Mostrando postagens com marcador cinema. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador cinema. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 9 de maio de 2014

“O patrocínio pode ser irremediável”

Mirella Portiolli
300x200 
Um dos principais atores do Brasil, Antonio Fagundes protagonizou o momento mais delicado e talvez um dos mais bonitos finais de novela do País, com Matheus Solano, em Amor à Vida. Fagundes e Solano consagraram a redenção e o amor de um pai a um filho. É mais um gol na carreira do ator, com 40 filmes, 30 novelas e 30 peças. Soma-se a isso o trabalho como produtor, roteirista e apresentador. Aos 65 anos, Fagundes está no ar como o italiano Giácomo, na trama Meu Pedacinho de Chão, da Rede Globo, onde trabalha há mais de três décadas. Nos palcos do teatro Tuca, em São Paulo, segue com a peça Tribos. E, recentemente, apareceu nas telonas com o terror Quando Eu Era Vivo, produção que ressuscitou o gênero nacionalmente. O ator fala sobre as dificuldades da indústria cinematográfica em manter-se fiel ao público enquanto precisa agradar aos anunciantes que apoiam os filmes.

Meio & Mensagem»
No seu último papel na televisão, a homofobia foi bastante abordada. Você considera importante debater temas atuais nas novelas? Além de em Amor à Vida, qual outro personagem seu teve forte apelo social?

Antonio Fagundes»
A novela tem de ser basicamente uma obra de entretenimento, mas, se conseguir colocar qualquer assunto, seja político, religioso ou social, será sempre um acréscimo bem-vindo. Walcyr Carrasco (autor de Amor à Vida) conseguiu fazer isso com sabedoria. Foi interessante ver o conflito daqueles personagens ao mesmo tempo que a homofobia foi levada para a sala de jantar. O Rei do Gado, por exemplo, discutiu a reforma agrária. Vale Tudo falou sobre corrupção e numa época em que o Brasil ainda despertava para esse tipo de coisa. Sempre que existe a possiblidade e o autor coloca (em debate), sem se esquecer de que é entretenimento, funciona muito bem.

M&M»
Recentemente, você participou de uma campanha contra o uso de aparelhos móveis no teatro. Pela necessidade contínua de ficar conectada, a nova geração perdeu as noções de respeito e valorização de relacionamentos reais?

Fagundes»
Em médio prazo, isso destruirá o convívio social. Depois de 20 e tantos anos (o celular chegou ao País em 1990), ainda ter de pedir para a pessoa desligar o celular dentro de um teatro... eu já me sinto desconfortável só de pedir. Vale ressaltar que não pedimos para desligarem o celular por nossa causa. Pedimos por causa do entorno, dos que estão em volta. Porque alguém que sai de casa, enfrenta trânsito, todos os problemas da cidade, paga um ingresso, que, às vezes, não é barato, e fica falando no celular, real¬mente a pessoa escolheu mal aquele momento. Eu sou “analfabite”, não tenho nem computador em casa. Meu telefone é aquele mais simples, que só tenta falar. Mesmo assim, não conseguimos porque sabemos que os telefones hoje em dia fazem tudo, menos falar.

M&M»
Depender das marcas patrocinadoras para a produção de filmes é um caminho sustentável para o desenvolvimento da indústria cinematográfica no País?

Fagundes»
Acho que não. O patrocínio da produção cria uma série de problemas que podem ser irremediáveis em médio prazo. Além de poder afastar, de certa forma, o resultado do gosto do público, já que você perde a obrigação de pensar exclusivamente na plateia, como no caso do teatro, por exemplo, pois o produto já está pago.

Disponível em http://gente.meioemensagem.com.br/home/gente/sapo_de_fora/2014/05/05/O-patrocinio-pode-ser-irremediavel.html?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_content=&utm_campaign=links. Acesso em 08 mai 2014.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Merchandising em produções brasileiras deve crescer

Diário do Nordeste
22.04.2012
Quando o longa-metragem "Luiz Gonzaga, de pai para filho", que o diretor Breno Silveira grava pelo Brasil, chegar aos cinemas, os brasileiros assistirão à seguinte cena: ainda jovem, o futuro Rei do Baião se apresentará no programa de TV de Ari Barroso. Antes de sair de casa, no entanto, tomará um banho e fará a barba com uma lâmina da Gillete que - não por coincidência - também será a marca patrocinadora do famoso programa. É esse um dos primeiros frutos do trabalho que o publicitário Nizan Guanaes e sua agência Africa Rio vêm fazendo nos últimos tempos. A ideia é aumentar de forma significativa a presença do merchandising no cinema.

