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segunda-feira, 21 de abril de 2014

As dicas da criadora do Coursera para concluir cursos online

Camila Pati
08/04/2014
jovens em mesa com computadores 
O outono de 2011 foi decisivo para a carreira dos professores do departamento de ciência da computação da Universidade de Stanford, Daphne Koller e Andrew Ng.

Envolvidos com pesquisas sobre tecnologias educacionais, eles decidiram lançar três cursos online para os estudantes da universidade.

O estrondoso sucesso (cada curso teve milhares de inscritos) foi o insight que eles precisavam para criar, em abril de 2012, a plataforma de educação online gratuita Coursera.
“Quando lançamos oficialmente, eram 37 cursos e quatro universidades parceiras: Stanford, Princeton, Universidade da Pensilvânia e Universidade de Michigan”, lembra Daphne.

Hoje, diz a cofundadora, são 633 cursos de 100 universidades de 20 diferentes países e um número de estudantes de fazer inveja às maiores universidades do mundo: 7,2 milhões.

Tudo isso no prazo exato de dois anos desde a sua criação. Mas Daphne não quer parar por aí. Ela quer expandir o acesso à plataforma (que tem aulas predominantemente em inglês) também para quem não tem domínio do idioma.

Uma das iniciativas, por exemplo, é a parceria com a Fundação Lemann para legendar cursos em português. Já são 10 com legenda. “Com isso dobramos e até triplicamos, em alguns casos, o número de inscrições de brasileiros nesses cursos”, conta.

Ela também tem planos de parcerias com instituições brasileiras, o que significa que em breve a plataforma deve estar “falando português” e oferecendo cursos desenvolvidos por professores das melhores universidades do país.

Por este motivo, Daphne esteve no Brasil na última semana. A EXAME.com, ela falou sobre educação online, os temas que mais interessam aos brasileiros e deu dicas de como escolher o curso certo para não desistir no meio do caminho. Veja os principais trechos da conversa:

EXAME.com: Você costuma dizer que a educação online é o futuro. Estamos preparados para isso?
Daphne Koller: Já há muitos usos de tecnologias online que, alguns anos atrás, seriam considerados impossíveis. Pense em tudo que é relacionado ao consumo de entretenimento.
Antes do Youtube, do Netflix e seus similares, as pessoas não pensavam que poderia ter tanto entretenimento pela web. Antes do Facebook, as pessoas não pensavam que poderiam ter amigos pela web.

Cinco anos atrás, namoro pela internet era um conceito bizarro. Encontrar um parceiro para a vida, pela internet? Que estranho. E hoje sites de relacionamento são o que as pessoas mais novas estão usando.

É um processo e geralmente acontece mais rápido do que as pessoas pensam.

EXAME.com: Então, já estamos preparados?
Daphne Koller: Acho que há pessoas que não estão preparadas. Sabemos da exclusão digital. Ainda existem pessoas para quem internet e computadores, em geral, ainda são um mistério assustador.

Para essas pessoas, precisamos fazer um trabalho melhor de prepará-las e termos a certeza de que a interface que provemos seja simples e fácil de usar.

Mas profissionais qualificados não têm absolutamente nenhum problema em fazer essa transição para educação online.

EXAME.com: Quantos alunos brasileiros estão no Coursera?
Daphne Koller: O Brasil é um país muito grande para gente, é o quinto em termos de crescimento de estudantes. Já são 250 mil.

EXAME.com: Quais os cursos que mais interessam aos brasileiros?
Daphne Koller: Se você olha para os dez cursos com mais alunos brasileiros, eles tendem a cair em duas categorias principais. A primeira é negócios e habilidades de empreendedorismo.

A segunda, é o que eu chamaria de habilidade cognitiva de pensamento, que é aprender a racionalizar, argumentar e usar o pensamento matemático.

EXAME.com: A evasão dos cursos é um problema?
Daphne Koller: A mídia exagera nas reportagens sobre evasão. Porque muitas das pessoas que se inscrevem para um curso não aparecem nem no primeiro dia e muitos não chegam a entregar a primeira tarefa.

Há pessoas que só assistem aos vídeos e tratam o curso como um documentário de televisão, o que, na minha opinião, é bem divertido. Você pode aprender assistindo documentários, lendo um livro. É melhor aprender com engajamento ativo, mas nem todo mundo vai fazer isso.

