Nastassja Fischer
17/02/2012
Pelas últimas décadas, cientistas sociais têm investigado
quais são os sistemas biológicos envolvidos quando avaliamos outros indivíduos
e estabelecemos conceitos apenas pela aparência de uma determinada pessoa.
Porém, parece que os preconceitos existentes na sociedade acontecem de forma
muito mais sutil e inconsciente do que imaginamos.
Alguns experimentos de neurociência social mostram que é
possível que certas pessoas sejam percebidas e avaliadas de acordo com os
indivíduos que as rodeiam. Esse fenômeno é chamado de “conjunção ilusória” e foi
primeiramente observado com objetos simples. Por exemplo, quando um quadrado
azul fica perto de um círculo branco, ele pode fazer com que tenhamos a falsa
sensação que o círculo é azul. O mesmo efeito parece acontecer também com
pessoas: uma face “neutra” pode “capturar” a emoção de uma pessoa que está
expressando raiva perto dela e isso faz com que um indivíduo “neutro” seja
lembrado como se estivesse com raiva.
Seguindo essa linha de raciocínio, em um artigo recentemente
publicado no Journal of Experimental Social Psychology, foram usadas fotos de
pessoas reais e faces artificiais fabricadas no computador que expressavam
tanto raiva quanto felicidade, de ambos os gêneros (masculino e feminino). Em seguida, os voluntários recrutados para o
estudo viam, em uma tela, duas das faces lado a lado, que demonstravam tanto
raiva quanto felicidade. É importante observar que o par de rostos era sempre
da mesma categoria (fotos reais ou faces virtuais). Para verificar o efeito
implícito da avaliação das fotos, ao mesmo tempo que os rostos eram
apresentados, os participantes tinham que realizar um tarefa distratora, que
era somar dois números. Por último, após a visualização das faces, um ponto
aparecia rapidamente do lado direito ou esquerdo da tela e os participantes
tinham que se lembrar, o mais rápido possível, qual era a emoção do rosto que
estava do lado que o ponto piscou.
Ao fazer esse tipo de experimento, os autores do trabalho
estavam interessados na taxa de erros que os voluntários tinham ao atribuir
emoções que eles achavam que viram de um lado mas, na verdade, eram da face
adjacente. Com isso, os pesquisadores encontraram que as faces masculinas
tinham uma maior tendência a “capturar” raiva da face ao lado. Ou seja, quando
eram apresentadas faces masculinas, os participantes erravam mais vezes sobre
qual lado da tela (direito ou esquerdo) estava o rosto que expressava raiva,
indicando que as pessoas estavam se lembrando mais do rosto adjacente como
aquele que parecia mais agressivo. Em contrapartida, as faces femininas tinham
maior tendência a “assimilarem” felicidade, indicando que, no caso dos rostos
femininos, os voluntários erravam mais vezes sobre qual lado da tela estava a
face feliz.
Dessa forma, enquanto que essa “assimilação” parece ser um
processo automático da percepção visual, ela pode, na verdade, ser influenciada
por opiniões tendenciadas que possuímos do nosso mundo social. Geralmente,
as expectativas moldam as nossas
percepções (ou má-interpretações) e, a partir do momento que tendemos a pensar
que homens são mais agressivos e mulheres são mais “maternais” ou “cuidadoras”,
podemos ter a tendência de, no geral, perceber figuras masculinas mais
associadas a elementos de raiva e figuras femininas mais relacionadas com
elementos de agradabilidade ou felicidade, mesmo que isso, muitas vezes, não
seja verdade. Assim, a partir desse estudo podemos concluir que as primeiras
opiniões que fazemos acerca de outras pessoas podem depender não só da
aparência física, mas também de quem elas estão cercadas.
Disponível em
http://www.forebrain.com.br/diz-me-com-quem-andas-que-te-direi-quem-es/. Acesso
em 23 nov 2013