"Nos Estados Unidos, esse tipo de verba já representa 50% do orçamento de um filme. E, em ´Náufrago´, por exemplo, ninguém reclamou do senhor Wilson (merchandising da marca esportiva) ser amigo do Tom Hanks. Nossa ideia é que os produtos apareçam assim, absolutamente inseridos no roteiro", diz o publicitário PC Bernardes.

Para a Africa Rio, o merchandising deve ser visto como uma terceira (e inovadora) via de financiamento para o cinema e o teatro. Ele se somará às leis de incentivo e ao mecenato, já praticados. "Além do filme sobre Gonzaga, trabalhamos com ´De pernas para o ar 2´, ´Muita calma nessa hora 2´ e ´Minha mãe é uma peça´", conta Bernardes. "E estamos analisando outros 16 roteiros de filmes e de uma peça. Nesses casos, o merchandising já representa entre 15% e 20% do orçamento".

Segundo Bernardes, para ter quatro inserções num longa-metragem que será visto por cerca de 2,5 milhões de espectadores, uma marca pagará R$ 1,5 milhão. O valor, diz ele, foi obtido no cruzamento de cifras praticadas em outros meios e reflete o alcance do cinema brasileiro.


Disponível em http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1129530. Acesso em 28 ago 2013.

sábado, 26 de maio de 2012

Brasil ganha espaço na animação mundial

Jacilio Saraiva
Maria, 9 anos, moradora do bairro do Brooklin, em São Paulo, já viu o DVD do filme "A Princesa e o Sapo" 38 vezes. Repete de cor os diálogos dos protagonistas Tiana e Príncipe Naveen, mas não sabe que boa parte do desenho americano, criação dos estúdios Disney, foi finalizada a apenas duas quadras da sua casa, na produtora HGN.

"Fomos selecionados, junto com uma produtora americana e outra canadense, para trabalhar na composição dos desenhos", diz o sócio da empresa, Haroldo Guimarães Neto, que em 32 anos na área de animação já prestou serviços para blockbusters como "A Pequena Sereia" e a série "Aladdin". Na verdade, nos últimos quatro anos, é cada vez maior o interesse de estúdios da Europa e dos Estados Unidos pelos animadores brasileiros.

Além da HGN, a LightStar Studios, sediada em Santos (SP), atuou em títulos como "O Segredo de Kells" e "Chico e Rita", indicados ao Oscar de melhor animação em 2010 e 2011, respectivamente. "Com a mesma qualidade internacional, os grandes estúdios conseguem no Brasil custos até 30% menores, se comparados a orçamentos praticados na Europa e Canadá", explica Eduardo Gurman, da Sumatra Studios, em ritmo de pré-produção de uma nova série do americano David Feiss, o mesmo criador do desenho "A Vaca e o Frango".

À frente da LightStar Studios, Marcelo de Moura resolveu montar a produtora de animação em 2004, depois de morar 12 anos entre a Europa e os Estados Unidos. A temporada estrangeira o ajudou a acumular experiências e conhecer o "who is who" do setor. Em Nova York, foi animador de "A Era do Gelo" e "Mulan".

"No Brasil, nosso primeiro contrato internacional foi fazer 25% da animação e o clean-up de 'Asterix e os Vikings'", diz Moura, que conheceu o diretor do filme, o dinamarquês Jesper Moller, entre um trabalho e outro no exterior. O clean-up tem a função de "limpar" os desenhos e deixá-los com o traço final para a colorização do filme. A operação paulista de "Asterix" contou com mais de 50 pessoas na produção e sete meses de labuta. O longa francês, baseado nas histórias em quadrinhos de Albert Uderzo e René Goscinny, custou cerca de 25 milhões de euros.

