor conquistou alguns
avanços nos últimos anos, já que, em 1995, esse índice era estimado em apenas
0,5%. A principal responsável por esse crescimento na adesão às ofertas que
prometem apimentar a relação a dois é a indústria de cosméticos.
Segundo levantamento da Associação Brasileira das Empresas
do Mercado Erótico e Sensual (Abeme), 58% dos clientes do sexo masculino que
realizam compras em sex shops virtuais adquirem itens como bebidas
afrodisíacas, géis e loções para massagem. Esse índice sobe para 84% quando o
universo restringe-se ao público feminino. Atualmente, já existem seis
fabricantes nacionais, que, desde 2011, vendem juntas mais do que os
importados. O grande desafio do segmento, entretanto, não está no
desenvolvimento de novos produtos - que se encontra a pleno vapor -, mas
principalmente na comunicação de suas ofertas e dos efeitos delas no corpo.
Os itens eróticos não possuem ainda uma norma própria na
Anvisa, o que os obriga a se enquadrarem nas regras dos cosméticos comuns, que
proíbem, por exemplo, o uso de termos chulos nas embalagens. A saída encontrada
pelas fabricantes é categorizar tudo como gel de massagem sensual. “As peças de
comunicação das empresas, como a Durex, apostam no lúdico para falarem sobre o
produto. Já quem não fabrica tem mais liberdade para dar explicações mais claras
na hora da venda”, afirma Paula Aguiar, presidente da Abeme, em entrevista ao
Mundo do Marketing.
Treinamento para distribuidores e vendedores
Como as embalagens não dizem nem em que parte do corpo o
cosmético deve ser aplicado, cabe às consultoras de marcas que adotam a venda
direta e às sex shops instruírem os compradores, que em grande parte das vezes
experimentam os itens pela primeira vez. O relacionamento entre indústria e
varejo é bem próxima em virtude desta realidade. A ideia é que a pessoa
responsável pela atendimento final ao cliente tenha informações suficientes
para orientá-lo e educá-lo.
A fabricante e importadora Adão e Eva investiu pela primeira
vez, este ano, no workshop “Vendas, Efeito Multiplicador”, cujo objetivo foi
treinar os representantes para dar palestras e treinamento de vendas e produtos
nas sex shops clientes. A companhia está lançando também duas publicações, uma
voltada para os consumidores e outra direcionada aos lojistas, com dicas,
novidades do mercado e respostas a dúvidas sobre os itens.
A INTT Cosméticos Sensuais também enxerga a proximidade com
os vendedores e distribuidores como estratégica para o bom resultado dos
negócios. “Além dos treinamentos frequentes, temos um folheto explicativo que
aborda cada produto. Esse material é entregue aos vendedores e distribuidores.
Como não posso colocar essas informações no site, o ponto de venda precisa
estar preparado para tirar qualquer dúvida do consumidor”, diz Alessandra
Seitz, Proprietária da INTT Cosmeticos Sensuais, em entrevista ao Mundo do
Marketing.
Cuidado com a embalagem
Entre os principais sucessos da companhia estão o Vibration,
conhecido como vibrador líquido por ser um gel que provoca leves contrações, e
o Orgastic, chamado de viagra feminino. Este último gera sensações de calor,
vibração e pulsação. O cuidado da empresa se volta também para as embalagens,
que são desenhadas de modo a não se distinguirem de um cosmético comum. A ideia
é que possam ficar no banheiro sem chamarem a atenção de visitas, evitando
qualquer constrangimento.
Os blogueiros são outro importante canal de divulgação das
novidades que são lançadas no mercado. Há verdadeiros testadores de produtos,
que ajudam a esclarecer dúvidas em relação às ofertas. A paulista Mariana Blac
(nome fictício), de 28 anos, é uma das pessoas que vive de avaliar os
brinquedos eróticos e os cosméticos. Ela trabalha para o Sexônico, portal que
reúne ofertas de sex shops virtuais, desde o início de 2013. A jovem recebe os
itens em casa, enviados pela equipe do e-commerce, e busca traduzir os efeitos
em descrições publicadas num blog no site. O objetivo é que os textos sejam
claros, mas sem serem vulgares.
Também faz sucesso, na internet, o Casal sem Vergonha, que
publica textos num site e vídeos no YouTube contando sobre suas experiências, muitas
delas com produtos eróticos. A dupla é formada pelo publicitário Eme Viegas, de
31 anos, e pela tradutora Jaque Barbosa, de 25. Os dois foram motivados a
começar a produzir os conteúdos por considerarem o tratamento dado ao sexo pela
mídia em geral equivocado.
Sex shops, consultoras e lojas de lingerie
As fabricantes de cosméticos contam com três diferentes
canais para levarem seus produtos aos consumidores: as sex shops, as
consultoras do modelo de venda direta e as lojas de lingerie. Esta última é
bastante estratégica para a Pessini Cosméticos, que já está há 14 anos no
mercado, por ser frequentada por mulheres que nunca entraram numa sex shop A
capacidade de produção da fábrica hoje é de até 400 mil unidades mês.
A marca já exporta para países como Estados Unidos e África
do Sul. “Comecei como distribuidora de cosméticos e vi como esse mercado tinha
potencial. Após enfrentar problemas com parceiros, decidi abrir a fábrica. Meu
marido cursou química e mergulhamos nesse universo”, conta Elaine Pessini,
Fundadora e Sócia da Pessini Cosméticos, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Disponível em
http://www.mundodomarketing.com.br/reportagens/planejamento-estrategico/32123/mercado-erotico-diversifica-comunicacao-para-fisgar-cliente.html?utm_medium=e-mail&utm_source=mail2easy&utm_campaign=Newsletter+Dia.
Acesso em 05 nov 2014.
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