Mostrando postagens com marcador alunos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador alunos. Mostrar todas as postagens

domingo, 6 de abril de 2014

Educação a distância conquista confiança de alunos e empregadores

Estadão
25 de março de 2014
 
Antigos alvos de resistência, as graduações a distância no Brasil vêm conquistando a confiança do mercado. Já comum nas licenciaturas, o ensino superior fora das salas de aula também ganha espaço em áreas mais técnicas, como as de saúde, gestão e engenharias. Segundo especialistas, o perfil do candidato e o nome da instituição pesam mais para uma vaga de emprego do que a modalidade do curso.

Com público heterogêneo, a educação a distância (EAD) reúne alunos com características em comum: agenda apertada e interesse de progredir na carreira. Hoje no País existem mais de 5,7 milhões de matriculados na modalidade.

O trabalho, o casamento e o filho de 7 anos foram os motivos para que a assistente administrativa Eliete Martins, de 34 anos, procurasse um curso EAD. "Tive receio, mas eu precisava de flexibilidade nos horários. Depois de pesquisar em consultorias de recursos humanos e conversar com minha família, resolvi fazer Administração a distância", conta.

Eliete, que está no quinto semestre do curso na Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), diz que teve receio no início, mas hoje acredita que a graduação não deve em nada para as presenciais. "Comparo com algumas amigas que também fazem Administração e vejo que não muda muito", diz ela, que estuda, em média, cinco horas semanais. A Unicid, que oferece 25 graduações EAD, tem 20 mil alunos a distância, 5 mil estudantes a mais que nos cursos tradicionais.

Concorrência. De acordo com a diretora da Resch RH Consultoria, Jacqueline Resch, é pouco comum que os recrutadores perguntem se o curso é presencial ou a distância durante uma entrevista de emprego e os diplomas não especificam a modalidade da graduação. "Ainda existe um pouco de preconceito no mercado. Mas, na era digital, é um contrassenso discriminar alguém que conseguiu seus conhecimentos por meio da tecnologia", defende.

Em processos seletivos, segundo consultores, os egressos de cursos a distância podem até levar vantagem sobre outros candidatos. "O estudante deve ter bem mais autonomia e disciplina para fazer uma graduação não presencial", diz o presidente da Associação Brasileira de Ensino a Distância, Fredric Litto. "Algumas empresas preferem profissionais com esse perfil mais independente e questionador", garante ele, que defende maior expansão dos cursos a distância além daqueles voltados a formar professores.

Ricardo Yasuda, de 38 anos, titulado em Engenharia Ambiental a distância pela Universidade Federal de São Carlos (UFScar), afirma que o curso EAD exigiu mais empenho que sua primeira graduação, em Engenharia Química. "Sinto que estudei mais na segunda. Como o aluno organiza o próprio horário, é preciso ser mais dedicado e concentrado", conta ele.

Yasuda, que trabalha em uma fábrica de produção de papel, integra outro grupo comum no universo EAD: alunos mais velhos, que já têm um curso superior e buscam aperfeiçoar a formação. Segundo ele, a chancela da instituição federal para o curso aliviou suas dúvidas quanto ao EAD. "Isso é o que conta mais." Apenas no Estado de São Paulo são oferecidos 17 cursos de Engenharia a distância. No País, já são 192 graduações na área credenciadas pelo Ministério da Educação (MEC).

Caminho difícil. Segundo a gerente da Cia. de Talentos Fernanda Montero, a desvantagem de quem faz curso a distância é a falta de convívio com os colegas para trocar experiências e formar uma rede de contatos profissionais. "O aluno deve buscar uma forma de compensar esse ponto participando, por exemplo, de grupos de estudo presenciais ou feiras universitárias", recomenda.

Para o presidente da Associação Brasileira de Estudantes de Educação a Distância, Ricardo Holz, a desconfiança de cursos a distância é mais alta em áreas tradicionais, como a jurídica e a de saúde. "Também há resistência maior no setor público que no privado. Recebemos muitas reclamações por causa de órgãos e prefeituras que recusam candidatos EAD aprovados em concurso", relata Holz.

Outros opositores aos cursos a distância são os conselhos de classe, que fazem frequentes apelos ao MEC para evitar a expansão ou enrijecer a fiscalização sobre as graduações EAD. Um exemplo é o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). Como as graduações na área são mais recentes, a entidade ainda não recebeu pedidos de registro profissional de um graduado a distância, o que deve ocorrer até o fim deste ano com a formatura das primeiras turmas. Por lei, os conselhos são obrigados a registrar quem fez um curso reconhecido pelo MEC.

"Entre o enfermeiro e o paciente não há intermediários. Temos preocupações sobre erros desses profissionais, que provavelmente não terão a mesma qualidade na formação", afirma Doris Daia, conselheira do Cofen. "Outra questão é que o número de profissionais no mercado já extrapola a demanda. Não são necessárias formações EAD", argumenta. Na modalidade, o conselho é favorável somente a pós e especializações.

Thais Sousa, diretora de desenvolvimento de EAD da Universidade Anhanguera, não concorda com perda de qualidade nos cursos a distância da instituição, que não são 100% virtuais. Segundo ela, é oferecida toda a estrutura para atividades de laboratório e aprendizagem de procedimentos, como coleta de amostras e injeções, no caso da Enfermagem.

"Não é fácil como pensam. Temos aulas práticas duas vezes por semana", exemplifica. Para especialistas, softwares que simulam condições reais também devem ajudar nos treinamentos a distância na saúde. "Com os cursos online, esperamos atingir o público que está mais longe", prevê. Além do grupo Anhanguera, que passou a oferecer Enfermagem a distância em 2014, apenas outras quatro instituições no País – três particulares e uma pública – têm o curso EAD.


