Tom Coelho
01 de julho de 2013
“Ética é coisa para filósofos."
(Eurico Miranda, ex-presidente do Vasco da Gama)
Alguns reais investidos e seu perfil no Facebook, Twitter,
Instagram e outras redes sociais ganha milhares de seguidores. Este instrumento
de marketing de guerrilha, profissionalizado há alguns anos, tem ganhado
impulso entre artistas, cantores, políticos e todo tipo de gente que busca se
mostrar popular. O intuito é apelar ao efeito manada, princípio da psicologia
das massas segundo o qual as pessoas agem em bandos, num autêntico fenômeno
grupal. Afinal, se determinada pessoa ou empresa tem tantos seguidores, deve
ser por merecimento. Aqui mora o equívoco.
Dia destes recebi um post de um professor brasileiro, que eu
não conhecia até então, e ao acessar seu perfil no Facebook descobri que tinha
cerca de dez mil seguidores. Um rápido clique sobre a opção “curtir” e a
revelação: sua cidade mais popular era Carcóvia, na Ucrânia. Além disso,
durante vários dias da semana a adesão de novos seguidores era nula, com picos
em determinadas datas.
Recentemente o cantor Luan Santana veio a público demonstrar
sua indignação diante de acusações de fraude na audiência de seus vídeos no
Youtube.
O fato é que comprar seguidores pode ser uma estratégia
interessante para empresas que pretendam difundir seus produtos ou serviços,
gerando virais para alcançar a maior amplitude possível, aumentando
significativamente o número de pessoas atingidas. Porém, para pessoas, é um
ledo engano, simplesmente porque é contraproducente e antiético.
De que adianta ostentar uma legião de pessoas que talvez não
tenham qualquer sinergia com suas ideias? Ou, pior, pessoas que simplesmente
não existam, pois foram artificialmente criadas apenas para fazer volume. E
isso é muito fácil de constatar, pois há perfis constituídos apenas pela foto e
meia dúzia de informações, sem histórico de postagens e com vínculo apenas a
outros perfis similares.
A verdade é que vivemos tempos de valores fluidos, pouco
consistentes. Empresas declaram a integridade como um de seus princípios
fundamentais, mas não hesitam em oferecer propinas, gorjetas e favorecimentos
de toda ordem para angariar um pedido. Profissionais atropelam colegas de trabalho
e mudam de opinião a cada minuto para justificar apoio a um superior
hierárquico e, assim, garantir sua escalada na pirâmide organizacional. Os fins
justificam os meios.
São tempos de faça o que eu digo, mas não o que eu faço.
Tempos de incongruência e ausência de retidão. Meses atrás fui surpreendido com
uma “adaptação” de meu conceito sobre qualidade de vida intitulado “Sete
Vidas”, desenvolvido em 2003, por uma empresa que apenas mudou descaradamente
uma palavra e alterou a sequência lógica propagandeando o lançamento de uma
“metodologia única”.
Como escrevi há quase dez anos, vivemos sob a égide do
marketing de percepção, em um mundo governado pela ditadura da imagem. O
triunfo da estética sobre a moral. Você é tão belo quanto seus trajes e seu
último corte de cabelo possam sinalizar. Tão bom quanto a procedência dos
diplomas e a fluência em idiomas possam indicar. Tão valorizado quanto a
competência ratificada e os resultados apresentados possam parecer.
Afinal, quer pagar quanto?
Disponível em
http://adnews.com.br/artigos/a-etica-e-a-compra-de-seguidores-nas-redes-sociais.
Acesso em 03 jul 2013.