Barbara Sacchitiello
07 de Novembro de 2013
Assunto debatido à exaustão em eventos da indústria da
mídia, a sobrevivência dos jornais diante da diária transformação da tecnologia
e dos hábitos de consumo de informação ainda não conseguiu elaborar uma
cartilha definitiva a ser seguida.
Representantes de quatro dos maiores jornais do Brasil,
contudo, demonstraram não estar mais totalmente à deriva no mar revolto da
mídia impressa e pontuaram estratégias claras que vêm adotando como parâmetro
para garantir um futuro promissor para seus veículos.
O primeiro dia de seminários da International News Media
Association (Inma), nos dias 6 e 7 de novembro, em São Paulo,
reuniu no mesmo palco os responsáveis pelas redações dos jornais Zero Hora, O
Globo, Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo. Concorrentes – e ao mesmo tempo
parceiros nesse desafio de conservar a importância do meio jornal – eles falaram
sobre o dia a dia em suas redações e usaram cases próprios para mostrar os
caminhos que parecem ser mais promissores.
Em suma, pode-se considerar que os tradicionais jornais do
País vêm trabalhando com três premissas:
1- Não fazer apenas um jornal
“Jornal não é só um produto impresso, mas um conjunto de
interfaces informativas”. A frase, dita por Ascânio Seleme, editor executivo da
Infoglobo Comunicações, expressa bem a intenção de tratar os veículos como uma
marca, geradora de diversos produtos. Isso, segundo eles, é importante não
apenas para diversificar as fontes de receitas, como também para oferecer um
cardápio mais atrativo aos leitores.
Defensora dessas estratégias, a diretora de redação do Zero
Hora, do Grupo RBS, Marta Gleich, usou um caderno feminino do jornal para
exemplificar essa diversificação de produtos. Segundo ela, há alguns meses a
redação do supletivo dominical Donna foi separada fisicamente do restante do
título gaúcho. Também foram contratados gerentes de produtos e especialistas no
desenvolvimento de novos negócios para fazer do caderno uma estrutura
multiplataforma. Atualmente, além do caderno aos domingos, o Donna também
realiza eventos ao público feminino, publica edições pocket (que podem ser
customizadas por marcas), promove cursos de maquiagem e está prestes a lançar
sua primeira linha de cosméticos, em parceria com a rede de farmácias Panvel.
“Estamos com vários outros projetos para o próximo ano e estudamos maneiras de
replicar essa estratégia do Donna em outras áreas do Zero Hora”, explicou
Marta.
2- Pensar como marca e não como diferentes canais
Se as novas tecnologias alteraram completamente o modo de
operação dos jornais, é preciso aproveitá-las da forma mais inteligente
possível. Ascânio Seleme deu vários exemplos de como O Globo tenta utilizar a
tecnologia em prol de seu conteúdo informativo, como as reportagens especiais –
que originam cadernos independentes e plataformas interativas com fotos e
vídeos –, o uso de drones para captar imagens durante as manifestações do Rio
de Janeiro, etc.
Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Estado de S.Paulo, é
defensor da mesma estratégia, mas acredita que os veículos nacionais ainda não
alcançaram o ponto exato. “Ainda usamos o sistema multimídia como enfeite; não
o incorporamos na concepção da pauta e acabamos pecando pelo anseio de fazer um
monte de coisas. Acredito que, em breve, perceberemos que, para o uso dos
recursos multimídia nos jornais, também vale a máxima de que o menos é mais”,
opinou.
3- Tratar a informação como algo valioso (e caro)
Ao narrar o passo a passo de toda a implementação do sistema
de paywall na Folha de S.Paulo, o editor executivo do jornal, Sérgio Dávila,
usou uma explicação simples para justificar o motivo que levou o veículo a
fechar seu conteúdo. “Embora muita gente falasse que a informação na internet
precisa ser livre, os nossos jornalistas precisavam ser pagos. E chegou um
momento em que essa equação não mais se equilibrava”, contou. Segundo ele, mais
de um ano depois da adoção do modelo, o número de page views e de assinantes
digitais da Folha cresceu, bem como a publicidade digital. “Conteúdo
jornalístico de qualidade é caro e, por enquanto, essa é a forma com que os
grandes jornais do mundo vêm lidando com suas contas”, afirmou.
Gandour endossou a opinião de Dávila e ressaltou a
necessidade dos jornais brasileiros superarem a era da gratuidade. Assim que a
internet se disseminou, nos anos 1990, os jornais quiserem copiar o modelo da
TV aberta, fornecendo tudo gratuitamente. Com isso, criamos um problema.
Precisamos valorizar nossas marcas, nossos profissionais e a nossa informação”,
pontuou o representante do Estadão.
Disponível em
http://www.meioemensagem.com.br/home/midia/noticias/2013/11/07/Tres-licoes-para-salvar-os-jornais.html?utm_campaign=licoes_jornais&utm_source=facebook&utm_medium=facebook.
Acesso em 29 dez 2013.
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