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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

É produtivo ser feliz?

Mente Cérebro
maio de 2012
Uma das crenças mais comuns em nossa sociedade é que pessoas contentes com a atividade profissional produzem mais. Essa ideia se reflete também nas organizações. Uma enquete recente da Associação Espanhola de Direção e Desenvolvimento de Pessoas (Aedipe), feita com executivos que ocupavam nível gerencial, descobriu que quase 87% dos entrevistados acreditam que oferecer condições para que o indivíduo se sinta satisfeito profissionalmente é uma estratégia adequada para melhorar a competitividade empresarial.

Na verdade, entre os efeitos mais estudados em relação à felicidade no trabalho está o desempenho. Tal é o interesse nessa área que alguns autores a definem como o “santo graal” da pesquisa organizacional. A este respeito, muitos trabalhos estabelecem relação clara entre satisfação e produtividade.

Um estudo conduzido pela psicóloga organizacional Despoina Xanthopoulou e seus colegas da Universidade de Creta na indústria de fast-food mostrou que os trabalhadores com maior nível de comprometimento produziam mais. No entanto, não há consenso sobre o assunto e outras pesquisas não confirmam o resultado. Um fato que complica a situação é que os indicadores utilizados para “medir” a felicidade no trabalho são muito variados. Além disso, pode não ser a felicidade que leve a melhores desempenhos – mas, ao obter sucesso profissional, a pessoa se mostre mais feliz. Parece lógico haver uma relação bidirecional entre as duas variáveis. Essa foi a questão que o pesquisador Daniel Koys, da Universidade DePaul, tentou entender melhor quando desenvolveu uma pesquisa longitudinal de dois anos. O cientista concluiu que a felicidade no trabalho se relaciona de forma positiva com o rendimento, o número de vendas e a satisfação do cliente. Parece, então, que o aspecto-chave é ser feliz para assim render melhor – e não o inverso.

Podemos pensar também que o bem-estar esteja associado à  maior capacidade de encontrar soluções inteligentes para os desafios. As pesquisadoras Charlotte Fritz, professora-assistente de psicologia organizacional e industrial da Universidade de Portland, e Sabine Sonnentag, professora do Departamento de Psicologia da Universidade de Konstanz, na Alemanha, descobriram em 2009 que o bom humor garante a criatividade do dia seguinte, corroborando resultados encontrados pela pesquisadora Alice M. Isen, da Universidade de Cornell, dez anos antes.

Outro ponto importante: a felicidade no trabalho parece estar associada a comportamentos de sociabilidade com os colegas e clientes, que reforçam (e ao mesmo tempo são reforçados por) estados positivos de ânimo e humor, o que costuma atenuar ou reduzir situações negativas nas organizações. O professor Peter Warr, da Universidade de Sheffield, salienta que a satisfação se relaciona de maneira negativa com o número de faltas. Ele afirma também que a felicidade reduz o comportamento contraproducente (como não cumprir as obrigações de forma proposital, desperdiçar ou usar recursos da empresa para fins pessoais e apropriar-se de material de escritório).

Os professores Russel Cropanzano, da Universidade do Arizona, e Thomas A. Wright, da Universidade de Nevada, argumentam que as pessoas menos realizadas com seu trabalho se mostram mais pessimistas, predispostas a adotar posturas defensivas e pouco cooperativas em relação aos colegas. Em contrapartida, segundo a psicóloga Barbara Fredrickson, pesquisadora da Universidade da Carolina do Norte, emoções positivas ajudam a expandir e desenvolver habilidades e vínculos sociais. Ou seja, favorecem a aquisição e o desenvolvimento de novas habilidades que preparam as pessoas para futuros desafios.


Disponível em http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/e_produtivo_ser_feliz_.html. Acesso em 26 jul 2013.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Memória turbinada

Mente Cérebro
março de 2012
 
Estudar matemática todos os dias durante duas semanas garante a absorção do conteúdo? Geralmente, professores não indicam o estudo intensivo, acreditando que o melhor caminho para absorver conhecimento é a compreensão moderada ao longo do semestre. Agora, um estudo coordenado pelo neurocientista suiço Eric Kandel, da Universidade Colúmbia, não demonstra apenas essa percepção pedagógica, como também indica que a melhor maneira de aprender pode não ser em blocos de tempo regulares, mas em intervalos de treinos.

Para chegar a esta conclusão, ele monitorou lesmas do mar Aplysia californica durante a fuga de predadores, registrando as respostas comportamentais e averiguando o melhor desempenho. Kandel descobriu que a criação de estratégias pode oferecer à memória a estrutura molecular como da maitotoxin (toxina extremamente potente) ou de um ideograma chinês. O estudo foi publicado no periódico on-line Nature Neuroscience. O pesquisador, que partilhou o Prêmio Nobel em 2000 por sua pesquisa sobre os processos bioquímicos subjacentes da memória, garante que não pretende estimular o lançamento de uma nova geração de jogos de treinamento cerebral, mas desenvolver formas mais eficientes de aprendizagem.

Em outro estudo, o neurobiólogo John H. Byrne, ex-aluno de Kandel, coordenador do departamento de neurobiologia e anatomia da Escola de Medicina da Universidade do Texas em Houston, traz novas contribuições ao método original desenvolvido no laboratório de Kandel. Trata-se de uma técnica que consiste em infligir eletrochoques na cauda das lesmas em intervalos regulares para observar quais animais reagem exageradamente a partir da segunda aplicação, o que indica que se recordaram da primeira estimulação elétrica.

Byrne e sua equipe se concentraram em determinar se as reações químicas desse processo poderiam ser ajustadas de forma a melhorar a aprendizagem. Os pesquisadores aplicaram cinco pulsos de neurotransmissores de serotonina aos sensores neurais motores das lesmas, a cada 20 minutos. Esse procedimento levou duas enzimas neuronais a ativar proteínas chamadas fatores de transcrição, que impulsionam os genes, iniciando a produção de novas proteínas que favorecem o disparo de neurônios.

Ao usar um protocolo de sincronização padrão, os pesquisadores verificaram que elas não atingem o pico de ativação dentro de uma célula nervosa ao mesmo tempo – um indício de que a maneira usual de realizar tarefas em intervalos regulares pode não ser o melhor caminho.

Depois, a equipe de Byrne implantou em um computador 10 mil modelos de variação de intervalos entre os pulsos para tentar coordenar a ativação de enzimas e maximizar sua interação. O padrão temporal comum não foi o constatado, mas uma série irregular de dois pulsos de serotonina emitidos a cada 10 minutos, depois em 5 e por fim em meia hora. Neste padrão, a interação entre as duas enzimas aumentou em 50 %.

“O padrão de tempo encontrado pode ser devido à adaptação das lesmas para escapar de predadores ou evitar uma descarga elétrica. Estudar cálculo, por exemplo, pode ser um pouco diferente”, diz Byrne. Entretanto, há evidências de que o processo de aprendizagem opera de forma mais eficiente em modelos temporais alternados. Os cientistas esperam que os mesmos resultados possam ser aplicados em seres humanos em situações que exijam esforço intelectual.


Disponível em http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/memoria_turbinada.html. Acesso em 11 jul 2013.