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quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Pesquisas mostram que bebês têm senso moral

Reinaldo José Lopes
01/01/2014
Parece assustador, mas é a pura verdade: bebês de apenas um ano às vezes decidem fazer justiça com as próprias mãos. Há evidências experimentais a esse respeito.

Num laboratório de psicologia da Universidade Yale, nos EUA, crianças dessa idade assistiam a um show de marionetes no qual um dos bonecos jogava uma bola para dois companheiros.

O primeiro deles, com a devida cortesia, devolvia a bola para o primeiro boneco; o segundo agarrava a bolinha e saía correndo. Um dos meninos que assistiam ao espetáculo não teve dúvidas: deu um peteleco na cabeça do personagem "malvado".
             

Essa é uma das muitas histórias saborosas contadas pelo psicólogo canadense Paul Bloom, de Yale, em seu mais recente livro, intitulado "Just Babies" ("Bebês Justos" ou "Apenas Bebês").

A obra resume décadas de pesquisas de Bloom, de sua colega (e mulher) Karen Wynn e de outros pesquisadores, os quais têm reunido dados em favor da ideia de que os seres humanos já vêm equipados com um "sentido moral" desde o berço.

Julgamento

No experimento das marionetes, por exemplo, bebês de apenas três meses (os quais não têm coordenação motora suficiente para agarrar coisas, quanto mais para dar bordoadas no boneco malvado) já mostram sua aparente preferência pelo personagem bonzinho, dirigindo seu olhar preferencialmente para ele.

Crianças um pouco mais velhas, embora nem sempre recorram ao expediente de fazer justiça com as próprias mãos, em geral costumam "recompensar" o boneco gentil e punir o malvado quando têm essa oportunidade –se os pesquisadores fingem que cada boneco ganhou um doce depois do show, as crianças decidem tirar o doce do personagem que não devolveu a bola.

Boa parte dos avanços nessa área de pesquisa têm acontecido porque os cientistas descobriram maneiras engenhosas de medir as reações (o grau de surpresa ou interesse, por exemplo) de seres humanos que ainda não conseguem se expressar ou mesmo se mexer de forma controlada, projetando os experimentos para levar esses fatores em conta.

Além da direção do olhar e do tempo que os bebês passam olhando para algo (que costuma denotar surpresa, interesse e preferência), os pesquisadores também usam medidas como o ritmo dos coraçõezinhos de seus "voluntários" e a intensidade com que eles chupam chupetas com sensores, entre outros truques.

Os resultados mostram que, antes de um ano de idade, as crianças costumam preferir personagens de desenho animado que ajudam os outros aos que atrapalham ou simplesmente ficam de braços cruzados.

Com pouco mais de um ano, oferecem espontaneamente ajuda (para carregar coisas ou abrir portas, por exemplo) a adultos desconhecidos. Nessa mesma idade, ficam irritadas quando presenciam uma divisão desigual de doces ou brinquedos –principalmente, claro, quando as vítimas são elas próprias.

Outros estudos também mostram que o preconceito racial demora muito mais para se desenvolver – embora, desde cedo, os bebês prefiram pessoas que falam a mesma língua de seus pais.

Para Bloom, o conjunto dessas descobertas sugere que a maioria das crianças nasce com noções incipientes do certo e do errado, provavelmente para facilitar o aprendizado das interações sociais da nossa espécie.

Haveria exceções? Afinal, há relatos de que futuros psicopatas já mostram crueldade acima do normal desde a infância. "No momento, acho difícil responder a essa pergunta", diz o psicólogo.

Ele também recusa a associação que costuma ser feita entre a educação religiosa e a moralidade, lembrando que muitas religiões não monoteístas não têm deuses interessados no comportamento ético de seus seguidores.


Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2014/01/1391913-pesquisas-mostram-que-bebes-tem-senso-moral.shtml. Acesso em 01 jan 2014.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Cresce número de idosos morando sozinhos no Brasil

Filipe Oliveira
03/04/2012
Catarina Fló, 92, tem a casa invadida por netos e bisnetos toda quarta-feira na hora do almoço. Acabadas a comida e a conversa, todos voltam para seus lares e apenas ela e a empregada ficam.

É assim há quatro anos, desde que seu marido morreu. Ela diz que se sente bem sozinha: "Na minha casa eu mando na minha vida".

O número de idosos que vivem como ela está crescendo. De acordo com dados do Censo, realizado pelo IBGE em 2011, são quase 3 milhões que moram sozinhos, o que representa 14% do total de brasileiros com mais de 60 anos.

Ficar sozinho não é escolha do idoso, segundo Sílvia Pereira, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Isso acontece, na opinião dela, porque as famílias diminuíram e as mulheres, responsáveis pelos cuidados com os mais velhos no passado, estão no mercado de trabalho.