EXAME.com: Então, não é um problema?
Daphne Koller: Entre as pessoas que estão comprometidas em terminar o curso, a taxa de conclusão é de mais de 60%. Entre quem paga para receber um certificado - que pressupõe um valor que não é alto, de 50 dólares -, a taxa de conclusão chega a 90%.

De certa maneira, pode-se dizer que não é um problema tão grande quanto as pessoas fazem parecer. Mas ainda é maior do que queremos porque se 64% terminam o curso, 35%, não.

EXAME.com: Como evitar que estes 35% abandonem?
Daphne Koller: Estamos muito interessados em aumentar taxa de conclusão entre esses alunos e existe uma variedade de mecanismos para os quais estamos olhando.

Incluindo, por exemplo, o que ocorre em centros de aprendizagem, em que estudantes aprendem juntos de maneira organizada e com a ajuda de um facilitador que os ajude com o material do curso e a solucionar problemas.

O fato de haver uma comunidade no entorno do estudante o ajuda a concluir o curso.

EXAME.com: Fazer o curso em grupo é um jeito de diminuir as chances de não terminá-lo?
Daphne Koller: A primeira coisa é criar tempo semanal na sua rotina para fazer o curso. Um período que você saiba que vai trabalhar nisso. Porque, do contrário, as pessoas deixam tudo para o último minuto e quando se dão conta perderam prazos e percebem que não vão terminar o curso.

A segunda é identificar um grupo de pessoas com quem você quer estudar junto. Podem ser reuniões presenciais ou conversas virtuais. É útil criar uma comunidade porque assim você sente que deve a conclusão do curso também a eles. Além de ser mais divertido, há mais comprometimento.

EXAME.com: E o processo de escolha do curso?
Daphne Koller: Escolher bem o curso é a terceira coisa. Algo muito legal desses cursos abertos online é que o estudante pode explorar nas duas primeiras semanas do curso se ele é adequado para o seu perfil.

Se ele decidir prosseguir é que o conteúdo tem a ver com o que ele espera e o jeito de ensinar também. E se ele não gostar, não precisa continuar. Não tem punição, é de graça.

EXAME.com: Este tipo de curso online é um diferencial para o currículo?
Daphne Koller: Há recrutadores que estão usando a conclusão desses cursos online como um fator importante para selecionar e contratar profissionais.

EXAME.com: Com tanta oferta de cursos, como é possível se diferenciar academicamente?
Daphne Koller: Tem pessoas que agarram as oportunidades que elas têm e começam e terminam esses cursos. Há outras que não tem motivação porque estão muito ocupadas assistindo televisão ou fazendo outra coisa.

Para se diferenciar academicamente há duas barreiras: financeira e a da motivação. O que fizemos foi derrubar a primeira, não a segunda.


Disponível em http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/as-dicas-da-criadora-do-coursera-para-concluir-cursos-online?page=1. Acesso em 18 abr 2014.

domingo, 6 de abril de 2014

Educação a distância conquista confiança de alunos e empregadores

Estadão
25 de março de 2014
 
Antigos alvos de resistência, as graduações a distância no Brasil vêm conquistando a confiança do mercado. Já comum nas licenciaturas, o ensino superior fora das salas de aula também ganha espaço em áreas mais técnicas, como as de saúde, gestão e engenharias. Segundo especialistas, o perfil do candidato e o nome da instituição pesam mais para uma vaga de emprego do que a modalidade do curso.

Com público heterogêneo, a educação a distância (EAD) reúne alunos com características em comum: agenda apertada e interesse de progredir na carreira. Hoje no País existem mais de 5,7 milhões de matriculados na modalidade.

O trabalho, o casamento e o filho de 7 anos foram os motivos para que a assistente administrativa Eliete Martins, de 34 anos, procurasse um curso EAD. "Tive receio, mas eu precisava de flexibilidade nos horários. Depois de pesquisar em consultorias de recursos humanos e conversar com minha família, resolvi fazer Administração a distância", conta.

Eliete, que está no quinto semestre do curso na Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), diz que teve receio no início, mas hoje acredita que a graduação não deve em nada para as presenciais. "Comparo com algumas amigas que também fazem Administração e vejo que não muda muito", diz ela, que estuda, em média, cinco horas semanais. A Unicid, que oferece 25 graduações EAD, tem 20 mil alunos a distância, 5 mil estudantes a mais que nos cursos tradicionais.

