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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Você julga um livro pela capa?

Nastassja Fischer
03/02/2012
 
Existem alguns ditos populares que nos alertam que não devemos confiar em alguém somente pela sua aparência: “quem vê cara, não vê coração” e “nunca julgue um livro pela capa” são apenas dois exemplos. Porém, nossos rostos dão pistas essenciais sobre como devemos agir ou o que esperar de uma outra pessoa, como já foi, inclusive, falado em um texto aqui no blog. Por exemplo, existem evidências que pistas faciais de medo são processadas em apenas 40 milissegundos (ms), sendo esse tempo suficiente para gerar uma opinião sobre a intenção de outra pessoa. Com isso, certos sinais faciais podem ter uma influência substancial em como as pessoas avaliam e se comportam frente a outra pessoa em uma interação social.

Uma dessas pistas que procuramos quando nos relacionamos com alguém é a confiança. Detectar o quão confiável é uma pessoa possui uma importância especial, a partir do momento que se pode coletar informações importantes sobre se o indivíduo com quem estamos interagindo é alguém que podemos nos aproximar ou evitar. Dessa forma, a detecção da confiabilidade é essencial para a sobrevivência humana e existem um estudo que sugere, inclusive, que o cérebro possui regiões especializadas para desempenhar essa tarefa, como por exemplo, a ínsula e amígdala, que são regiões envolvidas em situações onde precisamos detectar um potencial perigo ou tomar uma decisão.

Baseando-se nessas informações, um trabalho realizado na Universidade do Arizona no Estados Unidos testou a hipótese de que o julgamento implícito da confiabilidade de terceiros estaria relacionado com o modo que as pessoas cooperam entre si. Para isso, os voluntários do teste participaram de uma tarefa de interação social chamada “jogo da confiança”. Na sua versão tradicional, existem duas funções a serem assumidas por pessoas diferentes: a de “investidor” e “parceiro”. Ao “investidor” é dada uma quantia em dinheiro e lhe é informado que ele tem a opção de ficar com todo o dinheiro, transferir a quantia total que recebeu para o “parceiro” ou repartir o que ele tem da forma que desejar. Diz-se também que o montante que for transferido será multiplicado de 3 a 4 vezes e dado ao “parceiro”. Esse último, então, tem o papel de decidir se vai transferir alguma parte do dinheiro multiplicado para o “investidor” e, com isso, o “parceiro” tem a opção de honrar a confiança nele depositada ou não.

Na versão do “jogo da confiança” usada pelos autores do estudo, os participantes do teste poderiam assumir apenas o papel de “investidores” e, antes do jogo começar, tinham que visualizar e avaliar, de forma não-explícita, as faces de 79 supostos “parceiros”, com os quais era dito que eles teriam que interagir. Posteriormente, em cada rodada do jogo, eles tinham que decidir se iriam transferir uma determinada quantia em dinheiro para seu parceiro sem ter nenhuma garantia de retorno, sendo esse um “índice” implícito do quanto eles confiavam no parceiro. Ao final da tarefa, eles ainda tinham que declarar o quanto eles confiavam nos “parceiros”.

Os resultados mostraram que a avaliação inicial de confiabilidade feita através da visualização da foto foi uma pista altamente influenciadora na decisão do “investidor” sobre o quanto de dinheiro ele iria dividir ou não. Ou seja, os participantes deram mais dinheiro para aqueles “parceiros” que eles achavam ser mais confiáveis no início do jogo, tendo como parâmetro apenas as suas fotos. Mais ainda, o fato do “parceiro” ter devolvido ou não o dinheiro após a divisão não influenciou na avaliação explícita de confiabilidade pelo “investidor” no final da tarefa. Pelo contrário, parece que o julgamento do quão confiável era o “parceiro”, realizado implicitamente antes de começar o teste e baseado apenas na aparência do rosto, exerceu uma influência mais forte nesse sentido.

Desse modo, pode-se observar como nós somos influenciados, mesmo que de forma não-consciente, por pistas sociais. Também é interessante notar como tais pistas podem afetar nossas decisões e a forma como interagimos com o próximo. Por mais que o velho ditado diga: “Quem vê cara, não vê coração”, parece que é na “cara” que nos baseamos para guiar qual será o próximo passo a ser tomado quando decidimos cooperar com alguém.