Catarina Hüvos, 89, não vê vantagens em morar só. Mesmo assim, quando o marido morreu, há nove anos, ela não aceitou o convite para ir morar com sua filha. "É melhor para as duas. Cada uma em seu lugar faz o que quer."

Até o final do ano passado, Catarina morava na mesma casa onde viveu com o marido. A necessidade de reformas, a falta de segurança e o trabalho para cuidar da casa e do jardim fizeram com que ela se mudasse para um lugar menor.

Mas ainda não se acostumou ao novo lar. "Era muito trabalho, mas eu gostava. Aqui não tem lugar nem pra pôr dois vasinhos."

Independência

O advogado Eliassy Vasconcellos, 90, mora sozinho há 20 anos e está satisfeito: "Quero levar a minha vida sossegado, dormir e acordar na hora em que quiser".

Ele diz que não dá trabalho para ninguém. Brinca: "Como só tenho 90 anos, garanto que estarei bem até o próximo fim de semana".

Suas atividades principais são ler, escrever e fazer marchetaria. Também faz cursos de informática e continua atuando como advogado.

A psicóloga Isabella Alvim, do Observatório da Longevidade Humana e do Envelhecimento, questiona o fato de as pessoas não quererem dar trabalho aos familiares. "Hoje há uma valorização excessiva do individualismo e ser dependente é quase um pecado. O idoso passou a temer o processo de envelhecimento natural."

Perder a autonomia é parte desse processo, segundo Wilson Jacob, responsável pelo serviço de geriatria do Hospital das Clínicas.

Ele divide os idosos que vivem sozinhos em três tipos: o que é totalmente independente, o que tem funcionários para o ajudar e o que vive com a família, porém recebe menos apoio do que o necessário.

Para Jacob, faltam políticas públicas adequadas para essa população: "Não há uma solução socialmente aceita. As instituições filantrópicas não têm o mínimo de conforto que uma família aceitaria, enquanto as casas de repouso pagas chegam a custar R$ 15 mil por mês".

Casa para quem mora só

O mais perigoso dos acidentes domésticos, segundo a arquiteta e gerontóloga Ana Cristina Satiro, é a queda. Catarina Fló já caiu duas vezes dentro de casa: uma vez tropeçou em um degrau e outra, no tapete. Teve como saldo os dois fêmures quebrados.

Para prevenir acidentes, ajudam desde coisas simples, como não deixar obstáculos no caminho, até adaptações mais sofisticadas (veja algumas ideias ao lado). Mas a arquiteta pede calma: "Se não for necessário, não transforme a casa em uma 'casa ortopédica'. Ninguém quer viver em um hospital".

Segundo ela, o ideal é pensar em acessibilidade ao longo da vida. Sofás fofos, por exemplo, não são recomendados porque tornam difícil o ato de se levantar e isso piora com o tempo. O banheiro pode ter um espaço reservado para o caso de ser preciso instalar barras de apoio.

Essas mudanças, porém, devem ser feitas para aumentar a segurança, e não para simplificar a vida do idoso. Uma pessoa que consegue tomar banho em pé pode até ter uma cadeira instalada no box, mas deve ser estimulada a usá-la o mínimo possível, explica Satiro.

Para o geriatra Wilson Jacob, rotinas reduzem o risco de acidentes. Um padrão para o banho -como deixar a toalha no mesmo lugar- ajuda o idoso a se lembrar de cuidados que deve tomar.

Há ainda recursos tecnológicos para aumentar a segurança, como um aparelho de pulso chamado "tele-help", que, quando apertado, liga para uma central de emergência. Catarina Fló está usando um desses, mas nunca precisou apertar o botão.


Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1070660-cresce-numero-de-idosos-morando-sozinhos-no-brasil.shtml. Acesso em 12 set 2013.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Catadora de material reciclável passa em prova e entra na USP

Folha Online
11/03/2012

Laíssa Sobral, 19, trabalhava como catadora de material reciclável na cooperativa Granja Julieta (zona sul de São Paulo) e nunca gostou muito de estudar, mas percebeu que, com um diploma, teria mais chance de lutar pela cooperativa. Hoje, cursa gestão ambiental na USP.
       
A jovem teve pouco incentivo na vida escolar, mas estudou e entrou no curso de gestão ambiental da FMU em 2011. Mas a vida era difícil. Faculdade particular: R$ 515 por mês. Transporte: R$ 250. Renda na cooperativa: R$ 800.

Laíssa resolveu, então, transferir a faculdade para a USP. Sem dinheiro para comprar os livros, recebeu ajuda de uma amiga, que fez campanha num blog. Livros começaram a chegar. "Veio até via Sedex", lembra.

Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1060218-catadora-de-material-reciclavel-passa-em-prova-e-entra-na-usp.shtml. Acesso em 06 ago 2013.