Mauro Segura
09 DEC 2013
Além do legado impressionante de conquistas alcançadas por
Mandela, desde que deixou a prisão em 1990, ele deixa para o mundo a sua marca.
Uma marca de liderança, solidariedade e tolerância, mas, mais do que tudo,
recheada de valores de liberdade.
No momento que somos atropelados por milhares de mensagens
positivas após a sua morte, é interessante descobrir que Madiba está longe de ser
unanimidade em seu país. Existe uma massa enorme de pessoas na África do Sul
que vê muito mais retórica e boa intenção do que reais realizações de seu
líder. Já se passaram quase 20 anos do fim do Apartheid, a segregação racial
diminuiu, mas a segregação social continua enorme na África do Sul. O índice de
desemprego é de 25% e a maioria dos que não têm emprego são negros.
Metade das crianças que ingressa na rede de ensino abandona
a escola sem completar o ensino médio. Dez milhões de pessoas não têm moradias
adequadas e a falta de saneamento básico é evidente. Um dado chocante mostrado
no Censo de 2011: 80% dos habitantes do país são negros e recebem, em média, um
sexto do salário dos brancos. Um terço da população vive abaixo da linha da
pobreza. Em resumo, foram feitos avanços em direitos humanos, liberdade civil e
previdência social, mas a economia quase não evoluiu. O futuro da nação ainda
parece incerto.
O mundo está sempre à procura de ícones e exemplos. A
imaginação pública precisa disso. Mandela é um deles. Olhe a imagem dele. Veja
qualquer fotografia onde ele esteja. Parece que a imagem de Mandela magnetiza
você. Parece uma majestade sem coroa, algo natural. Ele brilha, é uma figura
dominante, mesmo sendo um homem simpático, bondoso e dócil. Todos somem quando
estão ao redor dele, ficam pequenos. Os seus olhos passam imensa compaixão e
credibilidade. O seu sorriso parece sincero e acolhedor. Seus cabelos brancos
transmitem sabedoria e equilíbrio. Tudo é mágico. Todos queremos saber o que
pensa. Todos queremos ouvi-lo. Ele carrega atributos de mito e de santo, alguém
que une pessoas, independente de quem elas sejam e como pensam.
Mas Mandela não é apenas imagem. Ele é um ser humano, tem
múltiplas dimensões, podemos considerá-lo ativista, idealista, reformista,
pacificador, humanitário, político e tudo que você desejar imaginar. Em todas
elas Mandela é crível, carrega atributos fortíssimos de credibilidade e
integridade. Não é por acaso que sua imagem foi e continua sendo exaustivamente
usada ao redor do mundo, especialmente em seu próprio país. A imagem serena de
Madiba invade todos os lugares da África do Sul, nos supermercados, nas lojas
de moda e nos espaços públicos. É algo devastador, até abusivo.
A marca Mandela é "boa de venda", dá credibilidade
a qualquer produto. Além disso, é um ícone global, capaz de ser reconhecido em
qualquer parte do mundo. Muitas marcas exploraram e continuam explorando a
imagem do líder sul africano. Camisetas, tapetes, calçados, produtos
alimentícios e uma gama enorme de produtos carregam a imagem sorridente de
Mandela ou uma de suas frases famosas. Existe até o Mandela Burger, vendido por
$24 no Café Mandela, em Copenhagen. Seu rosto estampa notas de Rand, o dinheiro
sul africano. Membros de sua família também aderiram. A filha de Madiba já
pousou com uma garrafa de vinho, de sua coleção de vinhos que são
comercializados com o nome de "House of Mandela". Em junho de 2012,
uma linha de roupas "made in China" foi lançada com a marca 46664,
que era o número da prisão de Mandela. Duas das netas de Madiba estrelaram um
reality show chamado "Being Mandela", onde vários produtos de marca
Mandela foram exibidos.
A custódia da marca Mandela é responsabilidade da NMF –
Nelson Mandela Foundation (NMF) –, mas parece que não existe controle sobre
ela. Desde a sua família até ao seu partido político na África do Sul, todos
dizem que o Mandela se sentia confortável com o uso do seu nome em produtos,
tendo ele nunca expressado como seu nome deveria ser usado.
A última aparição pública de Mandela foi na final da Copa do
Mundo na África do Sul em 2010. Ironicamente a sua imagem continuou crescendo e
se consolidando como ícone global. Enfim, Madiba é pop.
Disponível em
http://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/ponto_de_vista/2013/12/09/Quanto-vale-a-marca-Mandela-.html?tm_campaign=mandela_marca&utm_source=facebook&utm_medium=facebook.
Acesso em 12 dez 2013.
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