Camila Pati
08/04/2014
O outono de 2011 foi decisivo para a carreira
dos professores do departamento de ciência da computação da Universidade de
Stanford, Daphne Koller e Andrew Ng.
Envolvidos com pesquisas sobre tecnologias educacionais,
eles decidiram lançar três cursos online para os estudantes da universidade.
O estrondoso sucesso (cada curso teve milhares de inscritos)
foi o insight que eles precisavam para criar, em abril de 2012, a plataforma de
educação online gratuita Coursera.
“Quando lançamos oficialmente, eram 37 cursos e quatro
universidades parceiras: Stanford, Princeton, Universidade da Pensilvânia e
Universidade de Michigan”, lembra Daphne.
Hoje, diz a cofundadora, são 633 cursos de 100 universidades
de 20 diferentes países e um número de estudantes de fazer inveja às maiores
universidades do mundo: 7,2 milhões.
Tudo isso no prazo exato de dois anos desde a sua criação.
Mas Daphne não quer parar por aí. Ela quer expandir o acesso à plataforma (que
tem aulas predominantemente em inglês) também para quem não tem domínio do
idioma.
Uma das iniciativas, por exemplo, é a parceria com a
Fundação Lemann para legendar cursos em português. Já são 10 com legenda. “Com
isso dobramos e até triplicamos, em alguns casos, o número de inscrições de
brasileiros nesses cursos”, conta.
Ela também tem planos de parcerias com instituições
brasileiras, o que significa que em breve a plataforma deve estar “falando
português” e oferecendo cursos desenvolvidos por professores das melhores
universidades do país.
Por este motivo, Daphne esteve no Brasil na última semana. A
EXAME.com, ela falou sobre educação online, os temas que mais interessam aos
brasileiros e deu dicas de como escolher o curso certo para não desistir no
meio do caminho. Veja os principais trechos da conversa:
EXAME.com: Você costuma dizer que a educação online é o
futuro. Estamos preparados para isso?
Daphne Koller: Já há muitos usos de tecnologias online que,
alguns anos atrás, seriam considerados impossíveis. Pense em tudo que é
relacionado ao consumo de entretenimento.
Antes do Youtube, do Netflix e seus similares, as pessoas
não pensavam que poderia ter tanto entretenimento pela web. Antes do Facebook,
as pessoas não pensavam que poderiam ter amigos pela web.
Cinco anos atrás, namoro pela internet era um conceito
bizarro. Encontrar um parceiro para a vida, pela internet? Que estranho. E hoje
sites de relacionamento são o que as pessoas mais novas estão usando.
É um processo e geralmente acontece mais rápido do que as
pessoas pensam.
EXAME.com: Então, já estamos preparados?
Daphne Koller: Acho que há pessoas que não estão preparadas.
Sabemos da exclusão digital. Ainda existem pessoas para quem internet e
computadores, em geral, ainda são um mistério assustador.
Para essas pessoas, precisamos fazer um trabalho melhor de
prepará-las e termos a certeza de que a interface que provemos seja simples e
fácil de usar.
Mas profissionais qualificados não têm absolutamente nenhum
problema em fazer essa transição para educação online.
EXAME.com: Quantos alunos brasileiros estão no Coursera?
Daphne Koller: O Brasil é um país muito grande para gente, é
o quinto em termos de crescimento de estudantes. Já são 250 mil.
EXAME.com: Quais os cursos que mais interessam aos
brasileiros?
Daphne Koller: Se você olha para os dez cursos com mais
alunos brasileiros, eles tendem a cair em duas categorias principais. A
primeira é negócios e habilidades de empreendedorismo.
A segunda, é o que eu chamaria de habilidade cognitiva de
pensamento, que é aprender a racionalizar, argumentar e usar o pensamento
matemático.
EXAME.com: A evasão dos cursos é um problema?
Daphne Koller: A mídia exagera nas reportagens sobre evasão.
Porque muitas das pessoas que se inscrevem para um curso não aparecem nem no
primeiro dia e muitos não chegam a entregar a primeira tarefa.
Há pessoas que só assistem aos vídeos e tratam o curso como
um documentário de televisão, o que, na minha opinião, é bem divertido. Você
pode aprender assistindo documentários, lendo um livro. É melhor aprender com
engajamento ativo, mas nem todo mundo vai fazer isso.
EXAME.com: Então, não é um problema?
Daphne Koller: Entre as pessoas que estão comprometidas em
terminar o curso, a taxa de conclusão é de mais de 60%. Entre quem paga para
receber um certificado - que pressupõe um valor que não é alto, de 50 dólares
-, a taxa de conclusão chega a 90%.
De certa maneira, pode-se dizer que não é um problema tão
grande quanto as pessoas fazem parecer. Mas ainda é maior do que queremos
porque se 64% terminam o curso, 35%, não.
EXAME.com: Como evitar que estes 35% abandonem?
Daphne Koller: Estamos muito interessados em aumentar taxa
de conclusão entre esses alunos e existe uma variedade de mecanismos para os
quais estamos olhando.
Incluindo, por exemplo, o que ocorre em centros de
aprendizagem, em que estudantes aprendem juntos de maneira organizada e com a
ajuda de um facilitador que os ajude com o material do curso e a solucionar
problemas.
O fato de haver uma comunidade no entorno do estudante o
ajuda a concluir o curso.
EXAME.com: Fazer o curso em grupo é um jeito de diminuir as
chances de não terminá-lo?
Daphne Koller: A primeira coisa é criar tempo semanal na sua
rotina para fazer o curso. Um período que você saiba que vai trabalhar nisso.
Porque, do contrário, as pessoas deixam tudo para o último minuto e quando se
dão conta perderam prazos e percebem que não vão terminar o curso.
A segunda é identificar um grupo de pessoas com quem você
quer estudar junto. Podem ser reuniões presenciais ou conversas virtuais. É
útil criar uma comunidade porque assim você sente que deve a conclusão do curso
também a eles. Além de ser mais divertido, há mais comprometimento.
EXAME.com: E o processo de escolha do curso?
Daphne Koller: Escolher bem o curso é a terceira coisa. Algo
muito legal desses cursos abertos online é que o estudante pode explorar nas
duas primeiras semanas do curso se ele é adequado para o seu perfil.
Se ele decidir prosseguir é que o conteúdo tem a ver com o
que ele espera e o jeito de ensinar também. E se ele não gostar, não precisa
continuar. Não tem punição, é de graça.
EXAME.com: Este tipo de curso online é um diferencial para o
currículo?
Daphne Koller: Há recrutadores que estão usando a conclusão
desses cursos online como um fator importante para selecionar e contratar
profissionais.
EXAME.com: Com tanta oferta de cursos, como é possível se
diferenciar academicamente?
Daphne Koller: Tem pessoas que agarram as oportunidades que
elas têm e começam e terminam esses cursos. Há outras que não tem motivação
porque estão muito ocupadas assistindo televisão ou fazendo outra coisa.
Para se diferenciar academicamente há duas barreiras:
financeira e a da motivação. O que fizemos foi derrubar a primeira, não a
segunda.
Disponível em
http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/as-dicas-da-criadora-do-coursera-para-concluir-cursos-online?page=1.
Acesso em 18 abr 2014.
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