Logo depois, Moura reuniria 27 animadores para "O Segredo de Kells", título de baixo orçamento bancado por produtores da Irlanda, França e Bélgica, sobre um garoto que precisa proteger um manuscrito da Idade Média. Dirigido pelo estreante irlandês Tomm Moore, chamou a atenção pelo apuro visual, mas perdeu o Oscar de animação de 2010 para "Up - Altas Aventuras". "Trabalhamos quase um ano no projeto."

O animador estava com a agenda lotada de encomendas quando recebeu mais um convite: participar de "Chico e Rita", produção de 9 milhões de euros dirigida pelos espanhóis Javier Mariscal e Fernando Trueba (de "Sedução", com Penélope Cruz). A história de amor entre uma cantora e um pianista nos anos 1940 é salpicada de músicas de Dizzy Gillespie e Thelonius Monk. "Cheguei a recusar, mas os produtores mandaram contrato e cronograma por e-mail". Na época, Moura despachava desenhos para o estúdio alemão Motionworks e fazia a série de TV "Escola pra Cachorro", coprodução Brasil-Canadá veiculada nos canais Nickelodeon e TV Cultura. A insistência dos produtores valeu a pena.

O indicado ao Oscar "Chico e Rita" reforçou métodos de organização de trabalho e fluxo de produção que o animador viu nos EUA e replicou no negócio do bairro santista da Ponta da Praia. "É essencial para quem precisa cumprir prazos de entrega semanais. Agora, estamos fechando um novo projeto de longa e uma série de TV nacionais."

A LightStar já conseguiu equilibrar contratos brasileiros e pagos em dólar, na proporção de 50% cada. Há um ano, virou o estúdio preferido dos controladores dos personagens de Charlie Brown e sua turma, para finalizar comerciais e teasers. Nos próximos dois anos, quer usar leis nacionais de incentivo para produzir os próprios projetos no país.

Na HGN, essa fase é hoje. O sócio da empresa Haroldo Guimarães Neto está captando recursos para o longa de animação nacional "O Gato de Botas", estimado em R$ 4 milhões. O animador, que também assina o roteiro do filme, já trabalhou com Maurício de Sousa, pai de Mônica e Cebolinha, e estudou na California Institute of the Arts (Cal Arts), a mesma de Tim Burton ("A Noiva Cadáver").

Nos anos 1990, a HGN produziu oito seriados para a Disney, como "Turma do Pateta" e "Aladdin". A chance de ouro veio com "A Princesa e o Sapo", de 2009, na primeira vez em que o conglomerado americano contratava no Brasil parceiros para um longa-metragem de animação. "O trabalho durou quase um ano, com 50 profissionais em São Paulo."

A maior parte da mão de obra usada no filme saiu dos cursos de desenho e animação que a própria HGN oferece desde 1994 e que já formaram mais de 300 pessoas. Além do "Gato de Botas" com sotaque nacional, Neto já planeja a produção de um longa e uma série de TV inspirados na Copa do Mundo no Brasil. "Estamos conversando com investidores."

A janela para o exterior também está aberta na Sumatra Studios, de Eduardo Gurman. A empresa toca a pré-produção de "Tiny Warriors", série infantil de 26 episódios avaliada em US$ 5 milhões, do estúdio americano Toonzone. "Toda a animação será feita no Brasil, com pós-produção nos Estados Unidos e Canadá".

Gurman, que tem mestrado em efeitos especiais para cinema pelo American Film Institute e participou da equipe de animação de "Matrix", conheceu os executivos do Toonzone, em Cannes, há dois anos. Ele participava de uma comitiva da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de TV (Abpitv) no Mipcom, considerado o maior evento da indústria audiovisual do mundo.

"Há oito anos, a associação executa o projeto Brazilian TV Producers, que viabiliza a participação de produtores brasileiros nos principais eventos do mercado", diz Marco Altberg, presidente da Abpitv, com 203 associados em todo o país - um terço deles produz animação.

De acordo com dados da consultoria StrategicAnalytics, o setor de produtos audiovisuais movimenta US$ 448 bilhões em todo o mundo e a estimativa é de que esse valor bata nos US$ 550 bilhões, até 2013. "Para que a produção nacional aumente, são fundamentais investimentos públicos e privados, por meio de novas linhas de financiamento e acordos de coprodução com outros países." Maria, a nossa amiga do Brooklin, está na torcida.