Disponível em http://www.forebrain.com.br/voce-julga-um-livro-pela-capa/. Acesso em 12 dez 2013.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Nossas expressões faciais são universais?

Forebrain
27/06/2012
As expressões faciais são a maneira mais forte de transmitirmos informações sobre nossas emoções para as outras pessoas. De maneira recíproca, quando observamos a fisionomia de alguém, podemos obter informações sobre seu estado de humor e dizer se esta pessoa está com raiva, triste, alegre ou preocupada, por exemplo. As expressões faciais são tão importantes para comunicar aos outros o que sentimos que o nosso cérebro possui um processamento bastante rápido e específico, altamente qualificado, para o reconhecimento de expressões faciais.

A importância das expressões faciais foi observada pela primeira vez por Charles Darwin em 1872, no livro “A Expressão das Emoções no Homem e nos animais”, onde sugeriu que os mamíferos revelariam suas emoções através de suas faces, e que algumas expressões faciais básicas teriam uma função biológica adaptativa. Os diferentes estudos na área de neurociências têm considerado como básicas seis tipos de emoções: alegria, tristeza, raiva, nojo, medo e surpresa. Estas emoções seriam comuns à maioria dos povos e poderiam ser facilmente reconhecidas por suas respectivas expressões faciais, que seriam compostas pelo recrutamento de músculos faciais específicos para cada emoção. A expressão de alegria, por exemplo, é marcada pelo sorriso e uma leve contração dos olhos, enquanto que a expressão de surpresa é associada a uma boca entreaberta e olhos arregalados. As expressões de raiva e nojo, por sua vez, são marcadas pelo franzir do cenho.

Em virtude de suas origens biológicas evolutivas, durante muitos anos acreditou-se que estas emoções básicas, reveladas através de suas expressões faciais específicas, poderiam ser reconhecidas por diferentes populações, em diferentes regiões do planeta, independente de fatores culturais. Esta hipótese, chamada de hipótese da universalidade, considera que as seis emoções básicas e suas respectivas expressões faciais seriam a linguagem universal para sinalizar os estados emocionais internos. Porém, nas últimas décadas, alguns pesquisadores começaram a questionar esta hipótese devido a algumas evidências neurocientíficas.

Um estudo publicado em 2005 demonstrou que quando japoneses e caucasianos visualizavam fotos de faces expressando medo, regiões cerebrais diferentes eram ativadas em resposta à visualização. Mais ainda, este mesmo estudo observou que as regiões ativadas nos indivíduos caucasianos estavam associadas mais diretamente a uma percepcão emocional do estímulo, enquanto que os japoneses não pareciam atribuir uma valência emocional (ou seja, considerá-las como negativas) para as faces.

Um outro estudo mais recente, publicado pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS,) avaliou indivíduos caucasianos ocidentais e indivíduos do leste asiático, enquanto visualizavam animações de faces expressando as seis emoções básicas. Os resultados obtidos indicaram que os caucasianos eram capazes de reconhecer as seis emoções básicas de forma coerente, enquanto que os asiáticos não conseguiam realizar essa tarefa, havendo uma considerável sobreposição no reconhecimento das diferentes faces, especialmente as de surpresa, medo, nojo e raiva. Os resultados desses e de outros estudos mostram que as expressões faciais de emoção são percebidas de maneira diferenciada por indivíduos pertencentes a culturas diferentes, colocando em xeque a ideia de que a emoção humana seria universalmente representada pelo mesmo conjunto básico de somente seis expressões faciais distintas.

Considerando que o estudo das expressões faciais é de grande relevância para o Neuromarketing, é de extrema importância termos em mente que aspectos culturais podem influenciar no reconhecimento de padrões emocionais, antes aceitos como universais. Desta maneira, as ferramentas, que utilizam a avaliação das expressões faciais como instrumento de avaliação de reação de consumidores frente a estímulos de Marketing devem ser consideradas com cautela.


Disponível em http://www.forebrain.com.br/nossas-expressoes-faciais-sao-universais/. Acesso em 11 jul 2013.