Por mais moderna que seja a pesquisa de marketing e comunicação, todas partem de filtros classificatórios por região, sexo, idade e classe social. Para fins analíticos, ainda que as conclusões não tenham por objetivo segregar, é inevitável.
Faz cada vez menos sentido avaliar diferenças de
comportamentos em função de critérios que não levam em consideração as
profundas mudanças que a sociedade da informação trouxe.
O sentido de identidade regional é uma abstração
que se baseia menos nas diferenças e mais por simples necessidade organizadora.
O pertencimento cultural é fator de gosto e preferência antes de estar
enraizado na tradição geográfica. A preferência por um conteúdo ou uma marca no
Acre pode ter exatamente as mesmas motivações que as do Rio Grande do Sul
porque os dois estados estão separados por um clique rápido, simples e
gratuito.
O exemplo vale também para a segregação sexista,
etária e de nível socioeconômico, por razões diferentes. Homens e mulheres,
velhos e jovens, ricos e pobres são mais iguais do que diferentes em seus
gostos, visões de mundo, ambições e sonhos. E cada vez mais iguais com o
tremendo e incontrolável curto-circuito de informações que a Internet
proporciona, indiscriminadamente. Mas insistimos com a lógica classificatória
por falta de imaginação ou preguiça metodológica.
É evidente que não interessa muito analisar o
comportamento de homens quando se vende absorvente feminino, ou de crianças
quando se vendem carros, no entanto, as pesquisas clássicas são preconceituosas
na largada quando classificam os analisados por critérios sociodemográficos.
E o preconceito é muito latente quando o corte é
por nível de renda, instrução ou classe social.
É esse tipo de pesquisa, por exemplo, que reitera
que a classe C tem dificuldades cognitivas e que, por isso, a comunicação para
esses “pobres coitados” tem de ser racional, simplória e repetitiva. Que a
classe C, feia e gorda, gosta de celebridades cacarejantes e clichês
aspiracionais. Que a classe C, ignorante e desconectada, entende melhor a gritaria,
o splash, o demo de produto, a fórmula problema-solução e não entende patavina
de narrativas, de histórias, de linguagem clipada.
Vá la que até pouco tempo atrás era difícil pensar
em outro tipo de recrutamento de pesquisa que não usasse de filtros
sociodemográficos.
No entanto, já existe um terreno muito fértil, as
redes sociais, para um tipo de pesquisa muito mais inspiradora.
Uma rede social agrupa indivíduos que se encontram
e interagem por afinidades antes de sê-lo por região, sexo, idade e classe. É
nas redes, e em seus agrupamentos, que podemos encontrar tipologias humanas
cujas similaridades de comportamento e gosto são muito mais determinantes no
processo de decisão de compra de uma marca ou de um conteúdo do que sua
tradição regional, seu sexo, sua maturidade, instrução ou capacidade de
consumo.
Em tempos de redes abertas, o preconceito, ainda
que inconsciente, é uma simplificação intelectual ineficiente.