Jean Scatamachia
29 oct 2013
Estive em Londres nos últimos dias para visitar a Cross
Media Live, uma feira concebida para que as empresas que prestam serviços de
marketing, comunicação e mídia possam mostrar aos anunciantes e agências as
novidades que criam e desenvolvem nas mais diversas áreas.
Durante os dois dias, só se falou de conteúdo e da sua
importância neste novo mundo em que a informação corre mais rápido do que a
velocidade da luz. Porém, o que mais me chamou a atenção, tanto nos estandes
quanto nos seminários, é que todos, em algum momento, asseguram que ninguém
sobreviverá sem engajar a audiência.
Sei que este conceito já é bastante difundido e comentado no
Brasil e a maior prova foi o recente buzz gerado em torno do casamento do
Twitter com a TV aberta. Só que, aqui, eles já estão indo mais fundo. Debatem o
tempo todo sobre maneiras de unir plataformas não só para agregar audiência e
criar maior efetividade para as campanhas, mas também para fazer com que o
público participe constantemente desse processo.
Criaram até o MultiChannelMachine, um software capaz de
criar soluções multimídia para personalizar, automatizar e integrar plataformas
de mídia buscando o engajamento. E não param de repetir esta frase: “managed
service for personalized, automated and integrated cross-media engagement”.
Entre todos, o discurso de um húngaro radicado há 20 anos em
Londres foi o que mais me intrigou, apesar de ainda estar muito longe de me
convencer. Ele defende que nenhuma plataforma de comunicação, sejam as
tradicionais analógicas ou as digitais mais recentes, sobreviverá se não
democratizar praticamente 100% do seu conteúdo.
Segundo ele, as redes sociais mudaram o comportamento de
todos se relacionarem com a mídia e, por mais que muitos ainda tenham dúvidas,
inclusive eu, as novas gerações, que têm tanta informação disponível, só buscam
as notícias e as opiniões superficiais dos seus grupos e das suas tribos.
Ele finaliza o papo comigo dizendo que as notícias
tradicionais e os artigos mais aprofundados, que abordam temas amplos e globais,
morrerão em breve. Em menos de dez anos, sentencia.
Começo a achar que esse conceito está se espalhando
lentamente pela Europa, inclusive numa tentativa clara de salvar alguns canais
e alguns meios. Na Itália, começam a surgir estações de rádio com cerca de 70%
ou 80% do seu tempo de arte dedicados aos ouvintes. Já ouvi uma estação em que
o slogan é algo como ‘aqui a única voz é a sua’.
Além disso, não vejo mais nenhum veículo não se apoiar na já
famosa “segunda tela” ou ter programas ou grandes espaços dedicados à fusão com
redes sociais, mobile e outras mídias. Algumas delas de formas muito criativas
e efetivas, ainda não exploradas no Brasil.
Mas isso pode ser tema para um próximo artigo. Agora, me
despeço com uma provocação.
Aqui ainda há cidades com menos de 400 mil habitantes e com
nove títulos de jornais diários, como é o caso de Bolonha. E no Brasil, onde a
esmagadora maioria não tem o menor hábito de ler ou até mesmo de assistir a um
programa cultural e educativo? E quando chegar o momento em que quase toda a
população tiver acesso à internet e às redes sociais? O que será do nosso
futuro em relação ao conteúdo dos meios de massa? Muitos se renderão a esse
conteúdo 100% produzido por quem ouve, assiste ou lê para sobreviver?
Disponível em
http://www.meioemensagem.com.br/home/midia/ponto_de_vista/2013/10/29/Existe-vida-fora-do-engajamento?utm_campaign=engajamento_vida&utm_source=facebook&utm_medium=facebook.
Acesso em 19 dez 2013.
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