Disponível em http://www.estadao.com.br/noticias/vida,educacao-a-distancia-conquista-confianca-de-alunos-e-empregadores,1144568,0.htm. Acesso em 31 mar 2014.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Alunos que não entendem o enunciado

Sthefan Berwanger
24 de outubro de 2006, 16:46
Todo ano é a mesma coisa: grande parte dos alunos matriculados em cursos superiores de tecnologia ou no bacharelado apresenta problemas na interpretação de textos.

A situação é terrível e desanimadora: em um simples texto de três linhas não se consegue identificar o que é dado e o que está sendo pedido.

Logo que comecei a lecionar não acreditava no que estava acontecendo. Afinal, a palavra estava lá escrita, clara e imutável, e as orações continham todos os elementos essenciais na ordem correta: sujeitos, verbos e predicados.

Em princípio pensei em duas hipóteses: ou era implicância dos alunos com a minha pessoa, ou os textos apresentados eram herméticos demais, sobretudo para turmas de primeiro ano.

O universo de alunos a que me refiro é composto em grande parte por jovens recém saídos do ensino médio, com idade entre 17 e 21 anos, e por uma parcela um pouco menor que tem entre 22 e 29 anos. Não é raro turmas com alunos já na faixa dos 30 ou 40 anos — e neste pequeno grupo o desempenho interpretativo é um pouco melhor, mas ainda assim segue abaixo do esperado.

Tem que entender o texto

O estudante que obtém diploma em um curso superior de tecnologia precisa, entre outras habilidades e competências, saber criar soluções adequadas aos inúmeros problemas inerentes à sua atividade profissional.

Para que esse processo ocorra satisfatoriamente, ele precisa primeiro entender o problema que quase sempre vem documentado na forma escrita. Precisa extrair as informações de que necessita e refletir sobre os caminhos que o levarão à solução.

A ditadura

Como docente, nunca havia questionado a origem desta dificuldade, até o dia em que li a entrevista do psicólogo Carlos Perktold (1) que trata justamente da dificuldade da geração pós 1964 em entender o que lê. Segundo o artigo, este fenômeno não ocorre exclusivamente na população com baixa escolaridade, não é catalogável como doença e nem é uma característica de pessoas com déficit intelectual; é sim um fenômeno intelectual de toda uma geração.

O argumento principal dado na entrevista é que após o golpe militar de 1964 houve uma castração cultural e política da geração nascida após esse período, capaz de causar um desestímulo ao hábito da leitura e por conseqüência prejudicar a capacidade crítica.

Disciplinas como Filosofia e Sociologia foram retiradas do currículo do antigo ensino clássico, atual ensino médio, porque o regime não estaria interessado na formação de pessoas capazes de analisar idéias, refletir sobre os conceitos sociais e atuar politicamente.

A televisão

Foi também a partir desse período, com o barateamento dos aparelhos, que a televisão ampliou sua participação dentro da população brasileira. O processo de expansão, que resultou na televisão como meio de comunicação de massa, se estendeu pelas décadas seguintes, com as transmissões via satélite, a melhoria da qualidade técnica e de conteúdo e a maior variedade de programas.

Desta forma, os recursos audiovisuais tomaram o lugar do texto escrito e surge então uma geração que entende o que ouve, mas não o que lê. Pode-se argumentar que o rádio também poderia ter o mesmo efeito que a televisão, mas segundo Perktold, o rádio pelo fato de não carregar a imagem, estimula o ouvinte a imaginar, fantasiar e pensar.

O que o docente pode fazer?

Então como contornar o problema? Infelizmente não é possível reverter o cenário em apenas um semestre, sobretudo pelo esforço de apenas um professor. É preciso lembrar que os educandos se submeteram, ano após ano, à mesma rotina de exposição exagerada à televisão e ausência de (boa) leitura e cultura em geral. Tentar obrigá-los a engolir textos e mais textos e a formar uma opinião crítica pode ser uma violência, com todas as suas consequências.

O que costumo fazer é explicar o mesmo exercício várias vezes, sob vários ângulos, fazer comparações e criar metáforas e analogias que tenham a ver com o universo concreto deles.

Muitas vezes dou sugestões de leitura online e off-line, indico bibliotecas públicas e também estimulo visitas a eventos culturais gratuitos, pois uma grande parte dos alunos é financeiramente carente e depende de bolsa de estudos.

Outra solução adotada é criar pequenos enunciados matemáticos com o objetivo específico de treiná-los na identificação do que é dado, e do que é pedido.

Algo bem simples, como por exemplo:

Dada a equação z = x + y. Sabendo que x vale 4 e y vale 7, quanto vale z?

A internet

Falando um pouco do presente, com vistas ao futuro, está em curso uma mudança importante: o surgimento da mídia digital que gradativamente vem tomando o espaço da televisão.

A sua principal característica é a descentralização da audiência e a produção de mídia para públicos específicos. Com essa mudança de modelo em curso, seria interessante observar como a geração nascida durante a revolução tecnológica irá aprender e se comportar criticamente nesse meio, que oferece um número gigantesco de opções a respeito do que se quer ver, ler ou ouvir. 

Referência bibliográfica
(1) PERKTOLD, C. Assisto, logo existo. Revista Carta Capital, 7jul. 2004, n. 298, p.28-29.

Disponível em http://webinsider.com.br/2006/10/24/alunos-que-nao-entendem-o-enunciado/. Acesso em 10 set 2013.