Carlos Castilho
17/04/2012
Para variar terei de me apoiar mais uma vez em estatísticas
norte-americanas para colocar na mesa um tema que interessa também aos
brasileiros: o jornalismo local e
hiperlocal. Segundo uma pesquisa do Pew Center, 72% dos
norte-americanos seguem regularmente o noticiário do local onde moram e 32%
admitiram que sua vida seria gravemente afetada caso a imprensa comunitária
desaparecesse.
Aqui no Brasil, não conheço uma pesquisa feita nos mesmos
moldes e, se houvesse, provavelmente os números seriam diferentes por conta das
debilidades crônicas de nossa imprensa regional e pelo histórico fascínio do
resto do país pela agenda do eixo Rio-São Paulo-Brasilia.
Isto não quer dizer que não tenhamos bons jornais nos demais
estados e nem que a realidade do interior do país sejam menos interessante do
ponto de vista jornalístico do que o que ocorre nos dois maiores centros
urbanos e na capital política do país. É que nosso cardápio informativo
quotidiano está de tal maneira impregnado pela agenda carioca, paulista e brasiliense
que nem nos damos conta de que coisas também acontecem noutras regiões.
O bombardeio
noticioso com eventos ocorridos no eixo Rio-São Paulo acabou
contribuindo para a intensificação da perda de identidade nas comunidades do
interior, um fenômeno que começou a ganhar corpo nos anos 1970 com a migração
cada vez maior de pessoas de região para região no Brasil e com o processo de
globalização econômica e social. Hoje, aqui como nos Estados Unidos, há
consideráveis setores da população interiorana que sentem-se desenraizados,
fenômeno estudado pelo britânico Anthony Giddens [Modernidade e Identidade.
Anthony Giddens. Jorge Zahar. 233 páginas. 2002]
Os norte-americanos já começam a se mostrar preocupados com
o futuro da imprensa regional e local diante das mudanças em curso em todo o
sistema jornalístico do país. É uma preocupação com o tipo de informação que
estará à disposição dos moradores de pequenas e médias cidades, mas também
sobre a forma como o jornalismo comunitário e regional poderá contribuir para a
sobrevivência da indústria da comunicação.
Desorientadas, as pessoas voltam gradualmente a se reagrupar
em comunidades com a preocupação básica de buscar algum tipo de identidade,
seja a perdida seja uma nova, conforme a teoria desenvolvida pelo catalão
Manuel Castells, no seu livro O Poder da Identidade [Editora Paz e Terra, 532
páginas.2000]. Segundo Castells, esse
processo assume formatos e propostas que variam de continente para continente,
mas mantém uma preocupação básica: criar novas comunidades sociais, usando
ferramentas presenciais ou virtuais.
É nesse contexto que as pessoas voltam a se interessar pela
informação local criando um novo espaço para a imprensa e um novo mercado de
consumidores de notícias, já que é patente a perda de interesse dos leitores
pela agenda política nacional. Alguns jornais como O Globo já se deram conta
desse fenômeno e multiplicam as iniciativas e projetos voltados para o público
local.
Acontece que ai surge um novo problema. A cobertura local é
cara porque implica uma diversificação de informações e consequentemente a
criação de um amplo quadro de repórteres e informantes. Simultaneamente, as indústrias jornalísticas
passam por um momento de vacas magras, onde tudo o que implica gastos vai
imediatamente parar nos últimos lugares da lista de prioridades. O fator econômico é apontado unanimemente
como o grande fato limitante no crescimento da mídia local, tanto pela pesquisa
do Pew Center como por investigações acadêmicas aqui no Brasil .
Para atender à demanda da população e contornar as
dificuldades financeiras, os jornais não têm outra alternativa senão
desenvolver uma parceria com o público. Os leitores têm hoje acesso fácil a
telefones celulares com câmeras e muitos conseguem até usar a internet com telefones
inteligentes. A imprensa terá de criar uma relação com o público para que ele
colabore como provedor de material para notícias, mas para que esta parceria
seja duradoura os jornais devem retribuir dando aos leitores maior participação
no processo de produção informativa.
É nesse ponto que está o X do problema, porque isto implica
a mudança de alguns comportamentos muito antigos, que levaram a imprensa a
vincular-se mais ao poder do que aos seus leitores.
Disponível em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/posts/view/quem_perde_com_o_desaparecimento_dos_jornais_locais.
Acesso em 15 ago 2013.