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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Brasil é mais criativo do que inovador

Daniela Paiva
Um dos mentores do BRICLab, fórum criado na Universidade Columbia, nos Estados Unidos, para discutir a trajetória e o impacto dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), Marcos Troyjo participou do seminário "Brazil Innovation: A Revolution for the 21st Century" (Inovação no Brasil: A Revolução para o Século 21).

O evento foi promovido pelo "Economist Group", responsável pela publicação britânica "Economist". O paulista Troyio conversou com a Folha antes de desembarcar no Rio, que sediou o encontro na última quinta-feira.

Folha - A primeira turma acabou de completar o curso "The Rise of Brics" (a ascensão dos Brics), do BRICLab. Como foi?
Marcos Troyjo - O Bric é uma marca que chama muito a atenção, mas temos evitado tratar isso apenas como uma unidade coesa. Também analisamos esses países individualmente e comparamos uns com os outros.

Qual o panorama que você apresenta do Brasil?
Se é verdade que o país cresceu de uma maneira significativa nos últimos seis anos, também é verdade que está com o teto muito baixo para investimento em pesquisa, ocupa parcela pequena no comércio internacional e tem depositado um número reduzido de patentes na OMPI (Organização Mundial da Propriedade Intelectual). O Brasil é mais criativo do que inovador.

Essa não é uma característica comum aos Brics?
Eles foram capazes de se adaptar criativamente à economia global nos últimos 15, 20 anos, enquanto outros países não conseguiram. Os ciclos chineses e brasileiros são exemplos laboratoriais de como lidar com o que vem de fora. Os chineses construíram um modelo de nação comerciante, e os brasileiros, o que chamo de substituição de importações 2.0.

Como isso se dá?
Nosso modelo é ser um bom menino macroeconômico e manter uma taxa de juros relativamente apreciada, de modo que a economia seja uma bomba de sucção de liquidez financeira internacional. Para o capital que chega, fecha-se o país com barreiras comerciais elevadas para que as empresas tenham de montar suas operações aqui. Hoje, temos o que chamo de âncora do pré-sal. O crescimento brasileiro está atrelado à expectativa da comunidade internacional com o petróleo e os biocombustíveis.

Quais são os grandes desafios?
O Brasil tem dificuldade de identificar onde está o seu interesse nacional. As pessoas confundem ações como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) com um projeto de prosperidade. Construir aeroportos e ferrovias não é o século 21. Isso é a virada do século 19 para o 20. Essas medidas são bem-vindas, mas o futuro é nanotecnologia, robótica, novos materiais, bioengenharia, biotecnologia.

Como alcançar esse futuro?
Chegar a 2025 com 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto) investido em ciência e tecnologia, poupança interna de 28%, pelo menos 50% do dispêndio em inovação vindo do setor privado.

Acha que o Brasil pode não dar certo?
Há o risco da subperformance. Ainda que não tenhamos um plano estratégico, os bons exemplos estão se multiplicando -são as nanorevoluções nas indústrias de cosméticos, moda, design, combustível e petróleo.



quinta-feira, 2 de junho de 2011

Como empreendedores podem valorizar bens intangiveis de uma empresa?

Christian Miguel
O físico Lauro de Lauro, de 51 anos, costuma dizer que os clientes são seu maior patrimônio — e, nesse caso, ele não está só repetindo um dos clichês mais manjados do mundo dos negócios. Lauro é dono da Dualtec, fornecedora de serviços de infraestrutura em TI, de São Paulo, com faturamento de 15 milhões de reais no ano passado.

No final de 2009, em meio a negociações com fundos para receber um aporte de capital, Lauro precisou calcular quanto sua empresa valia — e descobriu que computadores, carros e imóveis não representavam quase nada diante dos mais de 26 000 contratos mantidos com clientes como a rede de lanchonetes McDonald’s e o site de compras coletivas Click­On. “Mais de 80% do valor do negócio estava nos contratos com nossa clientela”, diz Lauro. “Eles representam um enorme patrimônio que estava invisível para mim.” 
Os contratos que uma empresa tem com seus clientes, as marcas e as patentes compõem o que os contadores chamam de ativos intangíveis — algo que nem sempre aparece no balanço, mas é fundamental na hora de calcular quanto um negócio vale.
“Muitos empreendedores subestimam a importância de seus bens intangíveis, que podem representar mais da metade do valor de um negócio, dependendo do setor de atuação”, diz Eduardo Redes, sócio da área de transações da consultoria Ernst & Young Terco.
O valor do patrimônio que muitas vezes permanece invisível no balanço depende de quanto dinheiro uma companhia pode gerar por ter uma marca forte, uma carteira de clientes sólida ou por desenvolver tecnologias inovadoras.
Na Dualtec, Lauro fez projeções minuciosas sobre o potencial de crescimento das receitas com cada cliente para os próximos anos. “A capacidade de aumentar o faturamento no futuro próximo pesou muito para fecharmos negócio com a Dualtec”, diz Edson Rigonatti, gestor do Astella, fundo que investiu na empresa.
Nos últimos meses, o advogado Ladmir Carvalho, de 47 anos, descobriu que um dos bens mais valiosos de uma empresa de tecnologia é sua capacidade de se manter inovadora ao longo do tempo.
Dono da fabricante de softwares de gestão AlterData, do Rio de Janeiro, ele percebeu um interesse crescente de potenciais investidores em saber quanto sua empresa pode ser mais rápida do que a concorrência para lançar novos softwares. “Minha principal tarefa agora é conseguir demonstrar que podemos ter a agilidade que o mercado exige”, diz Carvalho.
Recentemente, a AlterData passou a contar com uma espécie de departamento de pesquisa e desenvolvimento cujo trabalho não é criar novos programas, mas encontrar formas de acelerar a produção e descobrir oportunidades para utilizar parte dos soft­wares que já estão em seu catálogo para dar origem a novos produtos. “Espero com isso aumentar o valor da minha empresa para os investidores”, afirma Carvalho.
O valor dos bens intangíveis é um tema recorrente nos momentos em que o em­preendedor negocia com fundos e investidores. Mas mesmo empresas que não querem atrair dinheiro de fora têm muito a ganhar ao conhecer o valor do patrimônio intocável. O caso da rede de franquias de estética Onodera, de São Paulo, é um bom exemplo disso.
Há três anos, a empresa encomendou um estudo para avaliar qual o valor de sua marca no mercado. “Descobrimos que, pela força da marca, estávamos cobrando pouco de quem queria se tornar nosso franqueado”, diz Lucy Onodera, filha da fundadora da empresa.
Desde então, a taxa de franquia dos candidatos a abrir uma unidade foi reajustada em 30%. No ano passado, a Onodera faturou 62 milhões de reais, 25% mais que em 2009. “Descobrir o verdadeiro valor da marca foi fundamental para manter nossa trajetória de crescimento”, afirma Lucy.