Mente Cérebro
maio de 2012
Uma das crenças mais comuns em nossa sociedade é que pessoas
contentes com a atividade profissional produzem mais. Essa ideia se reflete
também nas organizações. Uma enquete recente da Associação Espanhola de Direção
e Desenvolvimento de Pessoas (Aedipe), feita com executivos que ocupavam nível
gerencial, descobriu que quase 87% dos entrevistados acreditam que oferecer
condições para que o indivíduo se sinta satisfeito profissionalmente é uma
estratégia adequada para melhorar a competitividade empresarial.
Na verdade, entre os efeitos mais estudados em relação à
felicidade no trabalho está o desempenho. Tal é o interesse nessa área que
alguns autores a definem como o “santo graal” da pesquisa organizacional. A este
respeito, muitos trabalhos estabelecem relação clara entre satisfação e
produtividade.
Um estudo conduzido pela psicóloga organizacional Despoina
Xanthopoulou e seus colegas da Universidade de Creta na indústria de fast-food
mostrou que os trabalhadores com maior nível de comprometimento produziam mais.
No entanto, não há consenso sobre o assunto e outras pesquisas não confirmam o
resultado. Um fato que complica a situação é que os indicadores utilizados para
“medir” a felicidade no trabalho são muito variados. Além disso, pode não ser a
felicidade que leve a melhores desempenhos – mas, ao obter sucesso profissional,
a pessoa se mostre mais feliz. Parece lógico haver uma relação bidirecional
entre as duas variáveis. Essa foi a questão que o pesquisador Daniel Koys, da
Universidade DePaul, tentou entender melhor quando desenvolveu uma pesquisa
longitudinal de dois anos. O cientista concluiu que a felicidade no trabalho se
relaciona de forma positiva com o rendimento, o número de vendas e a satisfação
do cliente. Parece, então, que o aspecto-chave é ser feliz para assim render
melhor – e não o inverso.
Podemos pensar também que o bem-estar esteja associado
à maior capacidade de encontrar soluções
inteligentes para os desafios. As pesquisadoras Charlotte Fritz,
professora-assistente de psicologia organizacional e industrial da Universidade
de Portland, e Sabine Sonnentag, professora do Departamento de Psicologia da
Universidade de Konstanz, na Alemanha, descobriram em 2009 que o bom humor
garante a criatividade do dia seguinte, corroborando resultados encontrados
pela pesquisadora Alice M. Isen, da Universidade de Cornell, dez anos antes.
Outro ponto importante: a felicidade no trabalho parece
estar associada a comportamentos de sociabilidade com os colegas e clientes,
que reforçam (e ao mesmo tempo são reforçados por) estados positivos de ânimo e
humor, o que costuma atenuar ou reduzir situações negativas nas organizações. O
professor Peter Warr, da Universidade de Sheffield, salienta que a satisfação
se relaciona de maneira negativa com o número de faltas. Ele afirma também que
a felicidade reduz o comportamento contraproducente (como não cumprir as
obrigações de forma proposital, desperdiçar ou usar recursos da empresa para
fins pessoais e apropriar-se de material de escritório).
Os professores Russel Cropanzano, da Universidade do
Arizona, e Thomas A. Wright, da Universidade de Nevada, argumentam que as
pessoas menos realizadas com seu trabalho se mostram mais pessimistas,
predispostas a adotar posturas defensivas e pouco cooperativas em relação aos
colegas. Em contrapartida, segundo a psicóloga Barbara Fredrickson,
pesquisadora da Universidade da Carolina do Norte, emoções positivas ajudam a
expandir e desenvolver habilidades e vínculos sociais. Ou seja, favorecem a
aquisição e o desenvolvimento de novas habilidades que preparam as pessoas para
futuros desafios.
Disponível em
http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/e_produtivo_ser_feliz_.html. Acesso
em 26 jul 2013.