FolhaPress
06/11/2013
Apesar do avanço da renda da classe C nos últimos anos e do
crescente acesso ao mercado de consumo e crédito, um fosso ainda separava os
moradores de favelas e de outras áreas das cidades do país em 2010, de acordo
com dados do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), divulgados nesta quarta-feira (6).
Eles tinham rendimento mais baixo, nível de instrução menor
e estavam mais sujeitos à informalidade no mercado de trabalho. Em suas casas,
alguns bens como computador com internet e automóvel também eram menos
presentes.
Talvez resida na educação o maior abismo: enquanto 14,7% da
população de outras áreas tinha concluído o ensino superior, nos chamados
aglomerados subnormais (favelas, palafitas, cortiços e outros tipos de
conjuntos de habitações precárias) esse percentual era de apenas 1,6%.
Na renda, a disparidade também ficava evidente: 31,6% dos
moradores de comunidades carentes tinham rendimento familiar per capita menor
do que meio salário mínimo, contra 13,8% da população de outras áreas. A
informalidade também era mais elevada: 27,8% dos moradores de favelas
trabalhavam sem carteira assinada. O percentual fica restrito a 20,5% dos
ocupados que moraram fora dessas áreas degradadas.
De acordo com o IBGE, 11,4 milhões de pessoas viviam em
favelas em todo o Brasil em 2010. Eram 6.329 comunidades, distribuídas em 232
cidades brasileiras. Trata-se ainda, segundo o instituto, de um fenômeno
tipicamente metropolitano.
As cinco maiores regiões regiões metropolitanas brasileiras
concentravam 59,3% dos moradores de favelas de todo o país. Desse total, 18,9%
viviam na Grande
São Paulo e 14,9% no Rio de Janeiro e nas cidades do seu
entorno metropolitano. As demais regiões na lista das cinco eram Belém,
Salvador e Recife.
Segundo Maria Amélia Villanova, técnica do IBGE, a ocupação
de favelas é um processo histórico no país e se deu de modo diferente nas
diversas regiões brasileiras, mas sempre caracterizado pela presença de
população mais pobre e em moradias sem as mesmas condições de outras áreas, com
acesso mais difícil, sem infraestrutura adequada em muitas localidades e, em
geral, sem posse irregular do terreno ou imóvel.
Porém, diz, existem algumas diferenças regiões no tipo de
ocupação do solo. Em São Paulo, por exemplo, as favelas predominam na
periferia. Já no Rio, as comunidades mais antigas se formaram nas regiões
central, na zona sul e da zona norte (especialmente na área mais perto do
centro, como Estácio e Tijuca) em morros e encostas.
Na capital paulista, a densidade demográfica em favelas era
de 297 habitantes por hectare (cada hectare equivale a 10 mil metros
quadrados). Nas favelas do Rio, por exemplo, a densidade era menor: 257
habitantes por hectare.
Em todo o país, a maior parte das favelas está em área plana
(52,5%), embora 19,7% das comunidades se situavam em encostas bastante
inclinadas um dado que em quase toda a temporada de chuvas de verão se traduz
em deslizamentos de casas e frequentemente em mortes. A região Sudeste concentrava
a maioria das favelas 55,5% das 6,3 mil comunidades instaladas no país.
Rute Imanishi, pesquisadora do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) especializada no tema, disse que "a opção de
morar nas favelas foi a que restou" às famílias de renda mais baixa que
queriam ter acesso a serviços públicos de melhor qualidade (saúde e educação em
especial) e morar mais perto do trabalho diante do elevado custo de moradia nas
maiores capitais do país.
"É muito caro moras em cidades como Rio e São Paulo. A
alternativa barata seria viver muito mais longe, mas cidades nas
"franjas" dessas regiões metropolitanas, em cidades muito afastadas e
com serviços igualmente ou até mais precários do que nas favelas."
Além disso, afirma, muitos moradores criam cômodos para
alugar e geram uma renda extra morando em favelas. Permitem ainda que filhos e
outros parentes construam "na laje" ou no mesmo terreno. Se não
estivessem em comunidades, não seria tão fácil construir e
"verticalizar" suas moradias em áreas regulares sob fiscalização das
prefeituras.
Disponível em
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1423103&tit=Avanco-da-classe-C-nao-melhora-vida-nas-favelas-aponta-IBGE.
Acesso em 10 nov 2013.
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