quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Consumidores não entendem rótulos

Roseani Rocha
Controlar a alimentação é a maneira mais popular de ficar em forma. Mas um estudo mundial da Nielsen publicado nesta terça-feira, 24, aponta que quem tenta entender os alimentos que está consumindo a partir dos rótulos nutricionais dos produtos passa por dificuldades.

A pesquisa online foi realizada com 25 mil consumidores, de 56 países, entre 31 de agosto e 16 de setembro, de 2011. Entre os pesquisados, 53% consideraram estar acima do peso ideal e 78% acreditam que a dieta é o primeiro passo para perder peso (seguida de exercícios físicos, opção para 69% dos pesquisados).

Quando o assunto é a compreensão dos rótulos nutricionais, 52% dos consumidores disseram entender “apenas em parte” as informações nutricionais e as embalagens dos produtos; 41% dos consumidores afirmaram entender “a maior parte” das informações; e 7% disseram não entender de forma alguma. Na América Latina, 46% entendem “em parte”, 48% entendem a maior parte e 6% não entendem os dados.

A análise também apontou um problema de credibilidade da informação. De 10 informações das embalagens analisadas no estudo apenas três foram consideradas críveis para mais de 20% dos pesquisados: conteúdo calórico (33%), vitaminas (28%) e percentual de gordura (23%).

“O principal ponto do estudo é servir como referência para a melhoria dessa comunicação ao consumidor. A indústria só teria a ganhar se ensinasse o consumidor a saber que tipo de produto ele está consumindo. Alguns grupos de marcas que souberam comunicar forma de utilização e benefícios dos produtos foram as que mais ganharam”, avalia Claudio Czarnobai, analista de mercado da Nielsen.

Sobre o fato de que em 2008, o número de pessoas que diziam entender “a maior parte” das informações no rótulo era maior que o índice atual – 44% em 2008, contra 41% este ano -, Czarnobai acredita na hipótese de que a própria evolução da indústria possa ter levado a isso. As inovações acabariam levando a uma comunicação mais complexa, por exemplo, no caso de produtos com mais química ou mesmo no caso dos alimentos funcionais. Outra hipótese seria o acesso de camadas socioeconômicas mais baixas a novas categorias de produtos. Esta também seria parte da explicação para o fato de que consumidores da América Latina declararam maior conhecimento dos rótulos que a população dos países asiáticos, que em geral têm melhor grau de escolaridade. “A China pode ter pesado, por ter uma grande base de população ainda não muito instruída. A população urbana passou a superar a rural há apenas um ano”, disse.

Embora a responsabilidade pela informação nutricional esteja na indústria, o analista acredita que as agências de publicidade que atendem as empresas poderiam contribuir com campanhas, anúncios e uma comunicação mais clara. Já sobre o fato de dois terços dos pesquisados não acreditarem nos conteúdos e os europeus se destacarem nesse quesito, o executivo sugere que isso seja resultado do maior grau de desenvolvimento do mercado e, logo, do consumidor europeu, o que o torna mais crítico. “Não basta fazer um produto que se diz saudável, mas também mostrar ao consumidor os reais benefícios”, aconselha Czarnobai.

Posição da indústria

Convidadas a comentar os dados da pesquisa, duas de três gigantes do ramo alimentício deram sua posição. Ressaltando que falava exclusivamente pela Kraft Foods e em relação ao mercado brasileiro especificamente, Fábio Acerbi, diretor de assuntos corporativos da companhia, destacou que seria interessante verificar se os resultados para o Brasil são compatíveis com as médias globais, pois acredita que o grau de entendimento e até de interesse pela leitura dos rótulos varia em diferentes geografias. De fato, o estudo mostra que os consumidores da América Latina afirmaram ter maior compreensão dos rótulos que os da Ásia, mas ficam atrás dos países da América do Norte, com destaque para os EUA.

“Imagino que até pela grande quantidade de informações nos rótulos no nosso país, sendo algumas delas de caráter mais ‘técnico’, é possível que realmente alguns consumidores não compreendam totalmente seu conteúdo. Analisando por outro ângulo, pode-se dizer também que essa grande quantidade de informações permite que cada consumidor busque no rótulo aquela informação que para ele ou ela é mais relevante. Muitos podem buscar apenas a tradicional informação sobre calorias, mas outros podem verificar a presença de algum ingrediente específico, quantidade de sódio, gorduras ou qualquer outra informação de seu interesse”, ponderou Acerbi.  

Sobre o aspecto credibilidade das informações, o executivo afirma que o Brasil tem um ambiente bastante regulado, com agências governamentais ou não governamentais bastante ativas, e um setor industrial bastante desenvolvido. Ressaltou que por parte da Kraft Foods, todas as informações são prestadas “com muita transparência e precisão”. Por fim, definiu a rotulagem de produtos no Brasil como bastante completa. Para ele, já faz tempo que o consumidor dispõe de muitas informações sobre qualquer produto.

Já a Nestlé acredita que os dados nutricionais dos produtos devem ser transparentes, responsáveis e informativos, contribuindo para que os consumidores façam escolhas com conhecimento e que compreendam o papel de cada alimento em uma dieta saudável e equilibrada. Por meio de um comunicado, a empresa garantiu que “sempre se antecipou às iniciativas para garantir que o consumidor fosse informado com o máximo de transparência”, citando como exemplo o fato de ter implementado a tabela de rotulagem nutricional em seus produtos mesmo antes deste procedimento se tornar legislação.  

A companhia afirma que lançou em 2005 uma plataforma mundial de comunicação nos rótulos, chamada Nestlé Nutritional Compass, com objetivo de orientar os consumidores a adotar hábitos de vida saudáveis em sua rotina e a tomarem decisões mais conscientes com base em informações nutricionais e dicas de nutrição, saúde e bem-estar disponíveis nos rótulos dos produtos. O programa foi implementado em mais de 80 países e está presente em todos os rótulos dos produtos Nestlé. 

Essa plataforma de comunicação com os consumidores iniciada nos rótulos, segundo a empresa, hoje também permeia outros pontos de contato como o digital e revistas. Além desta, outra iniciativa é aplicar voluntariamente o Guideline Daily Amount (GDA) em todos os seus produtos, “por se tratar de uma comunicação transparente a respeito de sua composição nutricional”. No Brasil, a Nestlé é uma das empresas pioneiras na utilização desse tipo de comunicação em seus rótulos, e foi nomeado por aqui como Guia Nutricional. Neste caso, garantem, o objetivo é traduzir ciência em informação clara aos consumidores e fornecer orientações para auxiliá-los na aplicação do dado nutricional dos rótulos à sua alimentação diária.

Por fim, justificando como evita que seus consumidores caiam no grupo que compôs a maioria dos pesquisados Nielsen, ou seja, dos que não compreendem as embalagens, a Nestlé aponta que possui diversos canais destinados a atendimento dos clientes. Além dos contatos impressos nas embalagens, destaca seu site e o Serviço Nestlé ao Consumidor como fontes de esclarecimento.

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