Márcia De Chiara
28/01/2014
Apesar do recuo da inadimplência para níveis
históricos, o brasileiro ainda tem pouco conhecimento sobre as suas finanças,
independentemente do estrato social.
Oito em cada dez entrevistados não sabem como controlar as
despesas, revela uma pesquisa nacional feita em dezembro com cerca de 650
pessoas pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação
Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
A enquete mostra que apenas 18% dos entrevistados têm bom
conhecimento sobre as finanças pessoais. A economista do SPC Brasil, Luiza
Rodrigues, destaca que esse resultado praticamente se repete para todos os
estratos sociais.
Em 84% dos domicílios com renda mensal de até R$ 1.330, o
chefe da família tem parcial ou nenhum conhecimento sobre as finanças da casa.
Essa fatia cai para 86% no caso das famílias com rendimentos
entre R$ 1.331 e R$ 3.140 e recua para 76% para aquelas com receita acima de R$
3.141. Mas ainda é um porcentual alto.
"O consumidor adulto se mostra muito pouco preparado em
relação às finanças pessoais", afirma Luiza. A economista ressalta que há
uma relação direta entre saldo negativo na conta corrente e o baixo
conhecimento financeiro.
Quase 70% daqueles que têm baixo ou nenhum conhecimento
sobre as finanças pessoais termina o mês no vermelho ou no zero a zero na sua
conta corrente. Esse resultado recua para 29% para aqueles que acompanham as
suas receitas e despesas.
Descontrole
Um dado que chamou a atenção é que mais de um terço dos
entrevistados (36%) sabiam um pouco ou nada sabiam sobre as contas regulares
que deveriam pagar este mês, com resultados muito parecidos para as três faixas
de renda analisadas.
No caso das despesas extras de início de ano, mais da metade
(57%) não sabia exatamente quanto deveria gastar a mais. Há também falta de
conhecimento do lado das receitas, com 40% dos entrevistados declarando não ter
informações exatas sobre a renda.
A principal dificuldade apontada pelos consumidores de todas
as classes sociais para controlar as finanças pessoais foi a disciplina para
registrar gastos e receitas com regularidade, com 39%. Mas fazer contas é tido
como um problema para 6% dos entrevistados. Esse resultado dobra (12%) no caso
do estrato com menor renda.
Fôlego
Além da falta de controle das despesas e receitas, outras
informações relevantes reveladas pela pesquisa são o ímpeto do consumidor para
ir às compras e a falta de fôlego financeiro: 38% dos entrevistados informaram
que às vezes, ou nunca, avaliam a sua situação financeira antes de adquirir um
bem.
A falta de reservas financeiras é nítida quando se avalia
que mais da metade (55%) dos entrevistados não conseguiriam se manter por mais
de três meses em situação de dificuldade. "Como o tempo de recolocação no
mercado de trabalho é de sete meses, esse resultado é preocupante, se houver um
tropeço no emprego", diz a economista.
A escassez de controle dos brasileiros sobre as suas
finanças ocorre num momento em que os índices de inadimplência registram baixas
históricas. Na avaliação de Luiza, esse cenário não é contraditório com a falta
de rigor nas finanças pessoais porque o principal fator, na sua opinião, que
levou ao recuo do calote foi a cautela do sistema financeiro na aprovação de
novos créditos.
Disponível em
http://exame.abril.com.br/seu-dinheiro/noticias/80-dos-brasileiros-nao-controlam-suas-financas--2?page=1.
Acesso em 30 jan 2014.