Flávio Ferrari
29 de março de 2012
Empresas já foram mais "românticas", na época das
missões. Obviamente, não me refiro aqui às missões jesuítas do século XVI,
embora repute-se a Manoel da Nóbrega (que veio instalar a primeira missão no
Brasil em 1549) a frase "essa terra é nossa empresa" logo em sua
chegada.
Refiro-me ao século passado, quando descobrimos que definir
a missão de uma empresa não só inspirava a tripulação como garantia a
manutenção do rumo da nau.
Evoluímos daí para o planejamento estratégico, em busca da
eficácia, e descobrimos o poder do alinhamento. E entramos no século XXI com
total ênfase na eficiência, convencidos de que ela é a chave para a
competitividade. Efetividade, eficácia e eficiência formam o que chamo de
"triplo E" da gestão.
Efetividade é saber o que deve ser feito para chegar onde
desejamos. Eficácia é ser capaz de fazer. Eficiência é fazer da melhor forma.
Com serena convicção posso garantir que a grande maioria dos
conceitos relevantes para administração e gestão empresarial cabe nessa tríade.
"Tao" é uma palavra chinesa que significa
"caminho". Na filosofia oriental representa a natureza fundamental do
Universo. Reconhecer e viver de acordo com o Tao é, de maneira simplificada, o
verdadeiro sentido da vida.
A maneira pela qual podemos nos tornar unos com o Tao é
seguindo o "caminho da virtude" (Tao Te) e, que me perdoem os
orientais pelo pobre uso de sua nobre filosofia, isso justifica a preocupação
com a eficiência.
Eficiência é o equivalente da virtude no mundo empresarial.
Mas há que lembrar que a virtude não é um fim em si mesmo. Ela é o caminho para
um objetivo maior. Entretanto, quando estamos conscientes disso, a natureza do
Universo permeia nosso caminho e o Tao passa a ser o caminho.
Podemos reconhecer que estamos vivendo de acordo com o Tao
pela sensação vigorosamente motivadora e o grande poder de realização que isso
nos dá.
Analogamente, a eficiência será o Tao das empresas, desde
que nos lembremos de que não é um fim em si mesma.
E esse é o paradoxo que enfrentamos nos dias de hoje,
invertendo o fluxo lógico do caminho do triplo E e priorizando a eficiência
como objetivo soberano.
A natureza do universo empresarial é simplificadamente
representada por sua missão, visão e valores. Daí nasce a consciência de seus
objetivos maiores e do sentido da vida empresarial.
O planejamento estratégico é um simples exercício de
tradução da missão e da visão em atividades práticas (metas). E os valores
simbolizam a virtude, ou o conjunto de atitudes que levam ao caminho da
eficiência.
O pecado mortal é buscar a eficiência desconectados desse
fluxo lógico. É bastante comum que a métrica escolhida para avaliar a
eficiência seja "custo" e que dediquemos nossos esforços a
reestruturações de processos que resultem na redução dos recursos necessários
para realizá-los.
Na prática, observamos que existe grande probabilidade de
que processos otimizados com base em redução de custos sejam menos eficazes. E,
pior ainda, o uso recorrente e obsessivo dessa prática desvia a equipe do Tao.
A missão e a visão da empresa deixam de permear suas atitudes cotidianas.
Isso é grave. Equivale a perder o contato com o verdadeiro
sentido da vida, no âmbito empresarial. O resultado é perda de motivação, de
vigor e de poder de realização. O medo do desconhecido (para onde vamos?) passa
a habitar os corredores da empresa paralisando-a. Nada mais se faz além de
resolver os problemas de curto prazo e qualquer ganho de eficiência nos
processos se perde pela redução generalizada do vigor.
Disponível em
http://www.administradores.com.br/artigos/administracao-e-negocios/gestao-triplo-e-e-o-tao-empresarial/62488/.
Acesso em 05 jun 2013.