Mente Cérebro
março de 2012
Estudar matemática todos os dias durante duas semanas
garante a absorção do conteúdo? Geralmente, professores não indicam o estudo
intensivo, acreditando que o melhor caminho para absorver conhecimento é a
compreensão moderada ao longo do semestre. Agora, um estudo coordenado pelo
neurocientista suiço Eric Kandel, da Universidade Colúmbia, não demonstra
apenas essa percepção pedagógica, como também indica que a melhor maneira de
aprender pode não ser em blocos de tempo regulares, mas em intervalos de
treinos.
Para chegar a esta conclusão, ele monitorou lesmas do mar
Aplysia californica durante a fuga de predadores, registrando as respostas
comportamentais e averiguando o melhor desempenho. Kandel descobriu que a
criação de estratégias pode oferecer à memória a estrutura molecular como da
maitotoxin (toxina extremamente potente) ou de um ideograma chinês. O estudo
foi publicado no periódico on-line Nature Neuroscience. O pesquisador, que
partilhou o Prêmio Nobel em 2000 por sua pesquisa sobre os processos
bioquímicos subjacentes da memória, garante que não pretende estimular o
lançamento de uma nova geração de jogos de treinamento cerebral, mas
desenvolver formas mais eficientes de aprendizagem.
Em outro estudo, o neurobiólogo John H. Byrne, ex-aluno de
Kandel, coordenador do departamento de neurobiologia e anatomia da Escola de
Medicina da Universidade do Texas em Houston, traz novas contribuições ao
método original desenvolvido no laboratório de Kandel. Trata-se de uma técnica
que consiste em infligir eletrochoques na cauda das lesmas em intervalos
regulares para observar quais animais reagem exageradamente a partir da segunda
aplicação, o que indica que se recordaram da primeira estimulação elétrica.
Byrne e sua equipe se concentraram em determinar se as
reações químicas desse processo poderiam ser ajustadas de forma a melhorar a
aprendizagem. Os pesquisadores aplicaram cinco pulsos de neurotransmissores de
serotonina aos sensores neurais motores das lesmas, a cada 20 minutos. Esse
procedimento levou duas enzimas neuronais a ativar proteínas chamadas fatores
de transcrição, que impulsionam os genes, iniciando a produção de novas
proteínas que favorecem o disparo de neurônios.
Ao usar um protocolo de sincronização padrão, os
pesquisadores verificaram que elas não atingem o pico de ativação dentro de uma
célula nervosa ao mesmo tempo – um indício de que a maneira usual de realizar
tarefas em intervalos regulares pode não ser o melhor caminho.
Depois, a equipe de Byrne implantou em um computador 10 mil
modelos de variação de intervalos entre os pulsos para tentar coordenar a
ativação de enzimas e maximizar sua interação. O padrão temporal comum não foi
o constatado, mas uma série irregular de dois pulsos de serotonina emitidos a
cada 10 minutos, depois em 5 e por fim em meia hora. Neste padrão, a interação
entre as duas enzimas aumentou em 50 %.
“O padrão de tempo encontrado pode ser devido à adaptação
das lesmas para escapar de predadores ou evitar uma descarga elétrica. Estudar
cálculo, por exemplo, pode ser um pouco diferente”, diz Byrne. Entretanto, há
evidências de que o processo de aprendizagem opera de forma mais eficiente em
modelos temporais alternados. Os cientistas esperam que os mesmos resultados
possam ser aplicados em seres humanos em situações que exijam esforço
intelectual.
Disponível em
http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/memoria_turbinada.html. Acesso em 11
jul 2013.
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