Concorrência. De acordo com a diretora da Resch RH Consultoria, Jacqueline Resch, é pouco comum que os recrutadores perguntem se o curso é presencial ou a distância durante uma entrevista de emprego e os diplomas não especificam a modalidade da graduação. "Ainda existe um pouco de preconceito no mercado. Mas, na era digital, é um contrassenso discriminar alguém que conseguiu seus conhecimentos por meio da tecnologia", defende.

Em processos seletivos, segundo consultores, os egressos de cursos a distância podem até levar vantagem sobre outros candidatos. "O estudante deve ter bem mais autonomia e disciplina para fazer uma graduação não presencial", diz o presidente da Associação Brasileira de Ensino a Distância, Fredric Litto. "Algumas empresas preferem profissionais com esse perfil mais independente e questionador", garante ele, que defende maior expansão dos cursos a distância além daqueles voltados a formar professores.

Ricardo Yasuda, de 38 anos, titulado em Engenharia Ambiental a distância pela Universidade Federal de São Carlos (UFScar), afirma que o curso EAD exigiu mais empenho que sua primeira graduação, em Engenharia Química. "Sinto que estudei mais na segunda. Como o aluno organiza o próprio horário, é preciso ser mais dedicado e concentrado", conta ele.

Yasuda, que trabalha em uma fábrica de produção de papel, integra outro grupo comum no universo EAD: alunos mais velhos, que já têm um curso superior e buscam aperfeiçoar a formação. Segundo ele, a chancela da instituição federal para o curso aliviou suas dúvidas quanto ao EAD. "Isso é o que conta mais." Apenas no Estado de São Paulo são oferecidos 17 cursos de Engenharia a distância. No País, já são 192 graduações na área credenciadas pelo Ministério da Educação (MEC).

Caminho difícil. Segundo a gerente da Cia. de Talentos Fernanda Montero, a desvantagem de quem faz curso a distância é a falta de convívio com os colegas para trocar experiências e formar uma rede de contatos profissionais. "O aluno deve buscar uma forma de compensar esse ponto participando, por exemplo, de grupos de estudo presenciais ou feiras universitárias", recomenda.

Para o presidente da Associação Brasileira de Estudantes de Educação a Distância, Ricardo Holz, a desconfiança de cursos a distância é mais alta em áreas tradicionais, como a jurídica e a de saúde. "Também há resistência maior no setor público que no privado. Recebemos muitas reclamações por causa de órgãos e prefeituras que recusam candidatos EAD aprovados em concurso", relata Holz.

Outros opositores aos cursos a distância são os conselhos de classe, que fazem frequentes apelos ao MEC para evitar a expansão ou enrijecer a fiscalização sobre as graduações EAD. Um exemplo é o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). Como as graduações na área são mais recentes, a entidade ainda não recebeu pedidos de registro profissional de um graduado a distância, o que deve ocorrer até o fim deste ano com a formatura das primeiras turmas. Por lei, os conselhos são obrigados a registrar quem fez um curso reconhecido pelo MEC.

"Entre o enfermeiro e o paciente não há intermediários. Temos preocupações sobre erros desses profissionais, que provavelmente não terão a mesma qualidade na formação", afirma Doris Daia, conselheira do Cofen. "Outra questão é que o número de profissionais no mercado já extrapola a demanda. Não são necessárias formações EAD", argumenta. Na modalidade, o conselho é favorável somente a pós e especializações.

Thais Sousa, diretora de desenvolvimento de EAD da Universidade Anhanguera, não concorda com perda de qualidade nos cursos a distância da instituição, que não são 100% virtuais. Segundo ela, é oferecida toda a estrutura para atividades de laboratório e aprendizagem de procedimentos, como coleta de amostras e injeções, no caso da Enfermagem.

"Não é fácil como pensam. Temos aulas práticas duas vezes por semana", exemplifica. Para especialistas, softwares que simulam condições reais também devem ajudar nos treinamentos a distância na saúde. "Com os cursos online, esperamos atingir o público que está mais longe", prevê. Além do grupo Anhanguera, que passou a oferecer Enfermagem a distância em 2014, apenas outras quatro instituições no País – três particulares e uma pública – têm o curso EAD.


Disponível em http://www.estadao.com.br/noticias/vida,educacao-a-distancia-conquista-confianca-de-alunos-e-empregadores,1144568,0.htm. Acesso em 31 mar 2014.