Termina mais um ciclo de Palocci no governo - o que não garante que seja o último. Como o lendário pássaro grego, fênix, sua capacidade de ressurgir das próprias cinzas é impressionante. Mitologia grega à parte, o discurso de posse proferido pela agora ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, reforça o lado gerencial do atual governo. A definição de funções, declarada pela ex-senadora dá o tom: fixar metas, acompanhar projetos e cobrar resultados - postura que muito se assemelha à própria presidente enquanto ocupante da mesma cadeira. Corre a boca pequena que Gleisi será a Dilma da Dilma, devido à similaridade no modo de gestão.
Nada
tenho contra o perfil administrativo, até porque esta foi minha formação. Há,
todavia, uma diferença abissal entre um bom gerente ou gestor e o líder
verdadeiro, perfil que se espera de alguém dirigindo uma grande empresa ou
ainda uma nação. Fayol e a teoria clássica da administração listaram no início
do século passado as funções de um gerente: planejar, organizar, controlar,
coordenar e comandar, gerindo e alocando os recursos da melhor maneira
possível. Já o líder deve propagar suas ideias e ideais em nível macro,
motivando e inspirando funcionários, fornecedores, clientes, acionistas, ministros,
senadores e deputados.
A teoria
neoclássica, surgida a partir da década de cinquenta nos Estados Unidos em
virtude de mercados mais competitivos e do maior grau de exigência dos
consumidores, fez com que as empresas tivessem que se preocupar com conceitos
como eficiência e eficácia, criando terreno fértil para a Administração por
Objetivos ou APO, teorizada pelo guru Peter Drucker e amplamente utilizada até
os dias atuais. A APO defende a existência de três níveis de objetivos:
organizacionais, departamentais e operacionais, descritos a seguir.
Organizacionais: são os
macro objetivos, em geral de longo prazo e grande amplitude, influenciando a
empresa como um todo. Confundem-se muitas vezes com a visão e a missão da
companhia. Preferencialmente simples e de fácil compreensão, devem ser
apregoados pelo líder em todas as oportunidades possíveis. Uma boa dica é
traduzi-los em frases de efeito, números ou gráficos, os quais ajudarão a
fixá-los e torná-los mais tangíveis para toda a organização.
Departamentais: como o
próprio nome sugere, são os objetivos dos departamentos ou ministérios, os
quais devem ser construídos em alinhamento com os organizacionais. Em geral de
médio prazo, têm como características a fixação de metas, o acompanhamento do
realizado versus previsto, a cobrança por resultados e a eventual revisão,
quando necessário. Gestores e gerentes pragmáticos têm um papel importante
neste processo, garantindo que o todo não seja prejudicado pela soma das
partes.
Operacionais:
refere-se à execução das metas departamentais, através de ações específicas e
pontuais. Colaboradores dedicados e motivados serão aqueles que farão a
diferença aos clientes, sejam empresas, pessoas físicas ou cidadãos
necessitando de serviços públicos. É essencial nesta etapa criar e simplificar
procedimentos e processos, evitando ao mesmo tempo a burocracia e o desvio de
atenção e recursos, garantindo assim um serviço ou produto de qualidade.
Creio que
já tenha escutado a história do excelente técnico ou vendedor que se tornou um
gerente mediano. Falta de habilidade em gerenciar pessoas e paixão pela
pesquisa, estão entre as prováveis causas. Algumas empresas já se ocuparam
sobre o tema, criando estruturas técnicas e gerenciais distintas, evitando
assim a fuga de talentos. Preocupação semelhante ocorre com as questões de
formação de lideranças e processos sucessórios, de maneira que se possa
garantir a continuidade dos negócios em casos de aposentadoria, desligamento ou
transferências.
Moldar
gestores e líderes é tarefa árdua, a qual demanda tempo e dedicação aos
envolvidos. Imprevistos e acidentes de percurso podem ocorrer, nos quais há a
necessidade de se antecipar ou queimar etapas, promovendo pessoas ainda não
totalmente aptas para o exercício de determinado cargo ou função.
Além da
curva de aprendizado da nova atividade, o profissional terá que desenvolver
habilidades não técnicas, tais como negociação, planejamento, visão de longo
prazo, resolução de conflitos, comunicação e gerenciamento de pessoas.
Enfim,
muito se elogiou a presidente por seu perfil administrativo e gerencial em seus
primeiros cem dias de governo. Importantes, porém menos essenciais a um líder
que as habilidades interpessoais e de relacionamento, as quais fazem parte de
seu dia a dia. Desejo boa sorte à nova ministra e que a fixação de metas, o
acompanhamento das atividades e a cobrança de resultados, fiquem na Casa Civil
- distanciando a presidente das decisões pertencentes a gerentes e gestores
para que fique livre para efetivamente liderar o país.
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